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Milhões de Festa

Rock como deve ser, psicadelismo e sopa na mortalha

Dias quentes, noites duras.

As noites são duras em Barcelos e não há nada melhor para curar a ressaca do que voltar à piscina para mais uns mergulhos e uns concertos agradáveis. As tatuagens estão em todo o lado, há alguns chapéus de palha e bonés com pala levantada, algumas bóias e alguns gajos giros — sim, porque o Milhões não é só miúdas.

Os Gnod começaram com o aquecimento perfeito de Reveangence com o seu hardcore a fazer-se ouvir, e sentir, num raio de distância razoável. O gang das Discotexas acabou por se apoderar da cabine na maior parte da tarde. A dupla Xinobi & Moullinex provocou os primeiros balanceares de corpo do dia. No Taina, os galegos Unikornbot tocavam de chapéu em bico. Devem ser uma seita. De volta à piscina, a imparável Da Chick cantou para um pequeno mar de gente sedento de groove. O final da tarde ficou para os BRO-X. Vestidos, como habitualmente, a rigor, os irmãos de Xangai trouxeram o seu hip-hop intrépido da Margem Sul e toda a gente quis acompanhá-los no refrão da “Karla Puta”. Ouvi dizer que andava por lá essa Karla. Descendentes dos Radio Moscow, os Blues Pills foram a banda que abriu o Palco Milhões e não fugiram muito ao estilo dos progenitores: rock como deve ser. Depois da passagem dos Lüger pelo palco VICE, foi a vez de El Perro del Mar deslumbrar quem tinha jantado cedo. A simplicidade e boa-onda da vocalista, a par da música, culminaram num belo momento para o chill. Os Phrinzorn Dance School cantam a duas vozes, uma masculina e outra feminina: ela toca baixo, ele bateria. Às vezes parecem uns The XX mais alternativos (lol), no resto do tempo parecem uma banda de pós-punk minimalista e repetitivo. Com a cor do cabelo a causar dúvidas sobre o género, Connan Mockasin ofereceu provavelmente o ponto mais alto da noite. Guitarras psicadélicas e uma voz ternurenta para dar de comer à alma de qualquer um. Os portugueses Gala Drop deram continuidade à espacialidade, mas de forma um pouco mais densa e pesada, a viajar sem sair do sítio. O headbanging, o air guitar e o crowdsurf regressaram no concerto de Weedeater. Embora competente, o trio não pareceu ter convencido a não ser os fãs acérrimos do sludge metal. Os Ghunagangh são um MC e um DJ do Porto e talvez por isso se tenham ouvido cenas do tipo “o Rui Rui é um filho da puta” ou “põe sopa na mortalha”. Publicist é os Monotonix da electrónica: de máquina GoPro na testa, com luz de mineiro, tocou sozinho, e bem, no meio do público. O XXXY acabou por fechar a noite, ou abrir o dia, com malhas house para manter toda a gente de pé. Fotografia por José Ferreira e Paulina Skrok