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Música

Não Deixe o Metal Nacional Morrer com o Crowdfunding do Doc 'Brasil Heavy Metal'

E lembram do já clássico tema oficial do filme, o Hino do Heavy Brasileiro? Ele ganhou nova versão para dar um gás na arrecadação de fundos para finalizar o doc.

Dick Siebert, baixista do Korzus e um dos mais conhecidos militantes do heavy metal nacional, conta que, em meados da década de 1980, quando surgiu o comentário e os primeiros áudios do então novidade Metallica, uma pessoa na roda de amigos corrigiu na hora: "Não é Metallica ô meu, o nome da banda é Atômica, eles são lá de São José dos Campos", referindo-se ao grupo brasileiro formado em 1985.

Ou seja, ser headbanger no Brasil naquela época significava estar de olho em pequenos movimentos que surgiam em vários cantos do território, como os pioneiros do Stress, que apareceu ainda em 1974, em Belém; a cena mineira, carioca ou, um pouco mais tarde, em São Paulo, com as coletâneas SP Metal 1 (1984) e SP Metal 2 (1985), que seriam consideradas as primeiras compilações de artistas que faziam som pesado no período — inclusive o Noisey esteve na histórica reunião dessa galera, em julho deste ano, no SESC Belenzinho.

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Ricardo "Micka" Michaelis era apenas um adolescente e, à sua maneira, também integrou essa efervescência embrionária do heavy metal no País com a banda Santuário, formada em Santos e que integrou a SP Metal 2.

Em 2008, ao tentar relembrar fragmentos da cena do metal brasileiro, Micka, que possui uma produtora na capital, percebeu que, apesar das inúmeras bandas, festivais e histórias, as informações estavam "muito espalhadas". Surgia aí a ideia da produção do Brasil Heavy Metal, documentário em fase de finalização que traça um panorama desses personagens que, embora vivessem numa fase em que o País já sediava, por exemplo, festivais do porte do Rock In Rio, ainda atuavam no underground. A maioria dessas bandas sequer atravessou para a década de 1990.

Este aqui é o trailer, lançado nesta terça-feira (8):

Com 80 depoimentos de músicos, empresários, jornalistas, lojistas e ilustradores do período, o filme faz um paralelo entre o sonho de dois garotos de montar uma banda com as histórias (emocionantes e engraçadas), narradas por seus protagonistas — algumas pílulas dessas entrevistas já foram divulgadas com enorme sucesso nas redes sociais do projeto.

"O sonho (na época) era chegar na Galeria do Rock, colar um panfletinho na vitrine da Baratos Afins e ver quem ia tocar na Praça do Rock, no Carbono 14, no Rainbow Bar ou no Mambembe. Sabia que queria estar lá fazendo parte disso", lembra Micka, que nessa brincadeira de fazer metal foi parar até na Colômbia.

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Paulinho do Witch Hammer.

Com previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2016, começou hoje a campanha de crowdfunding para as etapas finais da produção — os fãs apoiadores vão receber material exclusivo do Brasil Heavy Metal.

Para incentivar a participação dos fãs, a produtora criou a campanha O que uma multidão é capaz de fazer?, registrada neste vídeo de bastidores:

Clipe destruidor

Ainda em 2010, no decorrer da produção do documentário, a produção reuniu 16 vocalistas em um legítimo "We are the world" da pancadaria. Composta pelos paraenses do Stress, uma versão do clipe, que leva o nome do documentário, já atingiu quase meio milhão de visualizações. Cantando estão membros de bandas como Korzus, Centúrias, Vírus, Overdose, Viper, Metalmania, etc..

No entanto, para a campanha de lançamento do filme, foi finalizada uma nova versão dessa reunião carregada de emoção, história e, é claro, muito heavy metal oitentista.

Aproveitamos toda essa comoção histórico-metaleira para levar um papo com Micka, do Santuário, em dois momentos: nos bastidores do SESC Belenzinho e, agora, para o lançamento da reta final do Brasil Heavy Metal. Ele falou dos desafios e das recompensas que ele acumula nesses quase dez anos de produção. Leia o papo depois dos reclames do plim-plim:

Noisey: Quando você percebeu que uma produção como o Brasil Heavy Metal poderia ser desenvolvida?
Micka: Faltava algo que coordenasse as informações desse período e desse sentido a todo esforço percorrido pelos pioneiros do estilo musical no Brasil. Sabia que tudo havia acontecido simultaneamente, mas nos anos 1980, a impressão que cada um tinha é que só estava aparecendo no seu próprio quintal.

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Você dedicou toda sua produtora para essa jornada?
Sim. Usamos toda infraestrutura e experiência no universo do audiovisual e entretenimento. Entre um job e outro fomos agendando as gravações e viajando pelo País.

Como foi a emoção de reviver essas histórias todas diante das câmeras?
Os artistas e entrevistados foram sempre muito gentis conosco, abrindo seus corações e arquivos. Notamos que foi fundamental eu ter sido "um deles". Isso quebrou bloqueios pois falamos o mesmo idioma, somos pertencentes a algo. Percebi a surpresa em muitos deles ao cruzarmos as histórias, datas e fatos. A emoção tem sido muito grande e creio que vai aumentar agora nessa nova etapa. Histórias curiosas como a do Bozó, vocalista do Overdose (banda de 1983, de Belo Horizonte), contando como foi responsável por criar o "S" do Sepultura, ou a do Celso Barbieri (produtor) sobre a elaboração de um disco do Korzus a partir de uma fita K7, entre outras.

Qual a importância do crowdfunding nessa etapa do projeto?
Apesar de termos obtido autorizações para captação de recursos via leis de incentivo, isso não se concretizou. Usamos os nossos próprios recursos ao longo de todos esses anos e isso envolveu viagens, cachês, intermináveis horas de edição, técnicos, cinegrafistas, atores, maquiadores, produtores, cenógrafos… Ufa! Sabemos que o verdadeiro fã de heavy metal é honesto e fiel a seus princípios. Sempre foi assim! Então percebemos que são eles que poderão nos ajudar a trazer à tona essa maravilhosa história. Porém, não trata-se de "me ajude aí". Trata-se de "vamos juntos mostrar ao mundo nossa história". E por isso cada apoio é recompensado com produtos incríveis e inéditos.

Um amigo internacional levou o Santuário, uma banda adolescente, para tocar como banda principal em um festival na Colômbia! Foi uma piração isso hein?
O cenário era 1986. Quem era dono da Colômbia? Pablo Escobar? Onde estava Pablo Escobar? Em Medellín. Onde estava o Santuário por dois meses? Em Medellin! Sim, foi incrível. Vimos isso de muito perto mas não entendíamos muito bem. Viajamos sem saber o que íamos encontrar e vivemos intensamente experiências que jamais imaginaríamos. Nos apresentamos em uma Plaza de Toros para mais de 7 mil pessoas. Também tocamos na arquibancada em um estádio de futebol antes de uma semifinal do campeonato colombiano, estava lotado! Fizemos um programa de TV ao vivo, haviam cartazes com nossas fotos pelas ruas e bares.

Popstars colombianos…
Mas nem tudo foi festa. Passamos perrengues, não vimos um tostão e tivemos que nos virar pra voltar pra casa. Comemos muito pão com ovo e, às vezes, só ovo ou só pão (risos). As histórias são tão sensacionais que já pensamos em rodar um filme sobre isso. Quem sabe, né?

Para acompanhar o desenrolar do Brasil Heavy Metal, vai lá no site oficial ou nas redes sociais: Facebook | Twitter | Instagram | YouTube