FYI.

This story is over 5 years old.

Outros

Esta É a Pornografia que Você Encontra num Banco de Esperma

A seleção é bastante baunilha.

Quando eu era calouro na faculdade, ansioso para lucrar, me inscrevi para ser doador de esperma. Há cerca de dez bancos de esperma em Nova York, todos com nomes parecidos: New York Cryo, Cryos New York, Cryos International… sendo alto, birracial e "inteligente" (como determinado pela minha faculdade), me pediram para ir até lá e fornecer uma amostra.

Os bancos que visitei ficavam nos arranha-céus médios do centro da cidade. Lugares calmos e estéreis que me lembraram do consultório do meu pediatra. Havia pinturas abstratas de flores nas paredes. Depois de preencher um questionário e interagir com uma equipe só de mulheres, eu era escoltado para uma pequena sala de doação, recebia um tubo plástico e deveria bater uma punheta.

Publicidade

As clínicas não são obrigadas a fornecer material pornográfico, mas, para facilitar o processo, todos os bancos em que estive tinham sua própria seleção de putaria. Geralmente, isso quer dizer uma pilha de revistas ou, se você tiver sorte, uma tela na parede com um aparelho de DVD embaixo. Tendo crescido na era do pornô na internet, fiquei intrigado com essas relíquias. Eu nunca tinha assistido a um DVD pornô até começar a fornecer amostras do meu sêmen para bancos de esperma. Alguns CDs pareciam ter a mesma idade que eu, artefatos do meio dos anos 90, com nomes como Anal Frenzy 5 e Cumshot Chronicles 3. Sempre imaginei quem eram os pesquisadores de jaleco branco responsáveis por essas seleções e qual era o processo por trás das escolhas.

Uma sala de doação no Manhattan Cryobank.

Teresa Randolph, a dona empolgada do New York Fertility Services – que não é um banco de esperma, embora tenha uma sala de coleta para procedimentos de fertilidade –, falou sobre as leis obscuras envolvendo a procura de pornografia realizada por um banco de esperma.

"Claro, você tem de abastecer a sala de coleta com material pornográfico porque os homens precisam de inspiração", ela disse. "Então, precisamos ir a uma loja especializada para comprar isso. [Não pedimos] aos empregados para comprar pornografia porque isso pode ser considerado assédio sexual. Meu marido e eu somos os donos do consultório; logo, fazemos isso nós mesmos."

Na maioria dos bancos de esperma e das clínicas de fertilidade que visitei, essa é a norma. Ty Kaliski, CEO do Manhattan Cryobank, trabalhava em outro banco que só fornecia revistas nas salas de doação. Ty comprava as revistas de um distribuidor pela internet, colocando cerca de 15 em cada sala.

Publicidade

Pornô oferecido no Manhattan Cryobank.

Ty trocou o outro consultório cerca de um ano e meio atrás pelo Manhattan Cryobank, que oferece TV aos pacientes. Visitei seu escritório, onde ele me mostrou duas salas de coleta. Ty é uma exceção à regra, pois não escolhe a pornografia oferecida em seu consultório pessoalmente. Entretanto, ele me apresentou ao pesquisador que faz isso.

Perguntei ao pesquisador sobre seu processo de seleção. "Bom, eu e outro funcionário tivemos uma conversa sobre isso dois anos atrás", contou o pesquisador, que preferiu se manter anônimo. "Discutimos por uma semana o que seria apropriado para as pessoas que vêm aqui."

Ele ligou a TV e me entregou o controle remoto. Passei por cerca de 20 vídeos e notei que quase todos tinham "creampie" (em que o ator goza dentro da atriz) no título. Perguntei sobre o ímpeto psicológico por trás da escolha desses vídeos. "Bom, queremos deixar os doadores excitados", ele comentou. "Mas também não queremos que eles demorem muito."

O pesquisador explicou que o processo de seleção vai além de pistas visuais. "Antes, a maioria dos nossos DVDs apresentavam indivíduos caucasianos engajados em sexo hétero; assim, não havia muita diversidade. Queríamos uma variedade maior: caucasianos, afro-americanos, asiáticos… usando pornografia que apresente diferentes categorias raciais, podemos dar aos nossos pacientes o que eles querem ver", ele destacou.

Pornografia gay no New York Fertility Services.

Atualmente, o Manhattan Cryobank não oferece pornografia gay, porém vem recebendo pedidos por isso. "Agora, temos mais pessoas de orientações sexuais diferentes; então, temos de fornecer algo para excitá-los. Isso é importante para nós", explicou o pesquisador.

Publicidade

O New York Fertility Bank tem serviços explicitamente voltados para casais gays, ou seja, fornecer material adequado é fundamental. "Quando começamos, não tínhamos muito pornô gay", frisou Theresa. "Mas então começamos a ver muitos casais do mesmo sexo [que precisam de esperma para conceber], especialmente de outros países."

"Temos um cartaz na nossa sala de doação que diz que, se você não encontrar o que precisa, é só nos pedir, e vamos tentar encontrar isso para você", ela disse. "Alguns casais gays começaram a pedir algo com que eles pudessem se identificar mais. E nós ouvimos."

Hoje, quando Theresa visita a loja de pornografia com o marido, o que eles fazem de dois em dois anos, cerca de 25% da compra é de pornô gay. Nenhum deles tem um gosto específico por pornografia gay; por isso, a seleção é baseada numa análise superficial das capas.

Theresa me mostrou a sala de coleta do consultório. Três gavetas, cada uma intitulada "Auxílio Visual", tinham rótulos adicionais indicando o conteúdo. Duas delas diziam "Homem/Mulher", enquanto outra apontava "Homem/Homem". "Não queremos que as pessoas abram a gaveta errada e fiquem ofendidas", ela afirmou, mostrando os DVDs enquanto eu tirava as fotos. "Por isso, colocamos os rótulos."

A sala de coleta do The Sperm & Embryo Bank of New York, Inc.

Fornecer material para adultos em qualquer contexto é complicado. Alguns consultórios, como o The Sperm & Embryo Bank of New York (SEBNY), precisam ser cuidadosos, pois ali é feita mais que apenas doação de esperma. Eles também preservam esperma de adolescentes que vão passar por quimioterapia. Visitei o lugar e conversei com Albert Anouna, CEO do SEBNY, sobre esses casos.

Publicidade

"Não queremos colocar ninguém numa situação desconfortável", garantiu Albert. "Porque também temos homens jovens [que são pacientes com câncer] de 11, 13, 14 anos, e temos de perguntar aos pais se eles aprovam isso. Às vezes, os pais não concordam: 'Por favor, não coloque nada na sala do meu filho'. Então nos certificamos de tirar tudo da sala."

Albert me mostrou a sala de coleta de seu consultório. Ele explicou o significado de cada objeto. Apontou para a banqueta na frente da TV. "Alguns lugares têm um sofá, eu gosto de ter uma banqueta", ele falou. "Acho mais dinâmico, e é mais fácil para o homem ejacular em pé que sentado." Ele passou por um quadro da Madonna nua na parede. "Isso é quando ela tinha 18, 19 anos", ele disse. "Não é lindo?"

Folheei as Playboys que ele tinha na mesa. Algumas eram antigas, do começo de 2010 e do final dos anos 2000. "A data não é tão importante", ele frisou, "e não usamos mais tantas revistas. Hoje em dia, são mais DVDs."

"Somos muito baunilha aqui. Homem com homem, mulher com mulher, dois para um – tudo bem. Mas não entre aqui pedindo fitas com animais." – Dr. Joel Batzofin

Como dono, Albert se responsabiliza por adquirir o material, embora não preste muita atenção no conteúdo do que compra. Ele geralmente compra várias coisas e depois as revisa. "Tenho uma equipe de mulheres, e elas sabem o que os homens procuram em termos de zona de conforto", ele frisou. "Não é algo que elas têm de fazer, não é parte do trabalho delas, mas, se querem, elas revisam o material e me dão sua opinião."

Publicidade

"Você precisa assistir, você precisa ver", ele falou. "Uma vez, tínhamos uma fita com interação de humano e animal. Peguei isso na loja, porém não sabia o que era. Assistimos à fita e não achamos que fosse apropriado."

Da mesma maneira, todas as clínicas entrevistadas enfatizaram que, apesar da busca por diversidade racial e de orientação sexual, elas não vão além desse ponto. O marido de Theresa Randolph, Dr. Joel Batzofin, médico e coproprietário da New York Fertility Services, foi inflexível sobre o assunto.

"O que somos?", ele perguntou retoricamente. "Somos muito baunilha aqui. Homem com homem, mulher com mulher, dois para um – tudo bem. Mas não entre aqui pedindo fitas com animais. E todas essas merdas, como scat ou seja lá como eles chamam. Desculpe, não vamos fazer isso!" Seu rosto mostrou uma expressão de descrença. "Por que deveríamos colocar isso lá? Se é isso que você precisa para produzir, vá a outro lugar, consiga a amostra, traga de volta e nós analisamos."

Hentai numa sala de doação.

O pornô mais extremo que testemunhei foi hentai japonês (animação pornográfica) no Manhattan Cryobank. Eles tinham alguns vídeos do tipo em seu arquivo. Cliquei em um, e ficamos em silêncio por vários segundos, assistindo a uma colegial de desenho animado fazer um boquete num homem mais velho.

Perguntei ao pesquisador atrás de mim qual era a motivação para incluir hentai. "Não curto isso, não sou dessa geração", ele respondeu. "Só que [o outro pesquisador] achou que devíamos ter isso. Não acho que tenha alguma parte com bestialismo ou fetiches diferentes. É só sexo heterossexual."

Publicidade

O Manhattan Cryobank é o único consultório a tirar sua pornografia da internet, o que explica a facilidade com que o outro pesquisador conseguiu hentai. A maioria dos lugares ainda usa DVDs. No Manhattan Cryobank, eles passaram a usar a internet por duas razões: os DVDs estavam ficando arranhados ou sendo roubados. "A gente via as pilhas de DVD diminuindo lentamente conforme o ano ia passando", eles me contaram, rindo.

O New York Fertility Services tem o mesmo problema. "É algo bem regular. É fácil esconder um DVD no bolso", apontou Theresa. "Mas acho que, se temos coisas boas, é um elogio que elas sejam roubadas."

O New York Fertility Services faz testes de fertilidade e análise de sêmen, enquanto o Manhattan Cryobank e The Sperm & Embryo Bank of New York, Inc aceitam inscrições para doação de esperma.

Siga o Zach no Twitter.

Tradução: Marina Schnoor.

Siga a VICE Brasil no_ Facebook, Twitter e Instagram_.