Black DiamondOut-erOrlando é um daqueles nomes que só funciona bem num artista estrangeiro — quando aplicado a um português faz-nos imaginar um homem consideravelmente careca que não pina desde que o Sporting foi campeão. Orlando Voorn é por sua vez um dos mais intensivos produtores holandeses que não perde nada com o nome que os pais lhe deram. Voorn é aliás um músico bem-sucedido na maioria dos registos em que se aventura. Faz isso com que, no seu extenso currículo, conte com uma série de discos que vão desde a pura techno até à drum n’ bass, sem deixar de parte a acid ou o cultivo assumidíssimo do hip-hop (antiga paixão de Voorn e a raíz do recenteOrlando Voorn Presents La Cliqa). Na verdade são raros os produtores que conseguem manter este tipo de regularidade e diversidade sem alguns acidentes de percurso.Orlando Voorn não é excepção e a prova disso está na discrepância entre dois dos seus mais recentes discos (intervalados por apenas alguns meses): o EPThe Big Roomé um calhau de techno monolítica e grosseira, que não soaria desajustada numa rádio manhosa às duas da manhã, enquantoBlack Diamond, o terceiro álbum em nome próprio, é um híbrido de techno e electro que revela as mais refrescantes noções de groove e de melodia. O título já pertencia à estreia de Buraka Som Sistema e a ilustração da capa lembra claramente alguns clássicos de King Crimson, mas tudo o resto corresponde ao vocabulário desenvolto de Orlando Voorn. Pertence-lhe por completo o mérito de nos estimular a mente, com a ousadia experimental de uns Autechre, ao mesmo tempo que nos convida a tirar a parte de cima da roupa com ritmos tão cheios de África como “Acid Trip”. Mas este Orlando deixou-me rendido logo na primeira faixa, “Rewind”, em que se escutam samples que parecem ter sido retirados do jogoTumblepop. Enganado ou não, o meu coração é teu.
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