“Agora não é mais #nãovaitercopa, é Contra a Copa”, me conta o Victor, um dos organizadores e puxadores do 4º Grande Ato Contra a Copa, que aconteceu nesta quinta-feira (27) em São Paulo. O grupo, estimado pela polícia em 1,5 mil pessoas, saiu da Praça do Ciclista na Av. Paulista e seguiu pacificamente até a Praça da República. Como usual, o trajeto era “secreto”, o que nos últimos protestos tem se revelado como “vamos virar na rua mais reta e movimentada possível”. Descendo a Av. Brigadeiro Luís Antonio, houve o primeiro sinal de que as coisas podiam não acabar tão bem. “Eles já me marcaram. Me pararam e revistaram minha bolsa, pois sempre ando com ela cheia, mas de água, vinagre… Acompanho todos os protestos e sei que eles já me marcaram. Estou aqui hoje porque sou contra esses eventos, como a Copa e as Olimpíadas, que criam essa divisão entre países, esse patriotismo na base do pão e circo”, conta Fábio Harano, funcionário da USP e militante.
Essa característica incerta e secreta pode também representar o destino e força desses protestos: tomar a maneira mais óbvia e direta para chegar… Aonde mesmo? Dentre as pessoas com quem conversei, poucos realmente acreditavam que a Copa poderia não acontecer. Dos que acreditavam que o cancelamento seria uma possibilidade, os mesmos “nossos impostos estão indo embora”, “é uma vergonha” era o que sustentava a fé. Ouvi as mesmas coisas nos protestos anteriores e também no da Família, que, entre outras coisas, denunciavam os gastos com a Copa.
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Com a polícia revistando bolsas e garrafas, um black bloc começou a sacudir uma no ar só pra fazer os caras irem lá identificar o conteúdo: xixi.
Que todo mundo está puto, não é nenhuma novidade. Mas esses protestos parecem estar sob a sombra de algo que marcou os últimos protestos convocados pelo MPL, que foi a tal “falta de pauta”, ou a presença de muitas genéricas, mas sem projeto ou justificativa que force um cancelamento imediato do evento. Tiago Aguiar, do grupo estudantil Juntos, acredita que as Jornadas de Junho e as manifestações que seguem acontecendo “estão transformando a juventude e a maneira de como o povo exige seus direitos: mas não acredito que a Copa consiga ser impedida”. Bandeiras representando cursinhos populares, movimentos feministas e LGBT estavam lá no meio de tudo, sem pedir nada, somente expressando sua insatisfação ou afirmando que a Fifa não os representava.
Quando o ato ainda começava, conversei com Igor Leone, um dos Advogados Ativistas, que me contou que hoje o novo órgão da Justiça, o Ceprajud, departamento que ajudaria a agilizar as prisões em manifestações, estaria funcionando, mas o comandante da operação Marcelo Pignatari desconhecia tal órgão e ficamos sem saber se eles estavam a postos mesmo, pois ninguém foi preso até o fim do protesto. Após o grito de guerra e encerramento, um grupo ainda continuou gritando e pulando em frente às catracas do Metrô República, mas foram barrados pela PM e os seguranças do Metrô, e logo foram dispersados. Pelo que entendi, o grupo tentava forçar a barreira policial com uma senhora que parecia aleatória a tudo na linha de frente, com gritos que a incentivavam a não pagar a catraca porque “ela também volta cansada do trabalho, gasta muito com o transporte, enquanto os seguranças do Metrô e policiais não precisavam pagar transporte, então por que deveriam os outros trabalhadores do país?”.
Enquanto a manifestação passava por um hospital na Av. Brigadeiro, o grupo inteiro fez um silêncio sepulcral em respeito ao local. Senti que o controle e a união entre os manifestantes existia, quase em um acordo não dito. O que falta ser dito, e talvez mostrado, são novos diálogos e projetos sociais que realmente acuem as autoridades no canto e não dar mais motivos para acontecer o contrário. O único policial que respondeu minha pergunta se iria ou não ter Copa, talvez por estar de saco cheio, ou então por não ter medo de sofrer represália por falar em nome da PM, simplesmente me respondeu, “Tá feito”.
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