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As 'fake news' que levaram Trump a deixar o acordo ambiental de Paris

Ceticismos sobre as mudanças climáticas são causados por estudos equivocados, desinformação e mentiras.
Ilustração: Lia Kantrowitz

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE US.

Donald Trump cumpriu uma promessa que fez em 2015: iniciou a retirada dos EUA do Acordo Climático de Paris. Esse é apenas o sinal mais recente de que o presidente norte-americano não dá a mínima para as mudanças climáticas; na verdade, ele já tuitou que acredita que o aquecimento global é um embuste criado pelos "chineses" para minar a economia dos EUA. Mas isso não foi só outro peido cerebral da autoridade máxima do país — Trump tem várias opiniões loucamente divergentes sobre todo tipo de questão, mas a questão climática é uma em que ele tem sido bastante consistente.

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Trump ocasionalmente posta links de matérias reais sobre previsões climáticas individuais que se mostraram erradas, e sua fé de que as mudanças climáticas não estão acontecendo é baseada, basicamente, em notícias falsas. O que torna esta semana uma ótima oportunidade para conferir a maneira como todo tipo de bobagem molda os diálogos sobre o clima.

Antes de começarmos, aqui vai um fato: as emissões de gases-estufa causadas pelos humanos estão aumentando as temperaturas no mundo. Agora que tiramos isso do caminho, aqui vão alguns itens equivocados sobre o clima, climate hawks e o Acordo de Paris.

O Acordo de Paris Teria Custado 2,7 Milhões de Empregos aos EUA até 2015

Quando Trump anunciou a saída do acordo na Casa Branca, justificou a decisão economicamente, dizendo que o acordo "pode custar aos norte-americanos mais de 2,7 milhões de empregos perdidos até 2025". Esse ponto foi fabricado num estudo financiado pela usina de ideias conservadora e grupo de lobby American Council for Capital Formation.

Você pode ler o estudo, ainda que seja bastante idiota da parte de Trump se referir a ele, já que os pesquisadores supunham um nível de ação agressiva do governo que já não tinha acontecido. O estudo se baseia na ideia de que o governo faria uma ofensiva contra negócios em nome da redução de emissões de poluentes, mas não leva em conta ajustes que os negócios fariam em resposta às novas realidades de mercado. Como o próprio estudo admite, ele ignora "os benefícios em potencial de evitar emissões", e acrescenta: "Os resultados do estudo não são uma análise de custo-benefício das mudanças climáticas".

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O Acordo de Paris Teria Um Efeito Muito Pequeno nas Temperaturas

Essa é boa: durante seu discurso sobre não tomar nenhuma medida sobre as mudanças climáticas, Trump disse que o Acordo de Paris não está fazendo o suficiente para combater as mudanças climáticas. De certa maneira ele está certo: os passos iniciados em 2015 não eram o suficiente, segundo o trabalho de 2016 do MIT a que Trump se refere. Ainda assim, o presidente é obtuso sobre o que o estudo está realmente dizendo.

O autor do trabalho, John Reilly, disse ao Washington Post que "discorda completamente" com o ponto do Trump. É importante notar que o presidente não parece ter nenhum plano para combater as mudanças climáticas, enquanto o Acordo de Paris já deu vários passos na direção certa, que precisa ser seguida não importa o que aconteça. É preciso fazer outro acordo no futuro para aprofundar o comprometimento com o corte de emissões, depois outro, depois outro. Essa é uma característica do acordo, não uma falha.

A Esquerda Não Sabe Nada Sobre Mudanças Climáticas

Como muitas coisas que Trump faz, é difícil para direita defender a decisão de sair do Acordo de Paris. Então as pessoas se focam em criticar os liberais. Nos cantos mais bocós da internet, isso resultou em várias paródias imbecis.

A congressista da Califórnia Maxine Waters é especialmente feroz em suas críticas ao presidente. Talvez por isso, alguém criou uma conta falsa no Twitter chamada @MaxineVVaters para fazer parecer que a congressista não sabe como marés funcionam (e não sabe escrever direito). Claro, o tuíte é uma piada, mas resultou em pedidos sérios pela renúncia dela.

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TUÍTE 2

Na mesma linha, o criador de Dilbert Scott Adams — um cara com uma posição bem pouco clara sobre mudanças climáticas — achou o tuíte acima tão hilário que riu "por dez minutos". Anthony Watts, do blog negacionista do aquecimento global Watts Up with That, escreveu um textão sobre uma nova tendência entre os idiotas de esquerda de culpar Trump pelo clima. Mas o tuíte original é uma piada. E vinda de um fã de Trump.

O Aquecimento Global Parou

Gráfico via NOAA.

Mês passado o Watts Up with That anunciou o retorno triunfante da "Pausa". Isso não é algo que Trump disse especificamente, mas é um bom exemplo do tipo de argumento com que os céticos das mudanças climáticas gostam de brincar como desculpa para não fazer nada sobre nosso planeta estar cada vez mais quente.

A Pausa é uma história velha que sempre reaparece. Alguns registros de temperatura em 2012 pareciam indicar um platô de temperaturas, e essa informação foi mostrada aparentemente em todo lugar por alguns anos. Mas em 2015, a Administração Nacional Oceanográfica e Atmosférica dos EUA (NOAA em inglês) refutou a ideia da Pausa com um relatório explosivo.

Isso confundiu pacas os negacionistas das mudanças climáticas, que tiveram que achar um cientista do NOAA que dizia que a administração tinha violado algumas de suas próprias normas na preparação do relatório. Mas desde então, o mundo viu três anos consecutivos de altas recorde de temperatura. Bela Pausa, né?

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De volta a Watts: ele achou o tuíte de um cientista dizendo que a temperatura global média tinha caído de maneira anormal durante o mês de abril, o que deu a ele uma desculpa para postar um monte de gráficos e números que, supostamente, mostravam o retorno da Pausa. Claro, alguns dias depois o mesmo cientista tinha um novo gráfico mostrando que as temperaturas continuam na mesma tendência sombria de sempre.

O que isso realmente mostra é que não faz sentido acompanhar essa questão mês a mês, como os negacionistas fazem. Só gráficos de longo prazo como o acima mostram quão terrível é essa história. O planeta está cada vez mais quente, e isso não é nada bom.

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Tradução: Marina Schnoor

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