O mapa da Magia Sexual
ATUALIZAÇÃO 18/03/13: Entre as informações da nossa cobertura do III Simpósio de Hermetismo, constava a descrição de que a Associação Sírius-Gaia “era um grupo de bruxos, com rituais sexuais”, entre outras informações. A Associação entrou em contato com o objetivo de esclarecer que as atividades do grupo possuem uma natureza diferente das mostradas no texto e retiramos os trechos que informam sobre a organização.
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Exatamente 23 minutos após começar a perambular pelo III Simpósio de Hermetismo e Ciências Ocultas, eu fui reconhecido. Assim, sem cerimônia ou aviso. Vejo um cosplay de Constantine (sobretudo surrado, barba por fazer) misturado com Harry Potter (óculos redondos) se aproximando de mim e chamando meu nome. Ser reconhecido na maior conferência aberta de Magia do Brasil não parece ser a coisa mais legal pra acontecer no momento, ainda mais pra alguém expressamente decidido a passar despercebido como jornalista.
Mas o cara que me encontra ao menos é meu amigo. Felipe Cazelli, um professor de Filosofia do interior do Espírito Santo que foi convidado pra dar a polêmica palestra sobre Magia do Caos, e que também integra o grupo cheio de gente insana chamado Gramateia, dedicado ao estudo do que foi chamado cyberocultismo — o único grupo envolvido com Magia ao qual me dispus a fazer parte.
Uma conferência de Magia não é lá muito diferente de um daqueles congressos de multinacional. Boa parte dos figurões se conhecem e nem sempre são amigos, os subalternos ficam felizes em compartilhar conhecimento de iniciantes e rola uma não discutida disputa de egos, que é tão identificável quanto uma espessa névoa que paira em uma cidade durante uma manhã fria.
O lugar escolhido pra sediar o Simpósio (que começou no feriado do dia 2 e terminou no domingo, dia 4 de novembro) é a Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, e no curto caminho que faço do metrô São Joaquim até lá, percebo que a escolha não é exatamente à toa. De um lado da rua vejo uma loja maçônica, de outro um centro de meditação Zen e desconfio ainda ter visto discretos símbolos rosa-cruzes em outros estabelecimentos. Posteriormente descubro que o Grande Oriente Maçônico de São Paulo está logo à frente. Se o Dan Brown fizesse essa rota, com certeza iria parir um livro sobre os segredos seculares presentes nos arredores do bairro da Liberdade.
No local, mais diversidade: um dos palestrantes era negro, todo vestido de branco, quipá na cabeça e, nas mãos, um livro clássico sobre a Golden Dawn escrito por Israel Regardie. Basicamente um clichê contraditório ocultista. Descobri depois que ele era o Frater Caciano Compostela, que iria palestrar sobre Magia Sexual. Os próximos momentos foram surreais e envolveram os organizadores em busca do meu crachá, perdido entre centenas de outros, mais duas pessoas me reconhecendo pela minha coluna de Ocultismo no portal Mob Ground, e finalmente a chegada do Cazelli.
Fernando Maiorino. Foto: Divulgação
Minutos depois, silêncio e todos no auditório Bunkyo pra primeira palestra, comandada por Fernando Maiorino, representante-geral da Associação Educacional Sírius-Gaia — o grupo ocultista que co-organizou o evento. O tema da palestra é “Magia: Verdades X Ilusões”, e ela foi exatamente o que o nome adiantou: uma longa e entediante explanação sobre como a Magia é percebida no mundo moderno — besteira, coisa do capeta, e por aí vai. Foi uma contradição com o próprio tema do Simpósio, que era Magia Prática. A apresentação em Power Point também não ajudou a melhorar o ritmo, e só as piadas cheias de timing de Maiorino salvaram a palestra.
O grande problema dessa primeira palestra foi o próprio Maiorino, que deu a entender que é carregado de moralidade subjetiva barata, no mesmo caminho de ordens de Magia que são consideradas herdeiras da tradição da Fraternidade Branca — um grupo de estudiosos que ascenderam a “planos superiores” e trabalham continuamente pela evolução do planeta etc. Esse papo vai longe. Isso ficou claro quando ele definiu Magia como “a busca do real ser de cada um”, em contradição com o sentido prático de definições mais clássicas como a de Aleister Crowley, que dizia que Magia tratava sobre “a arte de causar mudanças de acordo com a vontade”.
Aleister Crowley
Alguns agrupamentos, como a Maçonaria e a Ordem Rosa Cruz, apostam em caridade pra suprir essa lacuna moral; outros, em ajudar os emocionalmente fracos e terminam por subverter os estudos do oculto em nome desse tipo de trabalho social. Outros ainda, como o Templo de Seth e a Ordem de Nove Ângulos, fazem justamente o contrário e se autodenominam “esferas negras” de ação mágica, integrando ao seu sistema de crenças longas orgias, sacrifícios de animais e um tipo geralmente condenável de feitiçaria, que envolve amarrações, maldições e outras coisas. Todas as ordens dessa tradição subvertida devem muito a Anton LaVey e sua Igreja de Satã, que nasceu com o objetivo de detonar publicamente as corruptas igrejas cristãs e hoje é considerada como puro marketing de terceira classe.
“Nada é verdadeiro, tudo é permitido”, versa a frase atribuída a Hassan-i-Sabbah, líder da Ordem dos Assassinos. Pecados, erros e contradições estão na mente de cada um, e dogmas deveriam passar longe de qualquer sistema mágico.
Maiorino divide a Magia em Sagrada e Arbitrária. Enquanto a primeira torna o mago “um instrumento de forças superioras”, a segunda traz “o mago como operador máximo de sua própria vontade”. Isso destoa do que ele define como o objetivo da Magia, que “é obter uma coerência entre o que se acredita e o que se expressa”, uma das máximas do psicanalista alemão Erich Fromm, mas totalmente desprovida de misticismo.
Quando a seção de perguntas se inicia, presencio um primeiro conflito de ego: Frater Goya (ou Anderson Rosa) — fundador e chefe do Círculo Iniciático de Hermes, uma ordem de magia inspirada nos ensinos de Aleister Crowley — pega o microfone e explana uma severa crítica ao chamado Teatro da Magia, que pode ser resumido como toda a ritualística ocultista, com cristais, varinhas, círculos e pentagramas. É uma concordância ao que Maiorino falou, ao mesmo tempo em que se torna uma comparação entre a ordem dele, e a representada pelo palestrante, a Sírius-Gaia. Goya pergunta quão puxados são os ensinamentos da Sírius-Gaia, ao mesmo tempo em que acrescenta que “os treinamentos da sua ordem” são bastante exigentes.
Frater Goya. Foto: Tiago Mazzon
Segundos depois, Goya percebe a natureza ridícula de seus comentários carregados de ironia: ao mesmo tempo em que criticava a teatralização dos rituais, ele estava vestido com um robe negro — “do mesmo modelo utilizado por Lordes Sith”, conforme me conta posteriormente uma funcionária da loja de artigos esotéricos de onde ele encomenda seus trajes. Ele faz piadas na tentativa de sair pela tangente, junto com comentários sobre médicos e jalecos.
A Magia ocidental moderna nasceu da revolução ocultista promovida pela Golden Dawn, uma organização secreta iniciática fundada no Reino Unido em 1888. Antes dela, os ensinos de Magia do Ocidente eram uma colcha de retalhos mais bagunçada que o mapa político do continente europeu após a queda de Roma. Tradições como a Astrologia, a Alquimia e a Gnose travavam uma guerra silenciosa pelo predomínio do conhecimento de Magia. Os movimentos ocultistas mais conhecidos eram fortemente inspirados no Oriente e eram muito mais teóricos do que práticos, como é o caso da Teosofia, criada por Madame Blavatsky mais ou menos na mesma época.
Coube à GD unir a Magia Cerimonial (o tal teatro) com a Kabbalah, uma tradição judaica que dividia os estados espirituais em 10 esferas (e que serve como esqueleto de quase todas as tradições mitológicas mundiais) e abandonar o esoterismo barato. A partir dos ritos da GD, o Ocidente conheceu novamente a prática por trás do ocultismo. Viagens astrais, oráculos, uso de espelhos, tudo isso voltou a ser legalzão graças à Golden Dawn. Na esteira dessas mudanças, vieram os robes, bolas de cristal, papos com anjos, caldeirões e uma série de outros itens que haviam sido soterrados pelo Iluminismo no século anterior.
Apesar de ter três fundadores, a Golden Dawn só teve um superstar: Samuel MacGregor Mathers, que organizou muitos de seus rituais e foi responsável por sua hierarquia — chefiada por ele próprio, após algumas mudanças e ataques nos bastidores. Mas foi sua personalidade ditatorial um dos fatores responsáveis pela decadência da Ordem, junto com a chegada de Aleister Crowley, que bagunçou a situação da organização ao tentar se tornar líder de todas as lojas de Londres, com apoio de Mathers. O plano foi frustrado pelo poeta William Yeats, que assumiu o comando da situação, mas não conseguiu impedir a decadência total da Golden Dawn, em 1903. Crowley pulou fora do barco e fundou a Astrum Argentum, e poucos anos depois iria causar estrago semelhante na Ordo Templi Orientis, aquela ordem da qual participaram Paulo Coelho e Raul Seixas.
Frater Compostela se revela um showman nato e ficou encarregado de explanar, por uma hora e meia, os poderes de uma boa trepada. Ele não precisa de palco ou microfone e apresenta seus ensinos na própria plateia. Nenhuma demonstração prática, obviamente, e sim uma explanação do que são os Quatro Elementos (Fogo, Ar, Terra, Água, os mesmos naipes de qualquer baralho), sua correspondência no corpo humano e como isso influencia uma transa. Ele explica que sexo no que foi chamado de Plano Terreno, traz uma série de modificações no Plano Astral, o que na terminologia mágica, é onde tudo acontece e a mente atua. Basicamente o que Alan Moore conceituou como Immateria em seu quadrinho clássico de ocultismo, Promethea. E essas mudanças podem ser guiadas por ritualística e pela vontade dos magistas.
A atuação da Magia Sexual envolve o controle do orgasmo e o acúmulo de energias com um propósito que deve ser colocado à mente ao fim da transa. O ideal é que apenas um desejo seja expresso por orgasmo, que se forem sincronizados são ainda mais poderosos, segundo acreditam magistas há mais de oito séculos. Punhetas também valem, embora sejam menos efetivas.
Tal teorização não é bem aceita. O psicanalista austríaco-americano Wilhelm Reich difundiu teorias parecidas, mas terminou trancado na cadeia até a morte e teve todos os seus livros incinerados (isso em meio à liberdade dos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial).
Quando se fala em Magia Sexual, a primeira coisa que geralmente se pensa é o Kama Sutra. Embora o Kama Sutra não seja exatamente um manual de sexo com algum grau de magia, alguns ocultistas utilizam as posições lá demonstradas pra “potencializar a energia corporal em certos chakras”, um trabalho que, segundo eles, pode curar ou mesmo criar “fenômenos milagrosos”.
Existem outros usos do sexo em rituais de ocultismo. As substâncias liberadas no corpo durante o ato sexual são alteradoras da consciência e é esse aspecto que é focado na realização da vontade. Segundo os ocultistas, durante uma trepada, os dois corpos funcionam como polos opostos energizados e retroalimentados, e o tipo de poder gerado é o segredo mágico. Inclusive, Robert Anton Wilson, em “O Gatilho Cósmico”, relaciona o sexo mágico como um dos segredos dos controversos Illuminati, que foi herdado pela Ordo Templi Orientis. As melhores referências ao simbolismo da Magia Sexual que já vi estão na 10º edição de Promethea, “Sex, Stars and Serpents”, escrita por Alan Moore.
Compostela termina a palestra com a relação do tipo de poder que os fluidos sexuais geram em rituais. Existe até uma hierarquia de poder, iniciado pela saliva, seguido pelo sangue e completado pelos líquidos sexuais. Um tipo especial de fluido pode ser obtido em uma transa e é ainda mais poderoso: sêmen combinado com o fluído vaginal. Tais líquidos podem ser usados pra “batizar” artefatos ou mesmo pra “dar vida” ao que o Frater chamou de Elementar, que é uma criatura astral resultante do acúmulo de energia (sexual ou não). Basta espalhar o líquido em uma representação física da criatura, nomeá-la e dar algum tipo de serviço mágico a ela.
Banquinha de artigos esotéricos
Isso me leva a pensar: por que praticar Magia ou se denominar Mago em pleno século XXI? É o século do cinismo, da soberba ditatorial científica, da ascensão e queda do capital e do pós-pós-tudo. O próprio Simpósio está cheio do que chamo de pós-místicos: caras que não mais pregam aquele tipo de separação sociológica clássica dos hippies e de outros tipos esotéricos que abraçam a chegada da Era de Aquário pra ascensão mágica. Agora tudo se integra. Uma conversa com o Sagrado Anjo Guardião de manhã e uma sessão de 007 – Operação Skyfall num multiplex à noite. Ritual de prosperidade na Lua Nova alinhada com Vênus, e férias regadas a cerveja e maconha no outro fim de semana. Acabaram a reclusão e os rituais com exigência quase monástica. Os Magos estão entre nós, assim como os hippies abandonaram os campos alagados e voltaram às cidades após verem na tecnologia da informação uma forma de transformar o mundo e criarem a internet.
Em última análise, a Magia é uma forma de concentração mental que muito absorveu das teorias do Inconsciente Universal de Jung e, décadas depois, das teorias de correlações quânticas. É por isso que qualquer tipo de estudo ocultista é cercado de uma simbologia intensa e de forte pegada mitológica. Se os símbolos são a linguagem do Inconsciente e nós moldamos a realidade ao nosso redor, a Simbologia é uma espécie de arte de alteração comportamental e da realidade que nos cerca. Os ritos são criados unicamente pra focar a mente. Isso não foi dito apenas por magos como Christian Rosenkreuz (responsável pela fundação da filosofia rosa-cruciana) e Aleister Crowley, mas também por psicólogos como Robert Anton Wilson e físicos como Jack Saffarti.
É óbvio que poucos praticantes de Magia estudam a fundo pra entender como uma coisa se relaciona com outra, a maioria prefere repetir fórmulas prontas de autores como Amit Goswami e Fritjof Capra, e dizer uma série de citações que deem algum tipo de embasamento à visão de mundo deles.
As próximas duas palestras expõem justamente essa ligação ciência-magia, e uniram temas como neurociências e física quântica e Magia mental. A primeira é do casal Liliane Friedericks e Carlos Augusto Morini, dirigentes do Instituto Ubiratan de Ciências da Religião e da Magia e do Santuário do Paganismo. Pra ilustrar o tipo de possibilidades existentes dessa união, eles descreveram o trabalho da Fundação Cacique Cobra Coral, conhecida mundialmente como um grupo esotérico empenhado em mudanças climáticas. Entre os feitos mais difundidos do grupo, chefiado pela médium Adelaide Scritori, está a diminuição de 29º C (de -30º C a -1º C) em um dia, após um inverno particularmente violento no Reino Unido, em 1986. Por esse motivo, eles ganharam a gratidão eterna da odiada Margaret Thatcher.
Um resumo da palestra é o crédito dado pela dupla de cientistas — ele, mestre em Ciência da Religião, e ela, mestre em Hospitalidade — à Consciência (o mais correto seria dizer à Inconsciência) como portadora do poder direto de ação sobre a matéria, mas sujeita a uma espécie de vontade universal. Por isso nem sempre a vontade de alguém é realizada. Pra isso, embasam suas afirmações em obras de cientistas especializados na relação entre a física e a consciência, como Fred Alan Wolf e os próprios Capra e Goswami. Também é interessante a abordagem deles acerca das formas como a consciência pode ser alterada sem o uso de químicos: desde o uso da dança até a música, todos os métodos presentes em rituais de grupos de misticismo extáticos, como os Sufis.
Lázaro Freire. Foto: Tiago Mazzon
Mas se a palestra de Carlos e Liliane tem um caráter universalista e insere uma pessoa dentro de engrenagens universais, Lázaro Freire possui uma abordagem diferente e, de certa forma, complementar. O título é “O Segredo da Magia Mental” e envolve desde conceitos básicos acerca do Inconsciente até a forma como ele percebe a realidade ao nosso redor. O ensino de Freire, um neuropsicanalista da Universidade Federal de São Paulo, culmina com uma espécie de tabela pra interiorizar sua vontade e fazer com que ela se torne adequada à realidade. Itens como “identificar a forma como ela pode se manifestar” são de suma importância, reitera Freire. É possível detectar nele uma compreensão mais ampla do que simboliza a Magia num contexto moderno: algo cotidiano, um sistema subjetivo que serve pra resolver problemas corriqueiros até manter um diálogo com o Inconsciente.
Ao partir desse princípio, não é difícil concluir que o chamado Sagrado Anjo Guardião (Augoeides, pros mais modernos) – “acessado” através de meditações, leituras do Tarot, Geomancia, isolamento, jejum, celibato e uma infinidade de outros métodos — seja o que Carl Jung denominou Self, um integrador de todos os processos do Inconsciente.
Após Lázaro Freire terminar a parte dele e de termos coffee break no capricho, Cazelli sobe ao palco pra falar de Magia do Caos. Em dois minutos de palestra deu pra entender que poucos ali tinham a mínima ideia do que era aquilo, e quando ele pediu pra que levantasse a mão quem praticava Magia do Caos, só eu levantei. Após uma plateia imersa num misto de confusão e ceticismo, o Caos conseguiu pegá-los pela orelha e os fez entender o que estava por trás daquela maluquice toda. Aos poucos eles entenderam a ideia, seja com piadas baratas, seja com gráficos relacionando as práticas caoístas com todas as grandes tradições ocultistas da história.
A Magia do Caos surgiu na mesma época em que Crowley mudou pra sempre o conceito de Ocultismo no Ocidente — mais ou menos o que Friedrich Nietzsche fez na Filosofia. O principal vetor dessa subversão dentro da subversão foi Austin Osman Spare, um artista brilhante que só não é lembrado em todos os livros de Magia por ter aversão a divulgar os próprios conhecimentos, além de uma visível inabilidade pra escrita.
Spare foi convidado por Crowley pra integrar a Astrum Argentum, mas não ficou por lá muito tempo. Ele odiava a Magia Cerimonial com todas as forças e começou a desenvolver um sistema extremamente pessoal, fortemente influenciado pela Psicologia, e que consistia numa forma de comunicação direta entre o Inconsciente e o Consciente.
Spare era um artista extremamente talentoso e rebuscado, e aplicou a Arte em seu sistema chamado Sigilização. É um processo simples: basta escrever o que você deseja, retirar as letras repetidas (e, dependendo do ensino, as vogais — uma influência direta do misticismo hebraico) e criar um desenho com as letras restantes. Esse desenho deve ser carregado até o Inconsciente através de estados alterados da consciência: tontura, raiva extrema e, o mais popular, o orgasmo. Depois basta afastar do cérebro a ânsia por resultados.
Spare dizia que não importavam os métodos utilizados ou as crenças envolvidas, o mais importante na Magia é o resultado. Pra isso, o Mago está livre pra adotar qualquer sistema de crença enquanto realiza um ato mágico, e futuramente criar seu próprio sistema inexplicável e altamente funcional. Não é à toa que Spare era muito impopular e até Crowley o considerava assustador, um Mago Negro em sua totalidade.
Foi Peter Carroll quem organizou os ensinos de Spare num amplo metassistema e o denominou Magia do Caos. Em 1978 ele fundou o Illuminates of Thanateros (IOT), um Pacto Mágico de praticantes do Caos. O resultado foi um sistema mágico pós-moderno que parece ter sido criado por Thomas Pynchon, graças ao forte ecletismo. Pra IOT entraram alguns dos caras mais brilhantes e que mais admirei no século passado: Robert Anton Wilson, Timothy Leary e William Burroughs. Grant Morrison é outro, que inclusive contribuiu muito na difusão do sistema, com sua obra-prima Os Invisíveis e seu manual de magia intitulado Pop! Magic. Outro grupo underground importantíssimo pra Magia do Caos é o Thee Temple ov Psychick Youth (o TOPY, surgido na mesma época da IOT e encerrado em 2008), uma rede mundial de Ocultistas malucos que trouxeram o sexo ritual pra dentro do Caos.
Após a palestra, eu e o Felipe Cazelli fomos embora do evento e inclusive perdemos uma mesa redonda sobre a prática da expansão da consciência com uma dançarina e um sheik de ordem Sufi. Fomos nos encontrar com outro nome importante da Magia do Caos no Brasil, Alessio Esteves, e bebemos num bar qualquer na Liberdade, comentando o evento. Lá, minha namorada Carla Cavalcante ainda se juntou a nós e imitamos os indígenas e fumamos um charuto em nome da harmonia do grupo.
Enquanto fumávamos, Cazelli comenta como se preparou astralmente pra tomar a frente do palco e não ter qualquer problema. Explico: quando a divulgação do evento começou, um dos pica-grossas da Magia do Caos no Brasil, que atende pelo pseudônimo de Pássaro da Noite, resolveu se manifestar. Disse que o Cazelli não possui “autoridade” pra falar de Magia do Caos e que só não havia ele mesmo ido palestrar porque viajaria pra Alemanha, Holanda e outros países europeus. Todo esse bate-boca barato aconteceu no antro do Pássaro: o grupo Kaos-Brasil no Facebook, uma extensão do site onde ele arquiva seus ensinos e uma lista de discussões pros participantes de CAOS, o jogo — uma mistura de RPG e iniciação à ordem dele.
Palestra sobre Magia no cinema. Foto: Tiago Mazzon
No dia seguinte só compareço às primeiras palestras. Uma do Marcelo Del Debbio sobre Oráculos e outra sobre A Magia do Cinema. Pra mim, o evento havia terminado na noite anterior, com aquele bate-papo ritualístico no fim da noite. A minha dose de ego e disputas entre ordens mágicas nacionais já estava suficiente e resolvi abandonar o evento enquanto havia absorvido mais coisa boa do que merda.
À noite ainda joguei o Tarot e vi uma combinação interessante: o Eremita e o Quatro de Paus, uma clara mensagem pra relaxar, descansar e estudar. Decido ficar em casa e deixar a próxima dose de Magia pra outra ocasião.
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