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Tecnologia

A ciência não pode te salvar da ressaca (mas dá uma ajudinha)

Compilamos os estudos de 2015 para melhorar suas bebedeiras em 2016.
Crédito: Flickr/Paul Joseph

Vamos ser francos? A gente sabe que você começou 2016 entornando vários copões de vodka, uísque, cerveja e, desculpa lembrar, aquela sidra marota. (Segure a ânsia, por favor.) Não adianta esconder as fotos, amigão. Seus olhos denunciam. Você se lascou e agora enfrenta, com a triste dignidade de quem vive isso com frequência, a sua primeira ressaca do ano.

Na sua cega busca por conforto, você pode pensar que a ciência já deu um jeito de te salvar da moléstia que tem afligido seres humanos desde que arrumaram uma forma de fermentar um cacho de uvas, certo? Talvez algum tipo de pílula. Ou aquela solução salina que os ricos estão pirando agora.

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Infelizmente, não. Você está fodido, cara. Sabe por quê? Porque ressacas são meio que um mistério. A constelação diversa de sintomas que chamamos de "ressaca" é, por mais que grupos como Alcohol Hangover Research Group (AHRG) estejam tentando mudar isso, um fenômeno pouco estudado.

Os estudos feitos até o momento mostram que os sintomas da ressaca são a combinação de diversos fatores associados ao consumo de álcool – ele te desidrata, interrompe o sono e é parcialmente metabolizado na forma de um composto muito reativo chamado acetaldeído que pode ser tóxico ao corpo. Em concentrações altas o bastante, pode levar à sudorese, à náusea e a outros sintomas terríveis.

Os pesquisadores também notaram altos índices de moléculas conhecidas como citocinas em pessoas com ressaca. Essas moléculas são usadas pelo sistema imunológico para comunicação, o que levou aos estudiosos a hipótese de que as ressacas se tratam de reações inflamatórias do sistema imunológico, como quando você contrai uma infecção.

O fato é que não existe uma única explicação para o que causa a ressaca e nenhuma cura – ainda. Mas os cientistas continuam a investigar as causas de nossas ressacas e como curá-las. Eis o que aprendemos sobre estar ressaqueado em 2015. Use em 2016 (e dá um jeito nessas olheiras, bicho.)

PÊRAS ASIÁTICAS SÃO SUAS AMIGAS

Crédito: Flickr/advencap

Depende muito das suas decisões na noite anterior. Antes de você começar a beber e tal.

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De acordo com um estudo de pesquisadores da Organização de Pesquisa Científica e Industrial Australiana, ingerir o suco de pêras asiáticas, também conhecidas como peras-nashi, pode aliviar alguns dos sintomas da ressaca como perda de memória e fotossensibilidade. A pegadinha é que você tem que beber o suco antes de encher a cara.

Na pesquisa, os participantes ingeriram 220 ml de suco de pêra antes do consumo de álcool. "Em especial, vimos reduções nos níveis de acetaldeído no sangue, o metabólico tóxico que se supõe ser o responsável por sintomas de ressaca, associadas ao consumo do suco de pêra", afirmou o principal autor do estudo, Manny Noakes, ao Sidney Morning Herald, em agosto.

Outro estudo de menor escala dos Institutos Nacionais de Saúde revelou que a ingestão de suco de pêra coreana antes do consumo de álcool pode reduzir a severidade da ressaca no geral, perda de memória, melhorar a concentração e reduzir os índices de acetaldeídos no corpo.

ALGUNS REMÉDIOS POPULARES TALVEZ FUNCIONEM MESMO

Kudzu. Crédito: Flickr/DM

O suco de pera não é o único remédio natural para a ressaca que passou pelo escrutínio científico em 2015 e saiu como vencedor.

Uma pesquisa publicada no periódico Natural Product Sciences, publicação da Sociedade Coreana de Farmacognosia, revelou que uma combinação de extratos de diversas plantas reduzia a presença de metabólitos da ressaca em ratos. Dentre as plantas temos a kudzu, por vezes conhecida como araruta japonesa, e a Sorbus commixta, ou sorveira japonesa. Estudos anteriores sugerem que a kudzu pode reduzir os níveis de acetaldeído, e a Sorbus commixta, por sua vez, tem propriedades anti-inflamatórias.

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Quando ministrada em ratos, uma dose de 200 mm de uma combinação de extratos vegetais reduzia os níveis de acetaldeído até em 11% quando comparado com o grupo de controle. Cabe lembrar, acetaldeído é o metabólito potencialmente tóxico deixado pelo álcool que os pesquisadores acreditam causar sintomas de ressaca em seres humanos.

Outro grupo de pesquisadores sul-coreanos publicou suas descobertas sobre a eficácia da Acanthopanax senticosus (por vezes chamada erroneamente de "ginseng siberiano") no periódico Die Pharmazie. De acordo com os pesquisadores, doses dos extratos vegetais resultaram na redução significativa nos sintomas da ressaca nas cobaias, dando crédito à ideia de que a ressaca é uma reação inflamatória do corpo.

AINDA NÃO HÁ CURA

Crédito: Flickr/Christopher

Esta é, infelizmente, a triste realidade da ressaca: se você tem uma, já se fodeu.

Ao passo em quem alguns remédios naturais podem ajudar, eles só tratam partes daquilo que faz da ressaca um inferno – não existe uma "cura" 100% (quer dizer, tem: não beber).

Pesquisadores se depararam com a mesma conclusão quando conduziram uma pesquisa com quase 2.000 estudantes holandeses e canadenses sobre seus hábitos de bebedeira e estratégias para evitar ressaca. Duas descobertas a partir disso: beber água antes de dormir não ajuda muito pela manhã, e os únicos estudantes que conseguiram fugir da ressaca foram os que não beberam o bastante para ficarem bêbados.

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"Quanto mais você bebe, maior a probabilidade de ter uma ressaca", afirmou o principal autor da pesquisa, Dr. Joris Verster, membro da AHRG, à BBC em agosto. "Ingerir água pode ajudar com a sede e a boca seca, mas não evitará o mal-estar, dor-de-cabeça e náusea."

A ciência ainda tem um longo caminho a percorrer antes de termos uma pílula que faça tudo ir embora. Então o que resta fazer agora?

A melhor pessoa que pode dar conselhos sobre é um dos principais pesquisadores liderando o estudo da ressaca, Richard Stephens, psicólogo da Keele University do Reino Unido e membro da AHRG. Ele declarou ao Atlanticem uma entrevista do ano passado que, sempre que bebe demais, toma um café da manhã reforçado com bastante fritura, como todos nós não-cientistas. Isso porque uma refeição cheia de batatas, pães e demais alimentos lotados de carboidratos podem ajudar a repor o açúcar no seu corpo.

O álcool inibe a capacidade do fígado de liberar glucose na corrente sanguínea, resultando no que é conhecido como efeito hipoglicêmico – a baixa do açúcar no sangue. Por mais que soe esquisito, seria bom acompanhar tudo com um tiquinho de refrigerante. De acordo com um estudo de 2013 cujo tema era tratamentos líquidos para a ressaca, refrigerantes tipo Sprite são os mais eficazes na redução do acetaldeído no corpo graças a um aditivo comum: a taurina.

Relaxa, coma uns carbs e, sei lá, tira um cochilo. Feliz Ano Novo.

Tradução: Thiago "Índio" Silva