FYI.

This story is over 5 years old.

Noticias

Black Bloc e PM disputam campeonato de bombas em frente à Câmara de SP

Esquerda, MPL e Black Bloc foram às ruas de SP contra a corrupção no metrô

Na quarta-feira, 14, o Movimento Passe Livre deu as caras no primeiro grande ato político desde as loucas jornadas de junho. "Essa não é a volta do MPL às ruas porque o MPL nunca saiu das ruas", esclareceu o grupo em nota.

A pauta, agora, é mais ampla, mas não menos objetiva. Como sempre fez questão de ressaltar, o movimento reivindica que o transporte público brasileiro saia completamente das mãos do capital privado e que opere sem a cobrança de tarifa. O gatilho para essa manifestação foi a recente revelação da formação cartel e corrupção nas licitações públicas do Metrô e CPTM feita pela empresa alemã Siemens.

Publicidade

O protesto teve como alvo principal o governador do estado de SP Geraldo Alckmin e teve como principal articulador o Sindicato dos Metroviários, cuja direção atualmente faz parte da Conlutas, ligada ao PSTU. A passeata, ao contrário daquelas feitas em SP em junho, tinha um tom muito mais de esquerda tradicional, incluindo as famigeradas bandeiras vermelhas. Não teve e não seria possível ter, pelo menos na primeira parte da manifestação, gritos de "Sem Partido" ou "PSTU vai tomar no cu". E isso foi bom enquanto durou.

A concentração aconteceu no Vale do Anhangabaú e começou por volta das 15h. Lá pelas 16h30, segundo a polícia, as mil pessoas que estavam ali começaram a passeata em direção a um dos prédios da Secretaria de Transportes do Estado, na Rua Boa Vista (próximo a Praça da Sé). Também estavam por lá o Sindicato dos Professores (APEOSP), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a juventude do PSOL (Juntos!) e outros grupos ligados à esquerda trabalhista.

Um grande grupo de manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) se reuniu em frente a Prefeitura e se uniu à manifestação quando ela por lá passou. A partir daí, a presença de policiais no protesto aumentou visivelmente. Os PMs formaram dois cordões laterais que acompanhavam a galera, "para inibir ações isoladas de vandalismo e garantir um ato pacífico", segundo o coronel Marcelo Pignatari.

A galera seguiu serpenteando pelo centro, passando pelo viaduto Brigadeiro Luís Antônio (onde fica o prédio do Ministério Público do Estado). Àquela altura, apesar do intenso frio e uma garoa safada, cerca de duas mil pessoas protestavam.

Publicidade

Tudo seguiu de forma tranquila. Quando a galera chegou na Rua Boa Vista, rolou a saudosa queima da catraca, momento clássico dos protestos do MPL e que tinha ficado em segundo plano nas manifestações de junho. Também foi incendiado um boneco representando um empresário do setor dos transportes. "Não colocamos o boneco Alckmin para evitar o tom petista", ouvi um cara do MPL explicar. Tudo isso sob o olhar até então sereno da PM.

A última parada foi na Praça da Sé. As faixas foram exibidas na escadaria da catedral e os grupos começaram a se aglomerar pela praça, de forma dispersa, já em clima de despedida. Porém, no jogral que parecia ser o de encerramento, alguns militantes convocaram os presentes a se dirigir para a Câmara dos Vereadores, perto dali, "onde companheiros já se concentram para ocupar o prédio". Rapidamente, um grupo de umas 100 pessoas se dirigiu para lá. Os grandes grupos formados pelos partidos e movimentos trabalhistas e de moradia ficaram na Sé.

A ação pegou uma galera e a polícia de surpresa, que até já tinha diminuído o contingente de soldados. Nesse último fôlego, a cara dos manifestantes mudou radicalmente. Até então, presença tímida no protesto, neste momento muitos encapuzados, empunhando bandeiras pretas e vermelhas, apareceram — o famigerado Black Bloc.

Por volta das 19h, cerca de 200 manifestantes (a maioria mascarada) se concentraram em frente a Câmara, cercada por uma frágil barreira de grades e cerca de 20 PMs. Não demorou muito para se formar um front de enfrentamento. O ânimo do Black Bloc estava exaltado. A polícia, por incrível que pareça, segurou a onda e até tentou, em um primeiro momento, negociar. Alguns manifestantes conseguiram entrar na Câmara para negociar com os vereadores.

Publicidade

Mas não foi o suficiente para acalmar a galera, que atirava pedras e barulhentas bombas caseiras em direção ao prédio e à PM, que respondia com gás de pimenta. A coisa foi inevitavelmente esquentando e a força tática já se aprumava lateralmente, fechando o trânsito e se preparando para o pior.

Não houve trégua da parte do Black Bloc. As lixeiras começaram a ser arrancadas e jogadas, as bombas caseiras estavam cada vez mais fortes e até algumas pedras brancas foram arrancadas das calçadas para servirem como arma. Com a tensão no limite, não teve jeito, e a polícia respondeu com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.

Três fatos importantes sobre o confronto: a postura da polícia foi muito mais calma dessa vez, respondendo efetivamente aos ataques do Black Bloc, que não queria muita conversa. Ou ocupava ou apanhava, não havia meio termo. A outra é que não presenciamos o uso das perigosas balas de borracha (a Folha afirma o contrário). A intenção da força policial, aparentemente, era dispersar, não machucar. Por último, temos até que admitir, estávamos com uma saudadinha do cheiro de gás lacrimogêneo.

A partir disso, o grupo se espalhou em direção a Brigadeiro Luís Antônio, centro e Liberdade para onde seguimos. A velha hidra de fogo de lixo, pixação e depredação de bancos. Fomos seguindo o rastro de fumaça em direção a Avenida Liberdade, onde uma agência do Itaú e uma loja de cosméticos sofreram depredações.

Publicidade

Na Brigadeiro, um manifestante foi preso por "danos ao patrimônio, desacato à autoridade, apologia ao crime e porte de entorpecente". Outros dois presos foram acusados de dano ao patrimônio público e por portarem coquetéis molotov. Os 16 que conseguiram entrar na Câmara conseguiram conversar com o vereador e presidente da Câmara José Américo (PT), que prometeu uma audiência pública sobre os transportes para a próxima quinta-feira.

Na Assembleia Legislativa, próximo ao Ibirapuera, outro grupo de 600 pessoas (segundo o UOL) que pressionava os deputados para a abertura de uma CPI também tentou a ocupação, mas foi reprimido. O confronto com os policiais deixou três pessoas feridas por estilhaços de bombas de efeito moral. O major Watanabe até contou quantas foram lançadas: cinco.

Não dá para saber se o fôlego dos protestos deste dia 14 incentivará o surgimento de uma nova jornada de passeatas e confrontos. Mas é evidente que as escabrosas irregularidades no Metrô e CPTM, que podem ter causado mais de R$ 400 milhões de prejuízo aos cofres públicos de São Paulo, servirão como força mobilizadora para novas manifestações e outras tantas manobras políticas, já que teremos eleição para presidente e governador no ano que vem.

Siga o Eduardo Roberto no Twitter: @euamotubaina

Anteriormente:

Teenage Riot São Paulo

É Capão Redondo, Tr00, Não Pokémon

Não Vai Haver Amor Nessa Porra Nunca Mais

O MPL Parou São Paulo

A Batalha da Consolação