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Sem Grella, Manifestantes Grilados Ocuparam a Secretaria de Segurança Pública de SP

O que era para ter sido uma audiência pública com o Secretário de Segurança Pública do Estado, Fernando Grella Vieira, acabou se transformando na ocupação do saguão do prédio da própria SSP por quase 100 pessoas. Tudo porque o titular da pasta não...

O que era para ter sido uma audiência pública com o Secretário de Segurança Pública do Estado, Fernando Grella Vieira, acabou se transformando na ocupação do saguão do prédio da própria SSP por quase 100 pessoas. Tudo porque o titular da pasta não compareceu ao encontro, marcado para as 17h de anteontem (20) no salão nobre da Faculdade de Direito São Francisco, vizinha à Secretaria. Mas estavam lá uma centena de integrantes dos vários movimentos sociais que compõem o Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica. Sobrou para o assessor presente, Eduardo Dias, que teve que ouvir várias e com certeza perdeu a conta do tanto de vezes que a palavra “covarde” foi microfonada em referência ao seu superior.

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Durante cerca de uma hora de discursos inflamados por parte dos manifestantes – acusando o governo de conivência com as mortes de moradores das periferias, levantando a existência de grupos de extermínio, cobrando investigações e muito mais –, o porta-voz do secretário se irritou mais de uma vez. Na primeira delas, ainda nos vinte minutos iniciais da sessão, ele ameaçou sair, alegando que “aquilo não tinha sido o combinado”, mas acabou ficando. Ele se referia ao andamento da reunião, que não o dava chance de falar – antes de tudo começar, ele e alguns organizadores se reuniram em rodinha, talvez para combinar isso.

“Nesse momento, Eduardo, eu peço desculpas, mas não vou passar a palavra para o senhor. A gente combinou uma coisa, e uma vez meu pai me ensinou que o combinado não sai caro. Se o secretário estivesse aqui, se o chefe da polícia estivesse aqui, eles seriam ouvidos. Mas eu não estou vendo ninguém. A gente não vai conversar com assessor de novo. A gente não passou dois meses combinando isso para ele [Grella] não vir. A gente não conseguiu todos os documentos pedidos pela burocracia da Secretaria, para o Secretário não vir. O movimento social não é palhaço”, falou a terceira militante a ter vez no microfone, seguida de ovação da plateia. Em seguida foi chamada a Débora, das Mães de Maio (representadas lá por uma comitiva vinda da Baixada Santista), e o ato continuou.

E assim foi indo, um indignado por vez, até que, sem sucesso algum em conseguir ser ouvido, ele resolveu ir embora. De saída e apressado, contou que o Grella não se fez presente porque estava reunido, desde as 15h do mesmo dia, com o comando da Polícia Militar e da Polícia Civil; disse que foi ele próprio quem fez o pedido para reservar o auditório da faculdade; que a pauta do documento entregue em novembro, quando o grupo ocupou a Secretaria de Justiça – por acaso no mesmo dia em que o Secretário tomava posse – e cobrou serem ouvidos em reunião com ambas as pastas, estava com algumas questões desatualizadas (em 2012 eles ainda cobravam a demissão do então responsável Antônio Ferreira Pinto e o fim dos registros de “resistência seguida de morte”); e frisou que desde terça-feira passada (13) os manifestantes já sabiam que o secretário não compareceria à audiência.

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Informação que o Douglas Belchior, do Comitê Contra o Genocídio, confirmou já saber desde então. “Na verdade não foi um comunicado oficial. Foi um diálogo. O assessor nos informou que ele não viria, sem dar uma justificativa nem nada. Há mais ou menos dois meses a gente está no processo de construção desse encontro. A gente está cobrando a secretaria e passamos a conversar com o Eduardo Dias, que tem o aval do Secretário. E assim a gente foi construindo. Chegamos a tirar datas anteriores, mudou uma vez, e depois de novo para o dia 19. E aí uma semana antes vem a informação de que ele [Grella] talvez não viesse. De que ele estava com receio porque teria participado de uma reunião de uma comissão lá na Alesp [Assembleia Legislativa] e essa reunião teria sido muito dura. Mas a gente acabou mantendo, porque independente de ele confirmar ou não, é uma convocação do movimento. Algo construído nesses meses todos, e que tem uma justificativa muito poderosa e consistente.”

Sobre o quase estresse com o assessor, emendou: “Ele queria conduzir a reunião, falar, mas o ato era nosso. Inclusive no modelo da audiência, quando a gente construiu com a secretaria, era o movimento que conduziria. E aí ele queria inverter, queria justificar de pronto. E a gente não quer saber da justificativa dele. Até porque não teve justificativa oficial nenhuma. Foi uma postura do movimento, de não querer falar com o assessor. Nada contra a figura do Eduardo, que é um cara muito bacana inclusive. Não é isso. É em relação ao papel que ele está cumprindo e o nosso papel”.

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E mais um pouco: “Nós viemos preparados para recebê-lo [o Grella], inclusive com o compromisso de ele trazer o Comando da PM, da Polícia Civil e da Polícia Científica. Mas ele não veio. Independente de ele falar que talvez não viesse, o que está configurado é a falta. É a ausência por parte do governo, do secretário, numa hora de dialogar com os movimentos. E aí, a partir da não presença dele, acabou acontecendo o que aconteceu. Nem foi combinado, a gente não tinha planejado ocupar nada. Aconteceu naturalmente”.

Assim que o assessor do secretário de Segurança Pública vazou, o grupo de manifestantes também entendeu não ter mais utilidade ficar dentro do auditório e seguiu para a rua. Foram logo em direção ao edifício Saldanha Marinho, sede da Secretaria de Segurança Pública, na esquina da faculdade. A entrada foi pacífica, e lá dentro eles se acomodaram em frente à catraca entoando: “Cadê o secretário? Cadê o secretário?”. Alguns curiosos desceram, outros ficaram olhando do mezanino, policiais ficaram parados e um funcionário gritou: “Façam uma petição [para conseguir agendar um encontro com o Grella]!”. Logo a militância foi informada que o próprio não estava lá, e começaram a discursar para quem quisesse ouvir dentro do prédio. Um falava, o grupo repetia. E continuou assim por cerca de meia hora, até acabar com uma espécie de chamada escolar em que eram anunciados os nomes de alguns jovens mortos, no que o grupo respondia “presente”. Uma noite e tanto.

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PS: O pessoal da UNEafro fez um vídeo que mostra mais do que aconteceu nessa noite.

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