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Música

Rio Parada Funk 2015: O Maior Baile Funk do Mundo Foi Bem de Rua

No último domingo (13), os sistemas de som do funk carioca colocaram seus paredões na rua e a quinta edição do RPF ferveu mesmo debaixo de chuva.
Matias Maxx

Na quinta-edição do maior baile funk a céu aberto do mundo, o Rio Parada Funk voltou às ruas da capital carioca e se dividiu em três grandes palcos: na Praça Tiradentes, no Largo da Carioca e no Largo São Francisco. No último domingo (13), a chuva e o frio marcaram o início do rolê — o tempo/clima meio bosta assustou um pouco o público, mas não desanimou. E o fator bem-de-rua nem de longe foi um problema. Estava mais com cara de solução.

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Todas as fotos por Matias Maxx.

Você, leitor do THUMP, sabe que a edição do ano passado aconteceu no Sambódromo. Porém, depois de testes na passarela do samba realizados para as Olimpíadas de 2016, o RPF foi parar bem no meio da rua, para onde as equipes de som levaram seus paredões sonoros. Dessa vez, houve uma organização de shows. Ao invés das equipes tocarem juntas durante a tarde inteira (e virar aquela babilônia sonora), neste ano os artistas se revezaram entre os palcos. Assim, os paredões de som ficavam lado a lado, mas só uma equipe tocava por vez.

Sobre o rolê voltar para rua, Matheus Aragão, 34, um dos organizadores do RPF disse que "não tem diferença, o evento sempre dá muito trabalho, mas no sambódromo é mais preparado para esse tipo de evento", comenta. "Aqui na rua, tivemos que pedir dezenas de autorizações, mas no final deu certo". Além da burocracia da festa de rua, outro ponto foi uma considerável diminuição de marcas apoiadoras do RPF. "As marcas gostam de ver o funk nas propagandas, mas na hora apoiar, ninguém apoia", diz Matheus que completa: "Só a Prefeitura que ajuda, mas ainda falta mais apoio".

Ainda assim, a questão maior é que o público gostou. Isso sem falar que tudo aconteceu na santa paz da normalidade, dava pra andar entre os palcos com calma e segurança, até porque as ruas estavam fechadas. Era quase uma virada cultural do funk.

No largo da Carioca, público jovem e som feito por jovens.Lá, ninguém parou de dançar até o fim. Com chuva ou sem chuva, muita gente feliz e chavosa apareceu para curtir a festa. A polícia também esteve presente: Guarda Municipal, Polícia Militar e até a Cavalaria. Mas todos de boas, nada de confrontos.

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Já na praça Tiradentes, muita nostalgia. Julio Salvador , 37, colou com a esposa e seus três filhos. Muito saudoso ao ver as equipes de som das antigas, disse que levou a família por ser um lugar seguro para curtir o baile funk: "Gosto de vir aqui porque não tem briga nem confusão", disse. Julio passou a tarde na praça, e lembrou de muita música boa ao dizer que "não vou mais ao baile funk porque as músicas novas não me agradam, prefiro as velhas".

A divisão do funk 'bons tempos' com o novo som do gênero ficou ficou bem clara na programação. Diversos DJs se apresentaram na Praça Tiradentes com vinis, por exemplo. Algumas equipes, inclusive, também lembraram os hinos do funk e arriscaram alguns bailes de corredor, sempre alertando os mais eufóricos com a mensagem: "Não vamos estragar a festa". O pessoal colaborou.

As montagens ao vivo e o tamborzão, é claro, também estiveram presentes. Os produtores vão contra a tendência de 'menos é mais' e cada vez trabalham em batidas que ficam maiorers e com mais elementos, como no sucesso "Os Cachorrão Chegou". Até o parceiro DJ Sydney preferiu tocar alguns clássicos do funk na sua apresentação com o tradicional carro de som da Equipe Apavoramento.

Apavoramento Sistema de Som.

Na ala feminina do rolê, DJ Grazy segue rainha como a única DJ mulher do evento há cinco anos (é preciso dizer que MCs são muitas). E apesar das dificuldades que enfrenta no ramo, Grazy contou que segue firme na carreira: "É difícil por ser mulher, tocar funk…O preconceito ainda é muito grande". A funkeira, que completou 15 anos de carreira nesse ano e apoia a profissionalização das garotas na cena, lembra: " A mulher pode fazer tudo que o homem faz, até melhor! O que a mulher precisa é seguir em frente, estudar, fazer curso, enfim, se aprimorar". A DJ, por sua vez, dá exemplo e garante que já conquistou seu espaço e respeito, e lembra das suas raízes ao dizer que começou por influência da MC Cacau, primeira MC mulher no funk.

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Claro que não podia faltar os bondes com uma galera dançando, competindo entre si em confrontos de boíssima, inclusive alguns bondes compostos só de meninas.

Para não esticar muito o chiclete, a quinta edição do Rio Parada Funk foi uma festa. Uma celebração da cultura funk que sobrevive há tantos anos mesmo com tantos problemas. MC Smith cantou alguns dos seus proibidões como forma de lembrar o que foi passado. Smith inclusive aproveitou e fez questão de falar dos problemas atuais: "Deixei o proibidão de lado, hoje sou mais musical. Só cantei alguns pra lembrar, mas quero avisar o público sobre os problemas que o país passa com os políticos", diz o MC. "O proibidão não vai voltar, mas o gênero foi eternizado por representar a favela".

Das quatro edições que fui, percebi que esta foi das melhores, tanto no quesito música, quanto organização das equipes. Nas edições de rua o povo se solta mais e fica mais feliz, é a máxima do bem de rua. A promessa é que ano que vem tem de novo (aliás, virou data oficial do calendário do Rio de Janeiro) — e deve rolar de novo na rua. Já vou preparar meu saco de gelo pra curtir de novo.

Veja mais da maravilha que foi o Rio Parada Funk deste ano:

Matias Maxx e Renato Martins, a equipe bem de rua do THUMP.

Renato não aguentou e tietou o Catra. Tá certo.