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O Guia VICE para namorar miúdas ricas

Vai ser divertido, basta que percebas que ela só namora contigo para aborrecer os papás.

As miúdas ricas são boas porque têm mães boas, mas não regulam muito bem da mona porque têm pais sociopatas com fetiches nazis. Namorar uma miúda destas, ainda que durante um curto espaço de tempo, é uma estranha e excitante mistura de comprimidos, sestas, discussões malucas, música deprimente, serviço de quarto, terapia, tatuagens que custam mais do que alguns carros, jet lag e guestlists. Vai ser divertido! No entanto, tens de saber isto à partida: elas não vão andar contigo para sempre. As miúdas ricas estão geneticamente predispostas a reproduzir com outras pessoas ricas. Desde que percebas que nunca serás mais do que uma relação curta, um substituto para alguma coisa, já ganhaste. COMO CONHECÊ-LAS
É tudo uma questão de timing. Há uma altura na vida de qualquer miúda rica em que ela deixa de aceitar as semanadas do papá e começa simplesmente a roubar-lhe a pasta da carteira. É precisamente aqui que tens de atacar. Esta é a tua curta janela de oportunidade. Aproveita-a. O primeiro passo é identificar os bares e clubes que estas miúdas frequentam. Dica: um dos passatempos favoritos das miúdas ricas é sair e ver pessoas-ricas-que-fingem-que-são-pobres a tocar numa banda. Uma boa maneira de as encontrar é descobrir quem é que vai tocar na vossa cidade. Cruzem os dados na internet e tenham em conta os nomes da malta (Salvador, Guilherme, por aí). É aí que vão encontrar o X do vosso mapa do tesouro. COMO CONQUISTÁ-LAS
Não tens nada para oferecer a uma miúda rica a não ser o facto de teres menos dinheiro do que ela, por isso ostenta à vontade o teu estilo de vida humilde como se isso fosse uma escolha de vida alternativa. Tens de ser tipo o Basquiat ou o Di Caprio no Titanic. Usa luvas sem dedos para todo o lado, anda com os olhos semi-cerrados e diz coisas do género “eu conheço bué gente com dinheiro, mas de que é que isso lhes vale, meu?”. Claro que, de início, vai ser um pouco complicado não te partires a rir enquanto dizes estas cenas a outra pessoa, mas depois acabas por te habituar e tomas-lhe o jeito. Lembra-te apenas deste facto: todo o conceito de rebeldia de miúda rica é uma amálgama entre romances do Dickens e os tweets do James Franco. O equivalente urbano é igualmente potente: dorme mal de propósito para ganhar umas olheiras, diz que és um traficante meia-leca de coca, usa muita roupa da Stone Island e encarna todos os pesadelos dos pais dela. Pensa assim, na pior das hipóteses o pai vai tentar pagar-te para acabares o namoro com a filha. Se ele fizer mesmo isso, grita “eu não preciso do seu dinheiro!” e rouba-lhe o iPod. A CASA DELA
Sim, sim, o apartamento dela não é uma merda como o teu — vê lá se ultrapassas isso. A regra mais importante aqui é: NUNCA lhe perguntes quanto é que ela paga pelo apartamento. Eu sei que é divertido tentar perceber quantos anos de renda pagarias com um mês da dela (uns três), mas não o faças porque a) são os pais que lhe pagam a renda e ela nem sabe quanto é e b) tem calma, caralho! Tens de te comportar como se estivesses tão habituado a este tipo de luxo que nem sequer reparaste que as cortinas funcionam com um comando remoto. Cala-te e senta-te. Aproveita a TV por cabo da tua namorada. A EMPREGADA DELA
A não ser que sejas a pior pessoa do mundo, vais sentir-te realmente mal por namorar com uma miúda que tem empregada própria. Mas mal mesmo, mal tipo filho-de-um-fazendeiro-com-escravos mal. Vai apetecer-te lavar a louça e dizer coisas como “deixe estar, eu arrumo”. Mas sabes como é quando estás a ver um documentário da vida animal no Discovery e há um leão que desfaz uma gazela e depois o narrador diz “ainda que horrível aos nossos olhos, isto é completamente normal e necessário na natureza”? Pensa assim: a empregada cabo-verdiana de quem sentes pena vive numa casa maior do que a tua, ou seja, os arrumos da casa da tua namorada. A MAMÃ
Antes de mais, é bom que saibas que vais ter vontade de ir para a cama com a mãe dela. Isso acontece porque a mãe dela não vai ter NADA A VER com a tua mãe. E vai cheirar mesmo bem. Mas tem cuidado: ela vai perceber quem tu és assim que te vir. Vai pensar em ti como “uma fase”. Até é capaz de te contar aquela vez em que namorou com um punk motoqueiro “antes de conhecer o papá”, o que é só uma maneira simpática de dizer: “A Lili vai casar com o Sebastião. Os teus dias estão contados, palerma.” O PAPÁ
O pai é pior, claro. Ele é homem, entende as tuas necessidades nojentas porque vive com uma dieta de sexo anal graças às ucranianas que lhe aparecem no hotel. O outro grande problema é o nível de flirting entre miúdas ricas e os seus pais. É quase obsceno, vais sentir-te um bocado constrangido. Deixa lá, eles é que se deviam sentir mal. OS AMIGOS
Duas coisas. Número um: os teus amigos parecem os House of Pain ao lado dos amigos dela da escola. Número dois: ela não vai andar mais com os amigos da escola, vai andar com um colectivo de modelos nómadas, traficantes, gajos com uma guitarra, gajos com clubes, estrelas pré-adolescentes da pop alternativa e gajos velhos que conheceram o Joe Strummer. Vais odiar todos eles, mas os teus próprios amigos vão fazer de tudo para foder as modelos todas. Conta com isso. AS DROGAS
As miúdas ricas já consomem drogas desde os três anos de idade. Se achas que uma chavala de 16 anos não te bate nos copos, no pastilhanço, na cocada e nas outras cenas todas, enganas-te. O Heath Ledger, o John Belushi e o River Phoenix morreram todos, garanto-vos, a tentar acompanhar uma miúda rica. Se és uma pessoa normal e cresceste com erva de merda e vinho barato, não podes competir com alguém que se alimenta à base de neuroses, privilégios, muita pressão e aquelas pastilhas com sorrisos feitas de bebés chineses moídos. ATENÇÃO! Lembra-te de que bem lá no fundo elas querem ser apanhadas, por isso quando a tua namorada rica achar que mandar umas linhas em frente ao segurança do shopping é uma boa ideia, não te juntes à festa. A ela vão pagar a fiança, a ti não. SEXO
A primeira cena que deves saber, sexualmente falando, sobre miúdas ricas é que todas elas perderam a virgindade quando eram muito novas. Ou seja, são descompensadas. Elas começam a foder muito cedo porque querem ser modelos e estão rodeadas de otários com a moral corroída por Xanax contrafeito. Estas miúdas podem ser novas e bonitas, mas estão todas lixadas da cabeça. E isto quer dizer que vais ter de alinhar em orgias e aturá-la a andar pela rua só de sutiã enquanto conversa sobre literatura com aquele amigo sueco. Ah, e a propósito… A PUTA DA MANIA
Pois, também vais ter de aturar isto. E “isto” é a tua namorada rica a ler Knut Hamsun no terraço. E olha que ela conhece modelos masculinos, gajos desesperados por provar ao mundo que não são burros. A pior parte é que estas pessoas não mudam, por isso, boa sorte. CENAS POLÍTICAS
A certa altura da vossa relação, e apesar de ser bué boémia — apesar mesmo do seu projecto artístico subversivo —, vais perceber que ela é de direita. Tens de estar atento a opiniões inocentes que a denunciem. Do tipo “não vejo porque é que haveria de dar o meu dinheiro a outras pessoas” ou “o meu pai é amigo dos Duran Duran”. ISTO VAI DESTRUIR-TE
Sim, esta relação vai destruir-te por dentro. Nunca mais conseguirás tirar prazer de coisas simples como apanhar uma música fixe na rádio ou ir ao supermercado na hora em que o pão fresco está a sair. Podes não desistir da escola ou do trabalho, mas vais ficar tão cagativo para tudo que é provável que desistam de ti. Estás viciado numa cena bué cara? Ya. Já não te dás com nenhum dos teus amigos? Claro que sim! Começaste a usar casacos de ganga que custam cinco mil euros? EU FARIA O MESMO! A SEPARAÇÃO
Sabias, desde o primeiro dia, que isto ia acontecer, mas é tão difícil abdicar deste estilo de vida! Vais chorar e reclamar, talvez comeces até a dar no cavalo, mas não a vais conseguir convencer a ficar contigo. A estirpe dela não se importa muito com, tipo, pessoas. Deixa-me pôr as coisas desta maneira: a família dela compra terras, a tua trabalha-as. Deixa lá, meu. Agora já podes conhecer e namorar alguém que não tenha um armário só para chapéus de gala. Fotografia por Dana Boulos