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A semana na política, da reeleição de Temer ao Caso Feliciano

O presidente interino já costura os conchavos pras eleições em 2018, o Impeachment de Dilma avança, Eduardo Cunha se arma e o Movimento Brasil Livre coloca na rua seus candidatos às eleições municipais.
Crédito: Agência Brasil.

A gente sabe muito bem que política é a arte de descumprir promessas, mas ás vezes a pressa é grande: apesar de ter firmado um compromisso com a antiga "oposição de direita" de que, caso derrubasse Dilma, não concorreria à reeleição, Temer e seus aliados já começam a se movimentar para uma eventual candidatura à presidência em 2018. Por baixo dos panos, os trutas do interino já dizem que o Planalto "não tem interesse" em votar uma emenda contra a reeleição. É claro que a possível reeleição do interino passa por uma necessidade de aprovação para além dos seus pífios 13% atuais, e Temer já ligou para o senador Aécio Neves (PSDB-MG) para desconversar o papinho.

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Agora é saber que pato vai cair nessa arapuca, até porque Temer vai ter que rebolar para garantir algum prestígio que valha tentar manter-se no poder - que o digam as vaias ao seu anúncio de abertura das Olimpíadas. Mesmo com o pedido de não ser anunciado ao lado das autoridades olímpicas e sem ter a sua imagem projetada nos telões do Maracanã, ele foi massivamente vaiado durante seus dez segundos de fala protocolar. Os protestos contra o novo governo durante os jogos em geral estão sendo reprimidos e escondidos pela autoridade olímpica, chamando a atenção até da imprensa internacional - como diria Jorge Ben, "deu no New York Times"

Enquanto isso, o impeachment de Dilma vai avançando aos trancos, e o relatório de mais de 400 páginas do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) foi aprovado na comissão que cuida do julgamento por 14 votos a 5. Na próxima terça-feira (9) o plenário do Senado vota pela aprovação do relatório, uma espécie de pré-julgamento, e, dependendo do resultado, vai ser possível enxergar com clareza a tensão da corda que aperta o pescoço de Dilma – e vai ser difícil a presidente se manter no cargo, já que o PT descartou a proposta de novas eleições caso o impeachment seja recusado. Segundo Ricardo Lewandowski, presidente do STF que dirige o processo de impeachment, a votação final deve ocorrer no dia 29 de agosto.

A data é mau agouro para Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e talvez mesmo para Temer. Pressionado, o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirma que deve ler na Câmara o relatório recomendando a cassação de Cunha na segunda-feira (8). A partir disso, a pauta da casa é trancada depois de duas sessões, mas Maia se preocupa em ter o "quórum adequado" para conseguir fazer valer a votação: são necessários 257 votos para garantir a cassação, e Maia quer "ao menos" 400 deputados presentes. Enquanto isso, Cunha entrou com um mandado de segurança no STF tentando reverter a cassação, e seus aliados querem tirar ao menos 200 deputados da sessão onde ela seria votada. A pressa, diz a oposição, também é do Planalto: se Cunha for destituído antes de Dilma, andou espalhando que vai delatar geral, incluindo aí o interino.

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A denúncia menos observada da semana tem um impacto forte na política pernambucana e, provavelmente, até no governo interino. O Ministério Público Federal de Pernambuco denunciou 18 pessoas na Operação Turbulência, deflagrada a partir de investigações para descobrir o dono do jatinho que derrubou Eduardo Campos (PSB-PE) quando candidato à presidente em 2014. Além disso, a denúncia diz que o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), pai do ministro das Minas e Energia Fernando Bezerra Filho (PSB-PE), além do senador Benedito de Lira (PP-AL) e o filho e deputado federal Arthur Lira (PP-AL) eram "clientes" do sistema de lavagem de dinheiro montado pelo empresário João Carlos Lyra – se a fita seguir assim, numa dessas a Turbulência pode virar a "Lava Jato do PSB".

No fim de semana, foi a vez de uma revelação da Lava Jato que voltou a colocar o governo Temer na berlinda. Executivos da Odebrecht, segundo a Folha de S. Paulo, afirmam que a empresa pagou R$ 23 milhões em propinas a título de caixa dois para a campanha do atual ministro das Relações Exteriores da sua campanha presidencial de 2010. Além disso, parece que outras parcelas de propinas foram pagas a Serra pela construção do Rodo Anel no período em que ele foi governador do estado de São Paulo, entre 2007 e 2010. A Lava Jato já derrubou três ministros do governo Temer, que havia feito um acordo para que qualquer membro do gabinete exposto em problemas de corrupção pedisse para sair em caso de denúncia - agora resta ver se o vaidoso Serra vai entrar nessa dança.

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Já as eleições municipais chegam próximas à largada com cada vez mais malandragens e escândalos na manga. O ex-apartidário Movimento Brasil Livre resolveu se partidarizar pra caralho e promete lançar 43 candidatos em 38 cidades país afora. Isso explica o que Kim Kataguiri (MBL-SP) quis dizer com o título de sua mais recente coluna na Folha de S. Paulo: "Eleições de 2016 foram jogadas no colo de bandidos". Nessa tô contigo e não abro, Ranger azul.

O pré-candidato do PRB pela prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, está às voltas com uma enrascada dupla. Primeiro o STF marcou o julgamento do seu recurso contra o processo de improbidade administrativa que o pode deixar inelegível para o dia 16 de agosto. Caso seja julgado culpado, corre sério risco de cair fora da disputa por se tornar "ficha suja" – diferente do que andou se capciosamente mancheteando por aí, apesar de o prazo final para registro de candidaturas ser o dia 15 de agosto, os candidatos podem ser contestados até o dia 23.

Outro revés veio de seu recém-aliado Marco Feliciano (PSC-SP), que havia desistido da candidatura à prefeitura para apoiar Russomanno. Ele se envolveu com um caso para lá de mal-explicado de abuso sexual contra uma famosa jornalista e vlogger do universo gospel – Feliciano teria agredido a mulher com um soco no rosto e tentado estupra-la. A jornalista denunciou o caso ao UOL e depois voltou atrás, mas o portal levantou inúmeras dúvidas sobre esse desmentido, incluindo uma gravação medonha de mais de meia hora com o chefe de gabinete de Feliciano. No final, Patrícia Lellis acabou denunciando Feliciano por abuso sexual e o assessor por cárcere privado. A denúncia pode derreter a carreira política de Feliciano, que já teve sua participação na Semana Municipal da Família cancelada.

Ah, e a prisão de membros do MST com base na lei de organizações criminosas foi assustadora, mas errônea e amplamente tratada por veículos dos mais variados espectros ideológicos como um enquadro na lei antiterrorismo — e aí fica a dúvida do pode ser mais assustador: a criminalização dos movimentos sociais ou a má fé das notícias enviesadas? Provavelmente uma nada saudável mistura de ambas as coisas.

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