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Isa Muazu Disse que Prefere Morrer a Ser Deportado da Inglaterra

Dois membros da família dele foram assassinados por um grupo militar islâmico na Nigéria. Agora, em greve de fome há 100 dias, Isa pode morrer a qualquer momento.
Simon Childs
London, GB

Atualmente, Isa Muazu está definhando num centro de detenção de imigrantes próximo ao aeroporto Heathrow, Londres. Exceto se vencer um último desafio legal, ele estará no voo ADC684 para Abuja, Nigéria, sua cidade natal, às oito da manhã de sexta-feira. Tive permissão para visitá-lo anteontem e perguntei o que vai acontecer com ele na Nigéria. Ele me respondeu imediatamente: “Vou ser morto”. Isa diz que dois membros de sua família foram assassinados pelo Boko Haram, um grupo militar islâmico, e que ele teme ter o mesmo destino se retornar. Seus advogados acham que talvez isso não aconteça, já que Isa está em greve de fome por quase 100 dias agora e pode morrer na detenção ou durante o voo.

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Depois de uma apelação fracassada, ele deveria ter retornado à Nigéria na noite de ontem, mas por razões que não ficaram claras, o Ministério do Interior atrasou a viagem sem muitas explicações. Apesar de dizerem na manhã de ontem que “não costumam comentar casos individuais”, os oficiais do ministério mantêm a posição de que Isa está apto a viajar. As alegações do Ministério do Interior seriam mais convincentes se eles já não tivessem elaborado um “plano de fim de vida” para Isa, o que, segundo foi sugerido, significa que a decisão de permitir que ele morra foi tomada num nível ministerial. Se a morte iminente dele já foi considerada, acho que o significado de “apto para voar” muda um pouco. Encontrei Isa no centro de remoção Harmondsworth, uma das partes mais hostis do “ambiente hostil” que a secretária do interior Theresa May está determinada a criar para os imigrantes na Inglaterra.

Depois de chegar ao centro, passei por toda a segurança no estilo dos aeroportos. Os guardas me tiraram todos os equipamentos de gravação, me revistaram e aconselharam fortemente a não perder meu passaporte lá dentro. Depois conheci Lorde Roger Roberts de Llandudno, que estava lá para encontrar Isa na qualidade de democrata liberal, e que fez a gentileza de me convidar também.

Passamos por algumas portas trancadas e um pátio com cercas de arame farpado, subimos algumas escadas e passamos por salas de espera, cheias de pessoas não brancas sentadas em cadeiras de plástico, que nos olharam cheias de esperança quando passamos pela porta. O lugar se parece bastante com uma prisão, e é em lugares deprimentes como esse que aqueles que buscam asilo são mantidos no purgatório de detenções indefinidas, enquanto esperam por anos uma decisão sobre seus pedidos.

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Enquanto esperávamos, Roger perguntou a um dos seguranças se havia muitas pessoas em greve de fome ali. “Não muitas, não”, respondeu o guarda, hesitante e enxugando o suor da testa.

Isa foi trazido numa cadeira de rodas porque está muito fraco para andar. Ele apertou nossas mãos e balançou a cabeça. Ele parecia muito magro e falava baixo. Sentamos em volta dele, esticando o pescoço para conseguir ouvir. Foi como visitar uma pessoa frágil num asilo para idosos, mas Isa tem somente 45 anos.

Ele estava claramente exausto, como já era de se esperar de alguém que não come desde o dia 25 de agosto. Ele também não tem dormido apropriadamente há dois meses: “Deito na cama, mas o sono não vem”. Então, não era de se estranhar que ele só conseguisse formar algumas frases curtas. Mesmo assim, ele foi capaz de expor em termos inequívocos seus pensamentos sobre voltar à Nigéria: “Eu me sinto devastado. Prefiro morrer a voltar. Eles podem pegar meu corpo e enterrar, essa é a única coisa que peço. Não vou voltar. Estou te dizendo. Não há mais nada lá para mim”. E quanto a amigos, família ou qualquer pessoa que possa cuidar dele? “Não tenho notícias de ninguém há mais de dois anos.”

Isa pediu asilo depois que seu visto para o Reino Unido expirou. Seu pedido foi recusado depois de apenas sete dias. Ele começou a rejeitar comida quando o centro de detenção deixou de atender suas necessidades alimentares – ele tem hepatite B, problemas nos rins e úlceras – mas continua se recusando a comer em protesto ao processo de pedido de asilo. Ele disse que pesava 83 quilos antes da detenção, e que estava com 50 quando se pesou naquela manhã. Ele chegou a ir ao hospital para uma operação, mas estava muito fraco para o procedimento. Eles tentaram dar a ele um sanduíche, mingau e soro, mas “vomitei. A comida não quis parar no meu estômago. Mesmo água, eu vomito. Às vezes com sangue. Até a urina sai com sangue”, ele disse.

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Isa Muazu.

Roger perguntou se Isa aceitaria um plano para fazer ele comer de novo, algo montado por um nutricionista. “Não aqui na detenção”, disse Isa. E num hospital? “Posso tentar.”

Um médico independente disse que Isa tem problemas mentais e que ele foi considerado clinicamente inapto para a detenção em outubro. Por outro lado, um médico apontado pelo Ministério do Interior declarou que ele estava bem para viajar: “Ele sequer tocou em mim ou tirou meu sangue. Ele só olhou.”

Perguntamos se ele tinha alguma mensagem para o governo. “Preciso que eles me perdoem por qualquer coisa que eu tenha feito de errado. Não foi minha intenção. Quero que o governo tempere a justiça com misericórdia.” Isso pareceu uma admissão de culpa, mas quando foi dito que ele estava sendo punido por algo que não tinha feito, ele disse: “É assim que eu vejo”, acrescentando que nunca teve nenhum problema com a lei antes.

Lorde Roger Roberts de Llandudno.

Depois de um tempo, pareceu uma imposição manter um homem tão fraco conversando. Dissemos adeus a Isa e deixamos o centro. “Qual é o adjetivo que você usaria para descrever nosso sistema de detenção? 'Brilhante' ou 'inumado'?”, perguntou Roger, enquanto caminhávamos para pegar o ônibus de volta à estação. “Se a secretária do interior está tentando criar um país inóspito, com uma política de imigração tão dura e inumana, então quanto antes ela se for, melhor.”

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Roger tinha um encontro com Theresa May naquela tarde, para fazer lobby por Isa, e uma carta aberta, assinada por mais de 100 organizações e figuras públicas, foi publicada recentemente pedindo a libertação dele. Mas parece que May e o Ministério do Interior não estão dispostos a ouvir.

Mais tarde, liguei para Kate Blagojevic, do Fórum de Detenção, que explicou como Isa acabou nessa situação. “Você se declara às autoridades de imigração e diz que quer pedir asilo – eles te prendem imediatamente num centro onde você não tem dinheiro, não pode ter um celular e não pode ter um advogado. Você perde sua liberdade e não há nenhuma maneira de sair”, ela me disse. “É muito difícil ficar sentado numa cela, pensando que você precisa desse asilo. O sistema de rastreamento rápido aloca um advogado para você, provavelmente alguém que você só vai conhecer minutos antes de sua entrevista com os oficiais do Ministério do Interior. Essa é a reunião onde eles decidem se seu pedido de asilo tem crédito ou não. Noventa e nove por cento das pessoas no sistema de rastreamento rápido são recusadas.”

Isa diz temer por sua vida se voltar a Nigéria, mas também não sabe se sobreviverá se for mantido na detenção. “Estou cansado de ficar neste lugar”, ele disse, “por todo o tempo que estive aqui, foi apenas dor”. O juiz que considerou a detenção de Isa como legítima, apesar das evidências médicas em contrário, comentou: “É importante considerar que aqueles que usam uma greve de fome para manipular sua posição não terão sucesso com isso, desde que tenham capacidade mental.” Em outras palavras, se você permitir que um homem que entrou em greve de fome influencie a decisão de se ele deve ou não ficar no país, logo todos os “ilegais” estarão se negando a comer numa tentativa de amolecer o coração dos liberais.

Acho que isso até poderia acontecer, mas seria uma aposta muito alta para jogar contra o sistema – um sistema que não deveria deixar a situação chegar a esse ponto em primeiro lugar. O Ministério do Interior terá que decidir se está disposto a deixar alguém como Isa morrer sob seus cuidados, só para provar o blefe.

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