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O debate dos candidatos de SP na TV Gazeta foi mais chato ainda ao vivo

Mas as vaias e aplausos foram divertidas, e até eu ri alto quando Doria falou pela milionésima vez que é um “grande gestor”.

Imagem: Reprodução/TV Gazeta.

Neste domingo (18) deixei o conforto de lar e, sob uma ameaça de temporal feio pairando sobre a capital paulista, rumei para a sede da TV Gazeta, na Avenida Paulista, para acompanhar o terceiro debate entre os principais candidatos à prefeitura de São Paulo. E, olhando nos olhos da besta-fera, vendo a TV ser produzida ao vivo, longe da poltrona, da pipoca e sem internet (deixei o celular em casa de propósito) o que bateu mesmo foi um profundo tédio.

O Teatro Gazeta é bonito, simples e eficiente – ruim só é não conseguir ver o rosto dos candidatos, bloqueados pelas câmeras – no fundo, acompanhamos o debate por um telão, não muito diferente de assistir em casa. Os jornalistas ficaram acomodados em duas fileiras centrais, na parte de trás do teatro, enquanto as claques dos candidatos se espalham desigualmente nos assentos laterais – tinha até a juventude uniformizada do PSDB com sua hashtag #conexão45. Do meu ângulo, dava para olhar nos olhinhos do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que junto com o senador Aloysio Nunes (PSDB) compareceu em apoio ao candidato João Doria (PSDB) – a dupla tucana chegou tarde e saiu no segundo intervalo, sem chance de falar com a imprensa.

Quem estava mais solto e desenvolto nos intervalos era o candidato a vereador Eduardo Suplicy (PT), recém recuperado de agressões e de uma sprayzada de pimenta que havia tomado mais cedo da PM durante o ato contra o governo de Michel Temer realizado na Avenida Paulista. Verboso que é, Suplicy não conseguiu concluir sua explicação do caso à imprensa durante o intervalo, e foi sentar-se quase correndo enquanto o debate voltava dos reclames.

Aliás, que debate chato. Começou quase de sopetão, sem nenhum candidato ser apresentado, só com as regras sendo desfiadas quase na pura pressa. A organização tênue transpareceu já no fim do primeiro bloco, quando Luiza Erundina (PSOL) quase teve a sua tréplica cortada antes do debate ir ao intervalo. Mas antes fosse a informalidade o verdadeiro problema do debate. O que se viu durante a próxima hora e pouco foi, novamente, um soporífero colóquio de candidatos falando quase sozinhos. Erundina tentou colar Eduardo Cunha (PMDB) na imagem de Marta Suplicy (PMDB), que deixou recentemente o PT para tentar a eleição pela sigla de Michel Temer, Eliseu Padilha, Romero Jucá e Moreira Franco. Celso Russomanno (PRB) tentou se defender das acusações de que seria contra os direitos trabalhistas, falou que quer que o Uber contrate motoristas por CLT, mas não conseguiu explicar direito o que vai fazer com o funcionamento do aplicativo. Major Olímpio (SD) defendeu o malfadado projeto Escola Sem Partido, tema que acabou sendo escanteado na resposta de Russomanno. O prefeito Fernando Haddad (PT) tentou enumerar os feitos da sua administração, mas seguiu sendo atacado por todo o debate, especialmente por Doria. O tucano, por sua vez, repetiu à exaustão que era um "gestor" – apesar de, como afirmou para mim no final do debate, sua experiência de gestão pública se limita à atuação na área do turismo, presidindo a extinta Paulistur nos anos 80. O mais interessante ainda é a incapacidade dos candidatos para responder às perguntas feitas na internet pelos eleitores. Erundina e Marta não responderam se usam a saúde pública, Doria não disse o que entende por "educação inclusiva" (mas aproveitou para se gabar dos quatro anos em que foi matriculado na rede pública de ensino), Russomanno desconversou sobre a situação dos micro-ônibus, Haddad falou mal do governo Alckmin quando questionado sobre os ataques com agulhas que têm acontecido em São Paulo. Nessa hora o sempre espaçoso Olímpio pareceu até uma voz ponderada no meio dessa treta, ao lembrar que a crise financeira, aliada à PEC dos Gastos Públicos do regime Temer, vão inviabilizar qualquer tipo de investimento extra que estão sendo prometidos amplamente pelos outros candidatos. Essa fuga dos temas é especialmente irritante, e até Josias de Sousa, jornalista da Rádio Gazeta responsável por algumas perguntas, reclamava do formato do debate dentro do elevador, na saída da gravação. Dois detalhes importantes devem ser observados sobre o debate, além do tédio: foi a primeira vez que não se falou da redução da velocidade nas marginais e vias expressas de São Paulo, e também houve uma tentativa grande de, a exemplo do Rio, "nacionalizar" o debate, ou seja, tratar de problemas que vão além da esfera municipal. Erundina, uma das principais vozes nesse sentido, justificou para mim ao fim do debate a sua opção pela nacionalização ao explicar que estamos falando de um dos maiores orçamentos da União e de que era ali que começaria a "reação ao golpe". Talvez a parte mais divertida de acompanhar um debate ao vivo seja poder ouvir de perto as "reações" da plateia – e, veja, foram muitas. Além de palmas entusiasmadas para um discurso mais contundente de Erundina, também se ouviram muitas vaias, especialmente a partir da segunda metade do debate – Haddad foi vaiado pelos tucanos ao falar de Lula, Doria foi vaiado pelos petistas e psolistas ao elogiar Alckmin e invocar o espírito ilibado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. É fácil de entender um pouco esse tipo de reação – eu mesmo não segurei o riso quando, nas considerações finais, Doria evocou pela trocentésima vez seu perfil de "gestor". Quando as câmeras desligam, correm os jornalistas e assessores para uma palavrinha final. Com a equipe reduzida de um homem só, consegui falar apenas com Doria, Erundina (que falou bastante e me ocupou um pouco de tempo, mas seria falta de educação deixar uma senhora daquela idade falando sozinha) e Olímpio – os outros me fugiram. A quem quer que possa interessar, Olímpio me disse quais são seus planos para a população LGBT, tema solenemente ignorado em uma pergunta feita diretamente a ele no debate anterior: "vou fazer tudo o que a prefeitura já faz", explicou o Major, que fez questão de dizer que não tolera homofobia. Do jeito que a coisa anda, o eleitor vai precisar de um jornalista particular para conseguir fazer os candidatos responderem claramente às suas perguntas. Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.