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Entretenimento

Este vídeo com ladrões mandando salves pra Bolsonaro e Lula é a cara do Brasil

Um dos mais recentes sucessos do zap brasileiro explica a atualidade.
Ilustrações por Luiza Formagin/VICE.

Eu estava navegando na rede, manja? Surfando na web, como faço sempre que não estou deitado no sofá com a camisa coberta de molho barbecue e farelos de nuggets. E eu estava no Twitter do Alexandre Frota. Por quê? Eu sei lá. É tanta coisa ao mesmo tempo que eu fico perdido. Você usa a Internet também. Você sabe como a gente é levado dum lado pro outro. Uma hora você tá respondendo sua mãe no Messenger e em outra já tá vendo no YouTube episódios dos anos 50 dos Flintstones que tinha merchan da Lucky Strike. Entende?

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Eu acho que entro no Twitter do Frota simplesmente porque achei engraçada essa transformação dele. O cara saiu daquela persona carioca-malandro-doidão que usava Fubu e tinha um considerável carisma para esse escandalizado patriota protetor da moral, da família brasileira e das crianças, o futuro do país!

E o Frota estava revoltado com o que tinha visto e resolveu postá-lo no Twitter. Eu tinha que ver porque: sim.

Era um vídeo de um roubo aparentemente bem executado. Uma gangue estourou um cofre - parece ser de uma transportadora - que tinha uma boa grana. Eram daqueles vídeos em que os caras se gravam na missão. Para tirar uma onda, mandar no WhatsApp pros cria e logicamente rever depois o momento em que o sistema esteve a seus pés. Quanto a uma possível prova contra si mesmo? Acho improvável. Os caras tavam tudo de balaclavas improvisadas. "Mas e a voz? Vão poder rodar num banco de dados e achar os donos das vozes!" Não, cara, isso não é o CSI.

Os caras comemoravam, mostravam a grana que iam tirando do cofre. Até que um manda "Chora não, Geddel!" O ex-ministro Geddel tinha chorado quando soube que iria ficar preso por tempo indeterminado. A menção ao Geddel pelos ladrões foi por conta do apartamento com 51 milhões de reais em cash que a PF descobriu.

E aí a coisa ficou política.

Enquanto é exibido para a câmara um bolo gigante de notas de 50, um dos ladrões manda: "Aí Temer, seu filhadaputa." Um outro completa: "Seu desgraçado!" Outro lá no fundo completa: "Pensa que é só você que rouba?" E o que vinha tirando o dinheiro do cofre completa: "Nós também rouba, irmão."

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É isso, mano. Hoje o tradicional ladrão que aparece no Datena justifica tranquilamente seu roubo baseado nas centenas de ato de corrupção dos políticos brasileiros. Embora sim, a criminalidade esteja ligada a falta duma estrutura política que ofereça o mínimo de condições para que todos partam do mesmo lugar no Jogo da Vida; hoje em dia o ladrão pode justificar, com nome, referência pop e tudo mais o seu crime baseado no "Mas eles roubam muito mais!" porque nunca a pauta "corrupção" foi exposta tão amplamente. Política não é mais exclusividade do jornal que o brasileiro médio não lê. Política não é mais exclusividade do Jornal Nacional que o brasileiro médio não assiste. Política chega no brasileiro médio através de memes no Facebook e WhatsApp.

E naquelas, né? Sem romantizar e defender o crime, mas chega a ser engraçado pensar na quantia que os ladrões conseguem colocar na bolsa. Aquilo ali é troco da padaria perto de um apê decorado com malas cheias de dinheiro - aliás, a prova de que dinheiro não compra bom gosto.

Aí o curta-metragem chega no seu clímax. Enquanto seguem guardando o dinheiro - em dado momento inclusive, um ladrão pisa no dinheiro dentro da mochila para prensar e poder caber mais um bolo de dinheiro -, há o seguinte diálogo:

LADRÃO 1
Aí Bolsonaro, meu voto é seu, ladrão.

LADRÃO 2
É nóis seu comédia!

LADRÃO 1
Eu vou votar em você, Bolsonaro!

Wow. Essa você não esperou. Segue o filme:

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LADRÃO 1
Aí Bolsonaro, sei que cê é ladrão, mas vou voltar em você, filhadaputa!

LADRÃO 2
O Lula tem que ganhar de novo, porra! Tamo rico!

E seguem cantando, catando dinheiro, mostrando a visão e sendo felizes com uma noite que deu certo. Eu sei que você deve estar curioso sobre por que um ladrão apoiaria o Bolsonaro, um cara com uma visão de repressão policial que faz o Alckmin parecer o Exército Suíço. Eu não tenho explicação. De verdade. Apenas sei que esse é o retrato do Brasil. É a mãe que chora a morte do filho numa ação da PM mas que em outro dia defendia a redução da maioridade penal. É o gay classista. É a feminista racista. É o playboy maconheiro que ouve um Racionais e sacaneia empregada. É o cara contra o aborto, pois ele é a favor da vida, mas que quer que essas vagabundas vão abortar lá em Cuba!

Bom, pelo menos foi curioso ver um fã de Lula e um de Bolsonaro unidos para um bem comum. Eles encerraram o assunto político rapidamente e continuaram na missão. O crime continua sendo uma das poucas instituições de confiança no país.

PS- Nota mental: parar de acessar o Twitter do Alexandre Frota.

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