






Mohamed Morsi da irmandade muçulmana foi dado como vencedor.As eleições que se realizaram deram o poder ao primeiro civil a presidir os destinos do país que se unia assim em torno de um presidente que, pela primeira vez, tinha sido eleito pela vontade popular.Um ano mais tarde, essa união tinha terminado e os egípcios sentiam-se enganados. Acusavam o presidente de ter como prioridade implantar um estado islâmico no país ao invés de resolver os problemas que preocupavam a população. O sentimento geral era o de que o país estava bastante pior do que no tempo da ditadura.Confrontados com uma grave crise económica, uma queda nas receitas do turismo, um aumento da desigualdade e um aumento do fundamentalismo religioso, a população voltou às ruas em massa para pedir eleições antecipadas.O objectivo passava pela destituição de Morsi. Estávamos no final de Junho de 2013 e o exército lançara um ultimato ao presidente do país. Ou Morsi aceitava as demandas populares ou então as forças armadas teriam de intervir.Morsi não cedeu, e em Julho deste ano, o exército pôs fim ao primeiro governo considerado democraticamente eleito.Uma onda de felicidade invadiu os corações da maioria da população, traída pelas intenções da irmandade, mas os afectos ao presidente deposto reagem com fúria ao que chamam de golpe militar. Sentem que Morsi é o legítimo presidente do país.Começa aí então uma nova onda de violência no país. E é no meio desta clivagem social e política que eu chego ao Egípto. Cedo vejo a influência militar nas rotinas diárias de milhões de pessoas, check points militares, tanques, AK's-47 e soldados fazem parte da paisagem da cidade. Para além disso, vivia-se o mês do Ramadão.
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Os confrontos mantêm-se e os cidadãos saem à rua para proteger os seus bairros. Vigilantes civis. Outra variável a ter em conta neste já de si complexo confronto.Com o decorrer dos acontecimentos percebo que ficar no Egípto não era suficientemente seguro para mim. Peço auxílio à embaixada para que me ajude no regresso a casa, achei que seria o normal procedimento a adoptar. Pois bem, enganei-me. A embaixada estava fechada para fim-de-semana.Depois de ter revelado a minha desilusão com os serviços diplomáticos portugueses a alguns jornais portugueses (que preferiram não publicar), leio que o Secretário de Estado das Comunidades afirmava que não se encontravam turistas no Cairo e ninguém tinha solicitado ajuda para sair, apesar de ter conhecimento do oposto.Em poucos dias resolvi a minha situação, embarcava para Portugal quando julgava que a minha estada ia durar. Senti-me arrancado de uma realidade que tomava como minha. A preocupação com o país é algo que se mantem, o regime militar hoje, assemelha-se à ditadura que vigorava antes de 2011. A luta pela liberdade continua a ser travada. A censura impera, mas a ilusão da democracia teima em manter-se. Se há coisa que a Primavera Árabe nos mostrou foi que, num instante, tudo muda.