30 segundos descobrindo diferentes essências
Foto por Guilherme Santana

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AVON Femme

30 segundos descobrindo diferentes essências

Pluralidade, bandeira trans e luta contra a objetificação da mulher. Há várias barreiras sendo quebradas na campanha da nova fragrância da Avon, 'Femme'

A real é que essa cena poderia estar, bem de boa, num clipe da Beyoncé ou da Rihanna. Ela é pop, classudona, ela é bonita demais. A câmera, num cenário lúdico, vem se aproximando de uma mulher de uma beleza impossível de identificar a origem enquanto ela se perfuma. Depois de cheirosa, seu belo rosto começa a se transformar em tantos outros, cheios de vida e emoções; e ganha ainda texturas, cenários e a bandeira azul, branca e rosa do orgulho trans. A imagem, que pode parecer um sonho, só foi possível com o auxílio do mapping, aquela ferramenta que foi extremamente comentada por causa da abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro. "Esse é um caso típico da tecnologia a serviço de uma ideia. Ela foi um meio e não uma finalidade", explica Luciana Cardoso, que ao lado de Danilo Janjacomo, assinou a direção criativa. "A gente já tinha visto algumas coisas de mapping, projeções no corpo, mas sempre num ambiente muito tecnológico", comenta Janjacomo.

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Este é o comercial da nova fragrância da Avon, Femme, que busca enaltecer a pluralidade feminina e aumenta o nível do game em propagandas deste tipo. É a primeira vez que o mapping é usado em um comercial da categoria no Brasil. Sua estreia nacional é no dia 12 de setembro e é uma aposta da marca para trazer este tipo de material para um público mais abrangente, o da TV aberta.

O flerte do mundo da perfumaria e dos cosméticos com o tecnológico não é uma grande novidade. Luciana explica. "A categoria beleza é muito calcada em tecnologia. Pra você encontrar novos produtos, benefícios melhores, fragrâncias melhores, fixação, você recorre à esses recurso. Então, a gente quis justamente juntar o avanço tecnológico com o lado sensorial do perfume". "Essas ferramentas são muito populares para jogos, algumas usam celular, outras, como a nossa, usam censores. Essa ferramenta head tracker já existe bastante, a aplicação que muda", comenta Lucca Del Carlo, responsável pela projeção e do body projection. Quem completa a dupla responsável pela tecnologia é Caleb Mascarenhas, que fez a programação, projetou os sensores e, nas horas vagas, é músico do Lavoura. Ele fala um pouco mais sobre o Arduino — plataforma utilizada para este processo. "É uma placa usada por artistas do mundo todo em projetos de interatividade, instalações de arte, robótica. É muito comum em arte-tecnologia. Hoje ele é uma peça-chave aqui."

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Responsável pelos desenhos projetados no rosto da modelo, Luiz Adriano, sócio-diretor da CLAN vfx, explica, da maneira mais simples possível, o que foi feito neste comercial. "Acho que a melhor forma de explicar e dizer que a gente vai usar o rosto dela como uma tela de cinema e vai projetar nela imagens que estamos produzindo no computador. Em vez de estarmos assistindo este filme na tela de celular, computador, televisão ou cinema, nós vamos assistir em seu rosto". E finaliza. "O rosto dela tá virando um canvas, uma tela, isso que é o mais bonito."

A campanha da nova fragrância da Avon, Femme, é também uma aventura em meio a três universos que caminham próximos, mas muitas vezes não se cruzam: a arte, a tecnologia e a publicidade. Sobre essa junção de mundos Luiz Adriano comenta. "A tecnologia só mudou a ferramenta, a arte continua sendo manual. Querendo ou não ela ainda é muito manual. A diferença é que em vez de usar uma caneta num papel, você usa uma caneta num tablet, a gente tá pintando igual, mas a mídia é diferente, não é carvão, óleo, acrílico."

Dá para dizer seguramente que este comercial, uma peça aparentemente simples de 30 segundos, quebra inúmeras barreiras. Duas delas podemos chamar de Brendo Garcia e Adriano Gonfiantini, que dividem a direção de cena e de fotografia. O casal está na terceira campanha para a Avon e comenta. "Se você for ver como o cinema mesmo, que é uma das profissões mais machistas que existem, são poucas diretoras e pouquíssimos gays, uma dupla, um casal, é raríssimo", explica Brendo, o mais falante dos diretores.

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E para representar esta pluralidade feminina, a escolhida foi Samara Donda, de Jundiaí, no interior de São Paulo. Comemorando os 23 anos durante as gravações, a modelo cumpre o papel de emprestar seu rosto para outras mulheres. Ela explica seu rosto peculiar e extremamente belo. "As pessoas pensam que eu sou japonesa, morei bastante tempo fora do Brasil e achavam que eu era russa. Brasileira é a última coisa que imaginam."

Os diretores criativos, os diretores de cena e de arte, assim como toda a equipe ficam surpresos quando outros rostos tomam conta da cara de Samara. Flores iluminam suas bochechas, borboletas voam em sua face, rendas delicadas desenham o seu semblante. Belo, sutil e plural, o comercial cumpre sua missão e deixa um recado: é possível fazer algo bonito e inovador sem subestimar quem assiste.

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