Por que nenhum dos estúdios brasileiros faz games blockbusters tipo 'GTA'?
'Horizon Zero Dawn', jogo que teve participação dos brasileiros da Kokku. Imagem: Guerrilla Games/Divulgação

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Por que nenhum dos estúdios brasileiros faz games blockbusters tipo 'GTA'?

O sonho do jogo AAA brasileiro é difícil de virar realidade.

Há alguns anos muita gente pirava na ideia de um jogo feito no Brasil, no naipe de GTA, Halo ou World of Warcraft, os chamados games AAA. No meio dos anos 2000, quando os MMOs estavam em alta, até rolaram algumas tentativas por aqui, como os jogos Erinia, da extinta Ignis Games, e Taikodom, do estúdio Hoplon.

Naquele tempo era tudo mato no cenário de jogos brasileiros e, mesmo que essas tentativas tenham dado ruim, elas tiveram uma certa importância, nem que fosse para mostrar que ainda faltava muito arroz e feijão e pixels para criar algo da mesma qualidade de EUA, Canadá e Japão, onde estão os principais e mais famosos estúdios de jogos.

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A Hoplon, pelo menos, não se arrepende de ter tentado criar um jogo assim. " Taikodom é lembrado até hoje com carinho pela comunidade e reconhecido pela indústria nacional como iniciativa pioneira", falou o diretor do estúdio, Rodrigo Campos, à VICE. "[Com Taikodom] a gente aprendeu tanto do ponto de vista de produção quanto de comercialização de um jogo."

Acima: Trailer de 'Taikodom'.

O estúdio ainda continua nessa vida louca de criar jogos, mas nunca mais tentou algo tão ambicioso quanto Taikodom de novo. O atual projeto da Hoplon, Heavy Metal Machines, é uma mistura de League of Legends com carros.

Hoje muito mais gente faz jogos no Brasil, graças ao boom dos indies, e alguns desses jogos são bem da hora, mas aquele pensamento sempre ficou: será que algum dia o sonho do jogo AAA brasileiro vai finalmente virar realidade?

Ninguém melhor para responder essa pergunta do que alguém que já esteve envolvido na grande produção de um game. A Kokku é um estúdio de Recife que ajudou a Guerrilla Games no desenvolvimento de Horizon Zero Dawn, um dos principais lançamentos de PlayStation 4 no primeiro semestre desse ano. Os brasileiros tramparam como estúdio de apoio e foram responsáveis pela arte 3D do jogo.

Thiago de Freitas, diretor da Kokku, é bem sincerão e manda a real de que um jogo AAA não deve rolar por alguns bons anos ainda. O motivo é até óbvio: um projeto desse come muita grana, na casa das dezenas de milhões de dólares. Mas não é só isso.

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"Acredito que, primeiro, precisamos aprender com as pessoas que fazem esses tipos de jogos AAA [como o caso de Horizon Zero Dawn] para depois arriscarmos aqui no Brasil o desenvolvimento de projetos tão ambiciosos", falou Thiago à VICE. "O primeiro passo nós já demos: aprender com os melhores do mundo."

O Brasil não tem um jogo AAA para chamar de seu. Ainda. Mas isso não quer dizer que os games daqui não tenham qualidade e façam sucesso. É só perceber como muitos deles agora aparecem no PlayStation 4 e Xbox One. Chroma Squad, da Behold, foi lançado recentemente nos dois consoles e Eliosi's Hunt, da TDZ Games, deve chegar neste mês de agosto ao aparelho da Sony.

Até mesmo o novo Nintendo Switch vai receber games feitos por aqui nos próximos meses, como Rocket Fist, Dandara e Celeste. Ter um jogo brasileiro no videogame da Nintendo é um marco. Esse é um cenário que seria difícil de imaginar na época de Taikodom, o que nos faz pensar se realmente a gente ainda precisa que um jogo AAA seja feito por aqui.

"Muitos esperam um AAA criado aqui Brasil nos próximos anos, mas eu sinceramente não acredito que precisemos disso para mostrar um amadurecimento", falou Marivaldo Cabral, da QUByte, estúdio que lançou 99 Vidas – O Jogo para PS4. "Em cinco anos os jogadores nem vão notar grandes diferença entre um jogo desenvolvido por uma empresa brasileira ou outra de fora do Brasil."

Isso nos leva a outra questão: os desenvolvedores brasileiros hoje estão sequer afim de fazer um jogo AAA? A QUByte não tem esse desejo. A Behold, um dos estúdios BR mais bem-sucedido atualmente com Chroma Squad e Galaxy of Pen & Paper, também não quer. Como falou Saulo Camarotti, um dos diretores da Behold: "A gente não tem interesse em fazer um Call of Duty".

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"A gente quer criar jogos indies de qualidade internacional, tipo um Journey, que vai aparecer ali na loja do PlayStation em destaque", disse Saulo. Esse é o objetivo deles com o próximo projeto, o game de tiro e sobrevivência Out of Space, que neste ano recebeu um investimento de R$ 1 milhão através do edital da Ancine.

"Em cinco anos os jogadores nem vão notar grandes diferença entre um jogo desenvolvido por uma empresa brasileira ou outra de fora do Brasil." – Marivaldo Cabral

Talvez ainda demore uns 10 ou 20 anos pro FIFA ser criado no país do futebol e não no Canadá. Talvez outros estúdios brasileiros, como a Kokku, chamem a atenção de uma EA, Bethesda ou Rockstar e ajudem na criação do próximo GTA, por exemplo.

Não tem problema algum em continuar sonhando em sentar na mesa dos adultos do mercado de games global um dia. O que importa, porém, é que bons jogos já estão sendo feitos por aqui e, se aparecer um game AAA, será apenas mais uma consequência de toda um histórico de qualidade dos criadores do Brasil.

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