Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Motherboard.Ao longo do livro, Moskowitz mistura relatos de residentes com estudos académicos e comentários pessoais sobre políticas municipais. O autor cria um panorama envolvente da inter-relação entre pequenas e grandes reformulações do ambiente urbano, sempre com um esquema subjacente de diminuição de gastos públicos e deslocamento de comunidades desfavorecidas em prol de interesses corporativos e rendimento de capital privado.O livro partiu da própria experiência de Moskowitz, que deixou a sua cidade natal, Nova Iorque, e quando regressou, encontrou o bairro de sua infância, West Village, repleto de novos moradores, ricos, pouco acessíveis e até mesmo hostis para com pessoas como ele. "Mudei-me para Queens, depois Brooklyn, bairros onde os moradores me lançavam o mesmo olhar de desconfiança que eu lançara aos novos habitantes de West Village", conta-me Moskowitz ao telefone. "Isso fez-me reflectir sobre a maneira como as camadas de poder funcionam numa cidade: em determinado bairro pude ver um lado da moeda, ao passo que, num bairro diferente, vivi o outro lado".As histórias que Moskowitz conta são marcadas por excessos e, volta e meia, envolvem questões de raça e género: o gay latino que foi afastado de Mission District, bairro em São Francisco, rumo a Concord, cidade mais conservadora, ou a mulher negra de Nova Orleães a penar para conseguir emprego, enquanto as instituições de reconstrução da cidade pós-Katrina empregam jovens brancos de outras cidades, recém-formados. Mais elucidativas ainda são as histórias de assembleias municipais, planos de loteamento e esquemas de investimento que abrem alas para a gentrificação, muitas vezes de forma declarada."A lição mais surpreendente que aprendi enquanto escrevia o livro, foi ver como os políticos levantaram bandeiras pró-gentrificação sem o menor pudor, especialmente em Nova Orleães e Detroit", diz Moskowitz. E acrescenta: "Um magnata de Detroit, braço direito do governo municipal no crescimento económico, chegou a dizer: 'por favor, gentrifiquem mais, precisamos mais disto'. Eu diria que pareceria uma teoria da conspiração, não fosse pelo facto de ser absolutamente verdade".
Segue a VICE Portugal no Facebook, no Twitter e no Instagram.Vê mais vídeos, documentários e reportagens em VICE VÍDEO.
Isto acima é o que diz o jornalista Peter Moskowitz no livro How To Kill A City, sobre a gentrificação nos Estados Unidos. Publicada no início de Março [ainda sem edição em português], a obra é uma análise de quatro cidades - Nova Iorque, Detroit, São Francisco e Nova Orleães - em processo de gentrificação generalizada."Quem aprende sobre gentrificação por artigos de jornais vê o processo como nada mais do que a explosão da vontade em massa de abrir lojinhas charmosas, deixar o bigode crescer e comprar vinis. Mas esses são sintomas da gentrificação e não as causas".
Publicidade
Publicidade
Um dos objectivos do livro, segundo Moskowitz, passa por tentar redireccionar o debate sobre habitação nos Estados Unidos e noutros lugares do Mundo onde medidas de controlo de arrendamentos e movimentos pró-ocupações são mais comuns. Com efeito, o autor define a gentrificação como uma potente força sistémica e fecha o livro a descrever diversas tácticas de resistência e a delinear estratégias políticas em prol de um futuro menos gentrificado."Sinto-me optimista quando encontro activistas que trabalham na área há bastante tempo", salienta o autor. E conclui: "Gentrificação até pode ser um termo novo, mas a desigualdade na habitação já existe há séculos. As pessoas têm vindo a criar tácticas inventivas para combater esses sistemas há bastante tempo e isso deixa-me confiante. Resta ver se conseguiremos motivar as pessoas que ainda não meteram a mão na massa".O livro How To Kill A City, da editora americana Nation Books/Perseus/Hachette, já está à venda."Gentrificação até pode ser um termo novo, mas a desigualdade na habitação já existe há séculos".
Segue a VICE Portugal no Facebook, no Twitter e no Instagram.Vê mais vídeos, documentários e reportagens em VICE VÍDEO.