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Jorge Matos

Presente e passado, com ou sem vasectomia

As memórias são para preservar.

Há coisas que gostamos de lembrar e outras que nem por isso. É bom lembrar aquele festival a que fomos, aquela gaja boa que comemos em Ibiza, aquela viagem a Marrocos em que perdemos a virgindade. E depois existem aquelas cenas que queremos esquecer: o acordar do coma no hospital depois da festa, o dia seguinte em Ibiza quando percebemos que a gaja era uma velha desdentada, ter de cagar bolotas para um penico ou o stress daquela vez sem preservativo quando passámos a considerar a vasectomia como uma opção viável.

Seja como for, as memórias são para preservar e o projecto Reimaginar Guimarães procura isso mesmo: fazer com que a memória fotográfica não se apague. Este projecto já vai no terceiro capítulo e no passado dia 7 inaugurou a exposição Rever a Cidade de Inês d'Orey e de Carlos Lobo, patente, até ao dia 7 de Outubro, no CAAA, ou seja, no Centro para as Artes e Arquitectura, em Guimarães. A ideia, segundo Carlos Lobo, é partir de um leque de imagens do espólio da Muralha, selecionadas por Eduardo Brito, comissário da exposição, e procurar mostrar uma perspectiva fotográfica actual do que esses espaços são hoje. Trocando por miúdos: é a mesma coisa que comparar a Marlene Dietrich com a Irina Shayk ou os Guns n’ Roses com os Evols, grupo com quem Carlos Lobo tem trabalhado e que tem fotografado, mas abordando a situação de uma forma bem mais simples, sem essa cena muito foleira das cartolas. Aliás, o trabalho destes fotógrafos não se baseia propriamente na revisitação. Querem coisas novas, procuram o desafio, interessa-lhes mais a modernidade e nesta exposição não existe o cliché. Ainda segundo o fotografo, só este ano Guimarães começou a ser fotografado por artistas contemporâneos e a exposição Rever a Cidade não foge a essa vontade de novas abordagens na fotografia. São as nossas memórias, mas vistas por quem gosta de rock e não de música clássica, com o passado e o presente lado a lado. Enfim, aquela coisa de que já falámos, antes ou depois de perder a virgindade. É disto que estas fotos falam. Um antes e um depois, uma Guimarães como aquelas fotos antigas dos nossos avós e uma perspectiva actual. Se conseguirem pensar que esta exposição pode ser como ter a Marlene Dietrich ao lado da Irina Shayk, nunca mais a palavra vasectomia vos virá à cabeça.