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Música

Como Ser um Mestre do Dubplate

Os sócios da Bandulu Records fizeram esse passo a passo para você se tornar o pika das galáxias na discotecagem de vinil ostentação
Chris Colouryum

A galera da The Bandulu Records, composta pelos DJs/produtores Kahn & Neek, Hi5Ghost e o Boofy, tem feito e tocado alguns dos melhores e mais empolgantes exemplares de bass music que vimos por aí. Obviamente, foi por isso que eu chamei essa rapeize que que mora em Bristol, na Inglaterra, para serem os convidados especiais na minha festa, a Chaos Clan. Depois de ter passado quatro dias na Croácia curtindo a programação totalmente voltada para o bass do Outlook Festival, posso garantir que não sou a única que acha essa galera foda — eles tocaram sete sets e arregaçaram em todos eles, desde uma festa num barco da Bandulu (que teve seus ingressos esgotados) e com participação especial dos lendários MCs Flowdan, Killa P e Stormzy até um set de reggae do Mungo's Hi-Fi Soundsystem sob o seu pseudônimo treta Gorgon Sound.

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Joseph "Kahn" McGann, de 26 anos, e Sam "Neek" Barrett, de 27, se conheceram por volta dos 16, quando o Joe resolveu se apropriar dos decks na festa do Sam e começou a tocar uns breakcore pesadões, consequentemente esvaziando a pista de dança de um clube minúsculo em Bristol chamado Cosies. Isso poderia ter dado muito errado, mas em vez disso eles se tornaram amigos rapidamente, se unindo graças ao amor pela estética punk do grime das antigas e o baixo pesado e inspirado no reggae do dubstep. Depois de alguns lançamentos pela label Peverelist's Punch Drunk — e algumas dicas de produção das lendas locais, como o Pinch e Joker — eles começaram a ter uma forte presença na cena em 2012, graças ao "Dread", o lançamento arrebatador do Kahn pela gravadora Deep Midi, do Mala, que definiu o dubstep enquanto gênero, e também "Percy", uma faixa de grime ponta firme que lançou sua label Bandulu Records

Nos últimos anos, a dupla manteve sob suas asas os novatos Courtney "Hi5Ghost" Beckford, um jovem de 24 anos idade e ex-MC nas festas SureSkank do Neek, além de Boofy, de 22 anos. Juntos, eles são invencíveis quando o assunto é preencher as lacunas entre dubstep, os ritmos mais pesados do grime e a cultura Reino Unido-via-Jamaica a qual esses dois gêneros devem um bocado. Afinal, está no sangue dos caras: o tio do Hi5 é integrante do lendário trio de trip-hop Smith & Mighty e todos os quatro da Bandalu mencionam ter frequentado o Carnaval de St. Paul —a versão adaptada de Bristol do carnaval de Notting Hill — quando crianças como uma espécie de inspiração musical.

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A galera da Bandulu não disponibiliza uma porrada de faixas, mas as que eles resolvem lançar costumam ser épicas. Quase todas as músicas são dubplates (trechos de faixas em acetato ou vinil, bem antes de serem divulgadas ao público), especiais (versões exclusivas de faixas que incluem os nomes dos DJs e letras especiais), ou VIPs (versões de músicas que só eles têm). Na era da discotecagem digital e mp3 descartáveis, isso é de fato muito raro. Leva muito tempo e esforço para chegar a este patamar, e é por isso que pedimos a esses caras umas dicas para quem está afim de zerar o dubplate.

1. Seja fiel ao vinil

Kahn: Quando você está decidido a fazer um lançamento em vinil de verdade ou editar um dubplate, você precisa realmente acreditar na música. Isso mostra um alto nível de dedicação. É meio que um espectro, saca? Pode ser difícil lançar um vinil, mas se não for assim, as chances de a sua música se perder nessa quantidade absurda de dados, ou até mesmo no Soundcloud, é enorme. Não estou muito interessado em fazer parte dessa cultura descartável da música digital — esse tipo de coisa não parece relevante para mim.

2. Encontre uma boa casa de edição

Neek: Eu costumava editar dubs há muito tempo na Transition, em Londres, até que ouvi dizer que tinha um cara em Bristol fazendo essas paradas e comecei a conversar com ele. Coincidentemente, ele editava em cima de um pub perto da casa da minha mãe. Resolvi ir até lá, e foi assim que fiz um link com o Henry do The Heatwave. Volta e meia, editava alguns materiais com ele, até que decidimos usá-lo de forma exclusiva. Sempre consegui dubs com uma boa qualidade de som, mas sei que algumas pessoas que já tiveram experiências ruins.

3. Priorize a qualidade do som

Boofy: "Em Bristol, você meio que sabe que a música que está fazendo será tocada em um sistema de som massa", Boofy explica. "Então você faz questão de criar umas faixas pesadonas". Certifique-se que o mesmo pode funcionar na sua cidade."

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4. Faixas que levam a galera à loucura

Kahn: Exatamente agora, a minha favorita é a "Top A Top", com o Teddy Bruckshot, Lady Chann e Killa P. É uma faixa do Sir Spyro, e toda vez que toco ela, a galera pira.

Hi5: Tenho uma versão VIP da "3Klane", do Joker and Jakes.

Neek: A minha também é do Spyro: "Side By Side", com o Big H, Bossman Birdie, e President T. Ele gravou um especial pra gente, no qual grita o meu nome e do Joe, que ficou muito massa. Sempre pedem bis.

A galera do The Bandulu (Crédito: Chris Colouryum)

5. Crie laços no mundo real — nem tudo se constrói no virtual

Kahn: Quando não existia Facebook e mensagens diretas no Twitter, você não tinha como mandar mensagem para várias pessoas ao mesmo tempo. Você tinha que sair para dançar e conhecer pessoas.

Neek: Leva um tempo para você criar laços e conhecer pessoas que podem te introduzir a outros artistas. Obviamente, quando se trata de artistas que moram na Jamaica, não podemos simplesmente bater na porta deles e dizer, "Tem como a gente descolar isso aqui?", então você precisa conhecer alguém que tenha contato com eles. Para o Gorgon Sound, o nosso link é um cara suíço da OBF Soundsystem. Eles geralmente estão editando dub para o seu próprio soundsystem e nos perguntam se queremos alguma coisa — tipo, "E aí! O fulaninho de tal estará no estúdio nas próximas horas, nos avise se quiser um vocal". E aí damos o nosso jeito de enviar uma graninha e fazer acontecer. Mas você precisa criar laços com as pessoas. Eles precisam acreditar que você está fazendo a coisa certa.

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Algumas pessoas não querem ser contatadas pelo Twitter para fazer um especial. Tem mais chances de rolar se você tiver o e-mail delas e uma relação mais pessoal. Ah, e eu também jamais chamaria uma pessoa para fazer um especial de graça. Afinal, isso é tipo pedir para uma pessoa trabalhar no seu lugar. Isso é trabalho. É como se alguém que você não conhece te pedisse para discotecar de graça. Não chegue no rolê impondo nada. Todo mundo conhece "aquele cara" que fica atrás da galera tentando convencê-los a fazer umas paradas pra ele em troca de alguma coisa, e você não quer ser esse cara.

6. Certifique-se de que você tem permissão para tocar o que você toca

Boofy: Um dos meus dubs favoritos é um mix VIP da faixa "Fuck Mountain", do Commodo. Ele é um cara legal, mas ficou tipo, "Boofy, você sabe que não teria galho nenhum te ceder qualquer música minha, mas você precisa pedir permissão pro Dan se não ele vai surtar". O Dan, que comanda a Hotline Records, sumiu com a original do mapa. Felizmente, Dan é meu amigo e achou de boa eu editar o som, mas se eu não tivesse pedido permissão e ele descobrisse [que eu estava usando a música sem sua permissão], teria ficado puto da cara. Agora sou uma das únicas pessoas que têm essa faixa, e acho que não teve uma vez sequer que toquei e não rolou bis.

7. Saiba distinguir acetato de vinil

Neek: Quando editava na Transition, eles só faziam dubs em acetato, e a forma como mixávamos com grime… Eu estava esgotando o início das faixas rápido demais. Foi aí que encontrei o Henry, e ele editava dubs em vinil. Eles são editados como os de acetato, mas feitos do mesmo material que os discos. Gosto de trabalhar com porque duram mais tempo. Duplates não demoram muito para ficar desgastados, mas eu não me importo com os estalos — acho que fazem parte do rolê. Mesmo que você compre um disco novinho em folha, é capaz que role uns estalos de vez em quando.

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8. Cuidado com líquidos

Hi5Ghost: Uma vez alguém derramou uma porrada de suco na minha mala de discos e eu tive que passar o dia inteiro no estúdio limpando disco por disco com lenço umedecido e limpador de vinil.

Neek: Para mim, a pior experiência foi com um pint de Guinness. E o pior é que a bebida nem era minha. Vi uma pessoa colocando o copo perto da minha mala de discos e pensei "isso não vai dar certo", mas não pude fazer nada.

9. Pague suas dívidas

Kahn: Assim que as pessoas se ligam que mandamos bem no dubplate, é quando começamos a descolar umas faixas especiais de vários produtores. Não é por isso que estamos nesse rolê, mas as pessoas levam mais a sério quando veem que você é empenhado e compreende a cultura

10. Apoie a cena

Kahn: Em Bristol, são apenas 20 ou 30 pessoas que fazem o negócio ir para frente — promoters, DJs e labels. Se você tirasse todas essas pessoas de Bristol, não haveria uma cena e ninguém estaria nem aí. As pessoas são o fator mais importante, e você precisa investir nisso. Editar dubplates e lançar vinis me deixa mais próximo e conectado com essa cultura. Ao controlar nossa produção com vinil, podemos de fato realimentar a cultura: apoiando as lojas de discos dos nossos amigos, investindo dinheiro para fazer mais discos, além de ser também nosso ganha pão. Lojas de discos são um ponto de encontro tão importante para as pessoas… Você fica em contato com coisas que não fazia a menor ideia que existiam — e isso não tem preço.

A Star Eyes é DJ, louca por baixo e ex-editora chefe do THUMP. Você pode segui-la no Twitter.

Tradução: Stefania Cannone