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O massacre em Orlando foi um ataque contra os LGBT, não importa o que a imprensa diga

O maior atentado com arma de fogo da história dos EUA não foi nem pra primeira página de alguns jornais britânicos durante o domingo, Por quê?

Owen Jones deixa o debate na Sky News.

Levou um tempo considerável para a BBC começar a exibir reportagens sobre o maior atentado com arma de fogo da história dos EUA no domingo; o canal deu prioridade às comemorações dos 90 anos da Rainha. O Daily Mail não publicou nada sobre o maior ataque terrorista em solo americano desde o 11 de Setembro em sua primeira página; parece que eles preferiram especular sobre migração turca e "as gloriosas joias da vida da Rainha". O Express até deu a notícia na primeira página, com menor destaque que a Rainha e fundos de pensão, mas é preciso ir até a página quatro para ler a história. O Telegraph publicou a notícia, mas sem imagens do culpado, das vítimas, do clube ou do terror; as fotos são da Rainha, sorrindo e acenando cercada de bandeiras da Inglaterra.

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Em Orlando, no decorrer de três longas e terríveis horas, 50 pessoas foram assassinadas por um homem que odiava gays. Foi um ataque terrorista motivado pela homofobia. Ele teria jurado lealdade ao ISIS. Mas esse foi um ataque motivado por homofobia.

Parte da imprensa britânica está tendo dificuldades para reportar essa atrocidade e definir a cobertura que o caso precisa. Alguns veículos deram a desculpa de que o incidente aconteceu em solo estrangeiro, mas tem alguma coisa de muito hipócrita nessa explicação: um senso subjacente de que isso aconteceu com gays, não com a gente. Em Paris novembro passado, os ataques a bares, cafés e uma casa de shows geraram simpatia numa escala quase universal. Quase todo mundo sabe o que é sair para beber, comer, ver os amigos ou assistir um show ao vivo, e consegue imaginar como é ter essas experiências interrompidas por armas e violência. Depois de Paris, todo mundo era Paris, com o Facebook inteiro demonstrando solidariedade e empatia nas cores da bandeira francesa.

Mas o incidente em Orlando foi o massacre de gente LGBT dançando num clube gay. A menos que você já tenha sentido a necessidade desse tipo de espaço, um desejo desesperador de ter um porto seguro onde é possível ser quem você realmente é, então é difícil entender a dor profunda de ter seu santuário maculado por violência e horror. Clubes gays deveriam ser um escape do ódio, do preconceito e do medo. Mas são espaços onde uma minoria ainda é sujeita à violência frequente e crimes de ódio por dançar, beber e amar um ao outro livremente.

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Em grande parte do ocidente, como no Reino Unido e EUA, casamento gay é legal hoje em dia, mas não se engane: essa aceitação legislada não te protege de tomar uma cusparada na rua, ouvir palavrões por andar de mãos dadas ou ser espancado por sair do bar errado na noite errada. Já escrevi sobre direitos gays para grandes jornais em várias ocasiões e todas as vezes, embaixo de cada matéria, um tipo de comentário é garantido: alguma variação tediosa de "Não sinto necessidade de falar da minha heterossexualidade, por que você sente necessidade de falar sobre ser gay?"

Essa falta básica de compreensão foi demonstrada numa gafe fenomenal da Sky News na noite de domingo. O colunista do Guardian Owen Jones estava discutindo o massacre de Orlando com a apresentadora Julia Hartley-Brewer e o apresentador Mark Longhurst. Jones disse que essa foi uma das maiores atrocidades cometidas contra os LGBT nos tempos modernos. Por incrível que pareça, Longhusrt achou uma boa ideia corrigi-lo: "Mas foi cometida contra seres humanos, certo?" ele sugeriu, ajustando a conversa para se incluir. A discussão desandou e Jones acabou deixando o debate no meio. Bom pra ele.

Tradução: Marina Schnoor

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