Antes mesmo de aprender a escrever, Camila Padilha, 22, já estava desenhando. A mulher que descobriu como relacionar os quadrinhos, a política, o feminismo e as questões LGBT+, vai lançar o seu primeiro zine na CCXP (Comic Con Experience) de 2018. Políticas mostra a visão da autora sobre as eleições desse ano, com personagens que discutem a inclusão e o desenvolvimento político e democrático no Brasil.
Camila ainda não tem paciência para ler livros com muito texto e pouca ilustração. Isso fez com que ela adotasse os quadrinhos como método principal de se contar histórias. Desde então, gosta de misturar a fantasia com o campo político e mais que real dos tempos em que estamos vivendo. "O meu trabalho vai ter sempre duas faces: uma que é a face lúdica da história em que a gente conhece melhor os personagens e uma parte política, onde falo sobre assuntos relevantes", fala.
Hoje, com quase 40 mil seguidores no Instagram, a artista tem uma relação muito saudável com seus seguidores, que se envolvem totalmente com os personagens que Camila criou, muito por conta da identificação, e não é coincidência.
Da esquerda pra direita: Brenda, Pandora, Vinicel, Mila e Ralls. Ilustração: Camila Padilha.
Desde o famoso esquerdomacho até a sagitariana do amor livre, ela apresenta cinco personagens com suas próprias características dentro de um contexto atual e relevante. A Brenda, por exemplo, é a mãe do rolê, dá esporro, não tem muita paciência, mas é amiga pra vida toda. Enquanto isso, a Pandora, uma personagem que Camila pensou na inclusão e representatividade das pessoas com vitiligo, é uma menina solta na vida que curte aproveitar a liberdade mas tem dificuldades de se mostrar de modo profundo e íntimo para alguém.
"O Vini é tímido, ansioso, tem problemas de autoestima e os amigos tentam ajudar ele com isso", define Camila, sobre o personagem que traz um raciocínio mais lógico nas discussões colocadas nas tirinhas. Ele e o Ralls são os únicos homens presentes nos quadrinhos. Para ela, Ralls é extremamente necessário, pois é o clássico amigo que toca violão na rodinha, curte Chico Buarque e comete clássicos erros de quem tem o privilégio masculino em suas mãos, mas as amigas sempre dão aquele esporro consciente, principalmente a Mila.
A Mila, por fim, é uma amiga explosiva, cheia de energia, líder e espontânea, que tenta animar a galera e ajuda no que pode. "Penso nas características dos personagens refletindo na nossa geração. Ela tem muito isso, como problemas com autoconhecimento e autoestima", diz.
Camila mostra o complexo de masculinidade frágil, a Pan com seus problemas de autoestima e a Mila cobrando políticos e o sistema judiciário brasileiro de um modo que representa o dia a dia dos jovens brasileiros.
Ilustração: Camila Padilha.
Pra a autora, a arte é um dos meios mais antigos de se manifestar politicamente, e o HQ não é só um espaço de homens brancos falando sobre super-heróis.
Camila decidiu entrar no mercado para mostrar que existem trabalhos de HQ feministas e politizados, e que se pode falar sobre qualquer coisa nesse meio. Depois de entrar na faculdade de design, ela começou a desenhar compulsivamente e sentiu uma necessidade de colocar esses trampos em algum lugar. Foi aí que criou o Instagram Aliens of Camila, onde posta todos seus desenhos e histórias em quadrinhos. "Como pra mim os quadrinhos sempre foram muito atraentes e acessíveis, eu imaginei que seria a melhor forma de abordar esses temas e fazer com que as pessoas vejam", completa.
Como os assuntos são os mais irritantes possíveis pros haters da internet, ela recebe muitos comentários e ameaças por aí, mas quer reforçar sua fala política, para amplificar a voz e as ideias no mundo. "Enquanto uma mulher resolver se manifestar de forma política, levante a voz e diga que não concorda com essas sociedade patriarcal, vai ter gente implicando e falando que essa mulher só quer chamar atenção e ficar falando besteira."
Saque mais trampos da Camila no Instagram e abaixo:
Ilustração: Camila Padilha.
Ilustração: Camila Padilha.
Ilustração: Camila Padilha.
Ilustração: Camila Padilha.