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Música

Discos: Vários

O melhor de São Francisco em dois álbuns.

In a Cloud I & II – New Sounds from San Francisco
Secret Seven
8/10, 8/10
2010 / 2012 Há qualquer coisa de extraordinário na música que nos chega cada vez mais regularmente de São Francisco, nos Estados Unidos. Se há alguns anos o surgimento de bandas como Thee Oh Sees ou The Hospitals gerou algumas faíscas na reputação da cidade, toda a vaga que lhes sucedeu transformou São Francisco num ponto fulcral para publicações importantes, sobretudo para um público sedento de rock de qualidade. Nem sequer é de estranhar que assim seja, quando numa boa parte destes nomes é constatável um saber fazer que absorve tanto do rock psicadélico de São Francisco (Jefferson Airplane, Grateful Dead) como da magia melódica de iluminados com os Beach Boys. Junte-se a isso um conhecimento vasto do garage mais roufenho e o que sobra são mãos cheias de super-conhecedores que tantas vezes pegaram pela primeira vez numa guitarra com apenas sete ou oito anos. Tudo isso contribui obviamente para que haja em São Francisco uma geração de compositores geralmente infalíveis na sua vocação. Muito atenta a esse facto, a Secret Seven Records lançou nestes últimos anos duas compilações exclusivamente dedicadas aos novos sons vindos de São Francisco: In a Cloud I (2010) & II (2012) — New Sounds from San Francisco. As duas (editadas em formato de LP vistoso e de tiragem limitada) ficaram separadas por um par de anos, mas servem o mesmo propósito: tentar demonstrar a prosperidade musical do lugar que dá título aos discos através de algumas das suas melhores canções. Os dois volumes de In a Cloud não se tratam portanto de simples samplers ou de compilações baseadas num fraco critério, o que nos deixa desde logo bastante aliviados. Era de esperar aliás que a Secret Seven não falhasse na tentativa de tornar estes objectos em algo de especial, quando o catálogo da label é preenchido com as mais meticulosas e recheadas reedições, entre as quais o muito raro cartucho 8-track de Blue Navigator, o clássico do mestre folk Michael Hurley (que nesta casa tem também um split partilhado com Cass McCombs). Mas voltando às compilações e avaliando mais de perto a música que cada uma nos traz, é possível reparar que a Secret Seven dá espaço a algumas vozes mais calejadas (Kelley Stoltz e Paula Frazer andam nisto há mais de quinze anos) e a outras da nova turminha irrequieta (caso de Ty Segall e Sonny Smith). Com os ouvidos sintonizados em In a Cloud I não há como deixar de reparar que Paula Frazer sabe o que é uma canção de surf-rock (“What Does it Take?” merecia os créditos finais de um Quentin Tarantino), da mesma maneira que o Ty Segall de “Hey Big Mouth” percebe que um riff letal é o suficiente para tornar suportável todo o ruído. Pois bem, eu que nem morro de amores pelo Ty Segall e prefiro de longe Thee Oh Sees, devo conceder ao primeiro o mérito de um dos pontos altos do disco, porque o seu principal concorrente “Contraption” soa demasiado a out-take dos out-takes da banda liderada pelo John Dwyer. Sem a maluqueira de John Dwyer por perto, In a Cloud II é uma colecção bem mais delicada e fofinha que a sua antecessora, mas nem por isso inferior. De facto, as canções desta segunda leva chegam a ser tão delicadas que mais parecem baladas para adormecer fãs de Stray Cats (escute-se “Octopus Via Satellite”, da promissora Hannah Lew) ou doo-wop gravado na calma do Havai (Wymond Miles surge por empréstimo da Sacred Bones com “Don’t Ask This of Me”).  É muita a doçura deste In a Cloud II, mas ainda bem porque por vezes também apetece descansar da distorção e aproveitar a tranquilidade com a miúda de que se gosta.