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​Tudo que sabemos sobre o caso de agressão e abuso sexual envolvendo o deputado federal Marco Feliciano

A militante evangélica que denunciou a agressão e tentativa de estupro cometida pelo deputado voltou atrás e desmente as acusações publicadas na imprensa.

Crédito: Jose Cruz/Agência Brasil.

Esta reportagem foi atualizada às 11:25 no dia 8 de agosto.

Desde o dia 24 de julho, quando a Coluna Esplanada do UOL denunciou um caso grave de abuso, envolvendo o deputado federal Marco Feliciano (terceiro mais votado no estado de São Paulo e quarto no país) e Patrícia Lelis, militante evangélica e youtuber conhecida, uma série de fatos macabros se desenrolaram.

No mesmo dia da publicação da nota — que ainda não citava o nome do deputado — a militante buscou o editor do UOL pedindo ajuda sobre o caso. Até o dia 1º de agosto, uma série de reuniões foram realizadas para entrega de provas, enquanto a denúncia era apurada.

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No dia 2 de agosto, uma reportagem com mais apurações foi publicada na mesmo Coluna Esplanada. O blog relata que Patrícia declarou ter sofrido uma tentativa de estupro dentro do apartamento funcional do político, em Brasília, além de ter levado um soco na boca desferido pelo pastor Feliciano. Segundo ela, o deputado a chamou para sua casa com a desculpa que haveria uma reunião da UNE, o que se revelou uma fachada para Feliciano agir.

O blog afirma também que a jovem diz que Feliciano teria se aproximado com a desculpa de se tornar o seu guia espiritual e assim se tornaram amigos. No dia 15 de junho, Feliciano a convidou para o seu apartamento funcional na quadra 302 Norte na capital federal, onde a teria atacado sexualmente e a agredido. Segundo a vítima, uma vizinha chegou a bater na porta alegando ter ouvido gritos de socorro.

Antes de a vizinha aparecer, Lelis conta que o deputado lhe deu um soco na boca e a arrastou pelo braço até a suíte do apartamento. Segundo ela, Feliciano se exaltou quando ela negou ser sua amante em troca de um cargo comissionado no PSC e um alto salário. Tentou beijá-la depois do soco e ela, com medo, deixou-se levar até a suíte onde "defendeu sua dignidade".

Após o abuso, Patrícia entregou uma série de prints para os repórteres do UOL mostrando conversas de WhatsApp nas quais o deputado insistia em vê-la novamente. Ela reclamava da boca roxa. "Passa um batom por cima", sugeriu o deputado.

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Segundo o UOL, a jovem foi impedida de prestar queixa em Brasília e voltou para São Paulo acompanhada de um homem ligado a Feliciano no dia 30 de julho. Ela também teria sido abordada por diversas pessoas ligadas ao PSC e recebido ameaças para não levar a denúncia adiante. Nomes importantes do PSC supostamente a mandaram "sumir", e ela também diz que procurou diversos pastores evangélicos, que falharam em ajuda-la.

O UOL afirma que ela também recebeu a ligação de um homem que, depois de se apresentar como funcionário da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), perguntou quem a auxiliava. O homem foi desmascarado após os repórteres da Coluna Esplanada entrarem em contato com a associação da agência. A página do Facebook da jovem também saiu no ar, coincidindo com um suposto alerta dos assessores de Feliciano dado a ela.

De sábado (30) até a madrugada de terça (2), Patrícia desapareceu repentinamente, alegando que precisava de um tempo. Voltou para São Paulo e reapareceu sendo assessorada por um jornalista chamado Emerson Biazon. Um ex-professor da jovem, Hugo Studart, fez um post do Facebook denunciando o caso, citando as iniciais da jovem e o nome de Feliciano. O post foi apagado pelo professor após o canal da youtuber voltar ao ar, no qual ela publicou um vídeo desmentindo o caso e tecendo comentários elogiosos ao deputado federal, além de chamar o professor de mentiroso. Segundo o UOL, o mesmo professor diz que nunca postou nada no seu Facebook sobre o caso. Confrontada pelos jornalistas, a jovem retirou o vídeo do ar.

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Na última quarta (3), um dia após Patrícia — agora, de acordo com o UOL, assessorada pelo chefe de gabinete do deputado — gravar vídeos contra o jornalista que realizou a reportagem, dizendo que "denúncia é coisa de esquerda", o UOL publicou um áudio de pouco menos de 30 minutos de uma conversa entre ela e o chefe de gabinete de Feliciano, Talma Bauer, em um café.

Embora Talma alegue que não chegou a se encontrar com a jovem em nenhum momento, no áudio da conversa ela conta detalhes ao chefe de gabinete sobre o abuso e afirma que está se sentindo prejudicada, já que o deputado contou mentiras aos filiados do PSC. O chefe de gabinete diz que a voz do áudio não é dele.

No áudio, a militante também aconselha o deputado "guardar o pintinho dele" e especula que provavelmente não foi a "primeira nem a última" [vez que ocorreu um abuso]. Durante a conversa, fica exposto que ela estava se alinhando após muitas insistências com o chefe de gabinete e negociando para não denunciar Feliciano à polícia. Talma promete acesso livre ao PSC e que ele mesmo se encarregaria de que não contassem mentiras sobre ela dentro do partido.

A Coluna Esplanada publicou nessa quinta-feira (4) que os repórteres chegaram a entrevistar a mãe da youtuber que disse que encontrou a filha chorando no banheiro da faculdade com ferimentos nas pernas e na boca. Patr´cia também ligou para a mãe de São Paulo pedindo uma conta para depósito "mas que fosse no CNPJ", o depósito, segundo a mãe, nunca foi realizado. Após a militante evangélica publicar diversos vídeos e estar desmentindo a história nas redes sociais, foi a vez da mãe também relatar que os ferimentos da filha não passaram de um acidente.

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O deputado federal Marco Feliciano chegou a ser pré-candidato do PSC para a prefeitura de São Paulo. A candidatura não vingou, mas o partido do político acabou apoiando o candidato Celso Russomanno (PRB) para o cargo. Ele também é conhecido por ser uma ferrenha oposição aos direitos reprodutivos das mulheres e declarações homofóbicas. Foi o terceiro deputado federal mais votado em 2014 no Estado de São Paulo.

Questionando sobre o caso pelo UOL, o assessor do deputado declarou, por meio de nota: "Tenho uma honra ilibada e tais acusações são descabidas. Respeito minha família, o povo brasileiro e principalmente minha fé! E peço que assim o façam! Assim eu encerro tal assunto, deixando nas mãos das autoridades''.

Na quinta-feira (5) a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) enviou um ofício para o procurador Leonardo Bessa do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios pedindo que o órgão faça uma investigação sobre o caso do pastor e deputado federal. Também foi divulgado no Democratize um fragmento do áudio da conversa com o chefe de gabinete Talma Bauer, no qual a militante evangélica diz que Feliciano forçou uma relação sexual e não foi consensual.

Segundo o Democratize, o caso ganhou mais um capítulo quando um amigo da vítima afirma que a youtuber pedia ajuda para denunciar o caso enquanto, nas redes sociais, ela desmentia o acontecido dizendo se tratar de um factoide armado pela esquerda.

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Tweet via.

Nesta sexta-feira (5), a Polícia Civil de São Paulo prendeu em flagrante o chefe de gabinete Talma Bauer, que aparece no áudio gravado pela jovem tentando acobertar o caso. Ele é acusado de ter forçado a jovem a gravar vídeos desmentido o caso e a favor do pastor. As autoridades também começam a cercar o pastor do PSC. As informações, novamente são da Coluna Esplanada.

Segundo o Buzzfeed Brasil, o chefe de gabinete não teria sido detido, como noticiou a Coluna Esplanada. Os repórteres entraram em contato com Bauer, que ironizou a pergunta se estava preso e disse que está em casa.

O Estadão, o Valor, o G1 e a Folha também noticiaram a prisão preventiva do chefe de gabinete. A investigação será encaminhada para Brasília, já que Feliciano possui foto privilegiado. O Pastor Everaldo, presidente do PSC, afirmou que será criada uma comissão interna para averiguar o caso.

LIBERADO

Após ser detido pela Polícia Civil e encaminhado para o 3º DP no centro de São Paulo, Talma Bauer foi liberado na madrugada de sábado (6). Ele é suspeito de ter mantido Patrícia Lélis em cárcere privado. O delegado Luiz Roberto Hellmeister disse que iria pedir a prisão temporária do chefe de gabinete por sequestro, coação e ameaça.

A rápida detenção de Talma foi motivada pelo depoimento prestado por Patrícia e sua mãe sobre o caso. Segundo o depoimento, Talma ameaçou a jovem com um revólver para que ela gravasse os vídeos. Ele negou todas as acusações na delegacia.

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O jornalista Emerson Biazon também foi chamado para a delegacia e acusou Patrícia de receber R$ 20 mil reais para viajar e encontrar Bauer. Patrícia negou todas as acusações.

feliciano se pronuncia sobre o caso

Um dia depois da rápida detenção de Talma, Feliciano gravou um vídeo no sábado (6) alegando que é inocente da acusações de estupro, assédio sexual e agressão contra a jornalista. Ao lado de sua esposa, o pastor disse que está sofrendo uma perseguição moral e diz que Patrícia deve ser responsabilizada pela falsa comunicação de um crime.

Já Lélis fez um post no Facebook criticando duramente o PSC por terem exigido que ela ficasse em silêncio sobre o abuso sexual. Segundo ela, chegou a levar um pendrive com todas as provas do crime e nada foi feito por parte da liderança do partido. "Outras mulheres vão aparecer com a minha denúncia. Como disse uma vez: Não fui a primeira, mas posso ser a última", escreveu a jornalista.

No domingo (7), Patrícia registrou outra ocorrência, desta vez contra a violência sexual cometida por Feliciano.

A jovem relatou que após levar um soco na boca e chutes da perna, o pastor e deputado federal usou uma faca para obrigá-la a deitar na cama e fazer sexo com ela. Há ainda a possibilidade de arrolar uma testemunha que possa confirmar que Patrícia esteve no apartamento funcional de Feliciano - uma vizinha que chegou a bater na porta ao ouvir gritos da jornalista Patrícia quando foi atacada por Feliciano.

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Em um depoimento dado à Veja São Paulo, Patrícia conta que o Pastor Everaldo, presidente do PSC, ofereceu dinheiro para fechar a boca. Ao negar a proposta, recebeu ameaças de morte do político contra ela e sua família. O PSC disse que irá montar uma comissão interna para investigar o caso.

A Semana Municipal da Família é um evento evangélico que começaria no dia 12 de agosto na cidade de Cascavel, no Paraná, e que contaria com a participação do pastor, foi cancelado, a justificativa da organização foi aguardar o esclarecimento das denúncias envolvendo o político.

Durante uma coletiva realizada no final da tarde de segunda-feira (8), Patrícia contou mais alguns detalhes do cárcere privado onde foi mantida por Talma. Foi graças a um jornalista da Veja São Paulo que Patrícia conseguiu sair do hotel que estava e ir até a delegacia para prestar queixa. Segundo ela, Bauer a ameaçou com uma arma e se apossou de todas as redes sociais da jovem para responder mensagens de jornalistas e amigos e também para postar nas redes sociais a fim de abafar o caso.

Patrícia não quis contar mais detalhes do caso, que agora corre em segredo de justiça. "Eu tenho certeza que não sou a única", diz a jovem. De acordo com a jovem, o jornalista Emerson Biazon chegou a revelar que Feliciano já abusou de outra mulher que hoje vive fora do país. As agressões que aconteceram no apartamento funcional, inclusive, foram motivadas porque a jornalista confrontou Feliciano sobre os boatos de que ele abusava de mulheres.

DENÚNCIA

Após prestar queixa na delegacia, a denúncia de tentativa de estupro e agressão foi encaminhada e já recebida pela Procuradoria-Geral da República na segunda-feira (8). Agora, resta aguardar se o órgão irá receber ou arquivar a denúncia feita por Lélis.

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