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Música

Em Turnê No Brasil, Irmãos Bishop Encerram Projeto que Homenageia o Sun City Girls

A dupla de irmãos mais prolífica do rock experimental do Arizona está no Brasil para um par de shows, em São Paulo e Porto Alegre, homenageando o seu mais famoso projeto, o Sun City Girls.

Criado em 2008, o Brothers Unconnected voltou a reunir Alan e Richard Bishop em torno das canções e improvisações do SCG, um dos combos mais influentes do rock underground dos EUA, que misturava jazz, músicas tradicionais do mundo todo e um bocado de improvisação livre.

Conhecidos por apresentações imprevisíveis e pelo álbum Torch of the Mystics, um clássico alterna que chegou a ser citado em um som do Pavement, os irmãos Bishop resolveram encerrar o Sun City Girls após a morte do baterista Charles Gocher, mas criaram o Brothers Unconnected em paralelo às suas carreiras – entre diferentes projetos, Alan toca a influente gravadora de música global Sublime Frequencies – para continuar o legado do SCG. Nosso intrépido “setorista de \m/” Tiago Vakka contatou o Sir Richard Bishop para descobrir o que a gente pode esperar das apresentações do duo por aqui, sente só:

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Só restam três meses e meio para o final de 2014 e você já lançou 4 discos até agora. Qual o segredo para se manter inspirado, focado, prolífico e dedicado à sua carreira após 30 anos e mais de 50 álbuns lançados?
Por mais que não haja segredo algum, acho que é importante continuar fazendo o que faço melhor, e isso é tocar guitarra de qualquer forma possível. Nem sempre é algo inspirador ou focado, mas ao continuar fazendo, tudo parece se ajeitar em seu lugar de forma natural.

Sabemos da sua paixão pela cultura asiática, indiana, etc. Você tem viajado muito, inclusive, as fotos no seu Tumblr (feitas na Ásia) são foda. As turnês, é claro, fazem parte do seu trabalho, mas é algo que te mantém ligado a outras culturas. Você tem um cronograma dividindo seu ano entre estúdio e turnês/viagens?
Não existe um cronograma pré-definido. Todas as minhas atividades são baseadas na situação financeira atual. Viajo pro exterior quando posso. Faço tours sempre que preciso de alguma grana pra poder pagar o aluguel. E como gravo tudo em casa, posso fazer isso a qualquer hora.

Sinto que muito da sua obra é baseada em experiências espirituais, mas até onde entendi, você não é um cara religioso, mas é algo que você sempre explorar na sua música. Qual a sua relação com a religião?
Não sigo nenhuma religião em específico ou qualquer abordagem mística/espiritual. Mantenho-me aberto a toda e qualquer ideia. Posso encontrar um pouco de verdade em quase todas a religiões, e, infelizmente, posso encontrar ainda mais mentiras. Então é uma questão de filtrar o que é necessário e buscar qualquer coisa que lhe interessa, mesmo que por um curto período.

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Você também se declara uma pessoa esotérica, o que claramente se reflete em sua música, que constantemente coloca o ouvinte em um estado de transe ao ouvir um disco de Sir Richard Bishop. Você poderia falar um pouco da correlação entre sua música e seu lado espiritual?
Não encaro as coisas assim. Não é algo consciente pra mim. Inconscientemente, tenho certeza que ideias espirituais e místicas surgem em minhas músicas, mas nunca é intencional. Apenas É.

Falando de alguns projetos: como vai o Rangda? Há a possibilidade de um novo disco?
O Rangda está parado ultimamente, mas gravaremos nosso próximo disco em janeiro, então espere por um lançamento e uma turnê ou duas em 2015.

Em 2008 você gravou e lançou um split via Southern Lord com o Earth, produzido por Randall Dunn e fez uma turnê com eles naquele mesmo ano. Como foi a gravação? E a tour?
A gravação foi tranquila. Fui ao estúdio do Randall e fizemos acontecer. Duas sessões e estava pronto. Foi rápido e indolor. A turnê europeia foi uma tremenda experiência. Gostei de tocar para todo aquele público que não conhecia meu trabalho. Adoraria fazê-lo de novo.

Quantas guitarras você tem? Sempre que vejo um vídeo seu você toca com uma diferente. Você as coleciona? Tem alguma favorita?
No passado cheguei ter até 20 guitarras de uma só vez. Hoje só tenho cinco (duas guitarras elétricas e três violões). Mesmo quando tinha 20 delas, não me considerava um colecionador sério. Não acredito que colecionar guitarras seja só pendurá-las em uma parede ou esconder num case em um cofre. Boas guitarras são feitas para serem tocadas…Sempre! Então com cinco instrumentos, consigo tocar cada um deles regularmente. Não tenho favoritas porque todas são perfeitas pro que preciso. Atualmente tenho uma 1961 Gibson ES-330, uma 1964 Gibson ES-120T, já os violões são dois violões ciganos estilo Django (De Arte Minog Swign e um protótipo Gitane John Jorgensen) e um violão menor de 1890. Acabei de gravar um disco com este último, que será lançado ano que vem.

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Você se considera um nerd de equipamentos? Poderia nos falar um pouco sobre os pedais e equipamentos que usa hoje?
Estou longe de ser um desses. Tem vezes em que gosto de usar pedais, e outras eu gosto só do som da guitarra sem brinquedos para atrapalhar. Quando uso pedais, geralmente são da TC Electronics ou Electro-Harmonix, reverbs e delays, normalmente. Quanto aos amplificadores, prefiro Fender, Deluxe Reverbs ou Twin Reverbs. Mas eles são muito pesados, então tem vezes que uso um Fender Pro Junior – um amplificador pequeno, um controle de volume e outro de tom. E é isso. Tenho um amplificador acústico especial da Schertler que funciona bem com meu violão menor, que também tem um captador de contato Schertler. Para os violões ciganos geralmente ligo direto em um pedal D.I. ou direto na mesa.

Qual a parte mais interessante em tocar sozinho e com uma banda? Qual você prefere?
Curto ambos, mas prefiro tocar só porque acabo tendo muito mais liberdade pra fazer o que quero sem me preocupar com outros elementos. Mas também traz mais responsabilidades. É um desafio muito maior. Se algo dá errado, não dá pra culpar ninguém além de si mesmo. Tocar com uma banda traz outro tipo de liberdade: a de trabalhar em cima do que os outros estão fazendo e não precisar tocar sempre.

Você também toca com Alan e os Brothers Unconnected como tributo ao Gocher e Sun City Girls. Como estão sendo os shows? Sendo mais específico, o Sun City Girls era bastante conhecido pelas improvisações ao vivo. Nessa turnê tem algum momento em que vocês tem que dar uma segurada pra se manter focado no material do SCG? Ou deixam a improvisação rolar solta?
Os shows do Brothers Unconnected não rolam sempre. Tocamos nos EUA em 2008 e na Europa e Oriente Médio em 2009 e 2010. Além de um show no Cairo no começo deste ano, não toamos muito nestes últimos anos. Estes shows no Brasil provavelmente serão os últimos do tributo ao SCG. Quanto a como tocaremos nestes shows, não teremos tempo pra ensaiar, mas sabemos bem as músicas apesar delas provavelmente saírem meio “soltas”, então haverá muito espaço para improvisar.

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Vocês tem planos para gravar algo juntos no futuro?
Sim.

Que tipo de música você escuta quando tem tempo pra ouvi-la? Há alguma banda ou disco em especial que você poderia mencionar pra gente?
Geralmente estou ocupado fazendo minha própria música pra poder ouvir outra coisa, mas pareço sempre ter discos do John Coltrane e Sun Ra por perto.

Tradução: Thiago “Índio” Silva

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The Brothers Unconnected - Mês da Cultura Independente

Dia 20/09, a partir das 19h;

CCSP - Centro Cultural São Paulo - R. Vergueiro, 1.000, Paraíso.

Entrada gratuita

Retirar os ingressos no local a partir das 17h.

Mais informações: www.culturaindependente.org