Black Alien e Rael durante a sessão de gravação da faixa “Papo Reto”. Filipe Borba/Divulgação.
Desde setembro, quando Rael nos presenteou com o lançamento da música “Rouxinol”, ficamos esperando pelo dia em que seríamos contemplados com um novo disco. Esse dia chegou, e é hoje mesmo. Sexta-feira é dia de maldade, mas também é o dia em que você poderá deitar na sua cama e escutar Coisas do Meu Imaginário, esse compilado de 11 belíssimas canções, produzidas por Daniel Ganjaman.
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O nome, que já tinha aparecido sutilmente na música anteriormente citada — e terceira faixa do disco —, sugere esse universo paralelo abstrato, que habita a mente do Rael. “Essa ideia [do nome] veio quando eu comecei a fazer as pré-produções em casa, então vinha uma melodia e eu me perguntava: de onde que veio isso? Ah, coisa do meu imaginário. Mas ao mesmo tempo, eu acho que [o disco] também leva essas minhas preocupações com o universo, com o mundo do jeito que anda, crises humanitárias, raciais, essas coisas que eu abordo no disco e são preocupações minhas de fato” contou ele, por telefone. O disco, então, é uma união desses dois mundos: o intuitivo, imaginativo, expresso pelas melodias; e o concreto, material, representado pelas letras das músicas. Juntos, eles são a mente do Rael.
Já a parceria com o Ganjaman era uma vontade antiga, que se mostrou um grande aprendizado. “Realmente, ele é um cara que tem um feeling — ele entende o que tem que ser passado quando a gente apresenta alguma ideia pra ele. Então acho que essa percepção dele foi muito importante pro disco, essa soma minha e dele, da gente se encontrar e trabalhar nesse projeto, foi uma coisa muito prazerosa. Ele é realmente uma pessoa que entende de música, então foi muito importante ter ele no disco”. A gravação durou cerca de um mês, em meados de julho, agosto. O processo foi bastante imersivo e, buscando aproveitar a oportunidade — o disco faz parte do Natura Musical, que patrocina projetos musicais por meio de editais públicos — Rael se manteve aberto durante toda a criação, absorvendo o máximo de ideias e vibes do seu imaginário (risos) até o resultado final.
Entre as 11 faixas, três tem participações de amigos. Ogi, Massao e Apolo estão em “Minha Lei” e Chico César aparece em “Quem Tem Fé”, a última do disco. Daniel Yorubá, irmão do rapper, e Black Alien se juntam para cantar “Papo Reto”, um papo retíssimo mesmo sobre drogas e suas tentações. Aproveitando o gancho, Mr. Niterói escreveu um belo texto sobre o disco — e você pode ler aqui com exclusividade, enquanto, sem mais enrolação, você aperta o play e tira suas próprias conclusões:
Em seu projeto solo, ‘Coisas do Meu Imaginário’, Rael mais uma vez se supera. A evolução é clara, e em seus diferenciais mais marcantes: voz límpida e agradável de ouvir, dicção perfeita, flow veloz e genuíno e versos surpreendentes, cheios de punchlines e carregados de informação. Suas rimas contêm links inesperados que causam sensação de satisfação imediata.
Seu olhar sobre as coisas é literalmente sobre: ele sobrevoa como um zeloso e atento vigilante tudo o que envolve existir no mundo de hoje. Analista perspicaz da mudança constante e frenética de valores e comportamento nessa nossa era pós virada de milênio.
“… Que mundo a milhão, veloz / o que acontece, o que fizeste com nós? / vejo os moleques bem pra frente, já de carro e corrente, antes era só uma Caloi Cross…” verso de “Do Jeito”, música que abre o disco com louvor.
Ao longo do álbum há uma constante: as harmonias do produtor Daniel Ganjaman, maestro de mão cheia, acalentam o ouvinte automaticamente ao abraçar, se fundir graciosamente à chuveirada de belas melodias vocais do “homem-plural”, potencializando-as ainda mais.
Seus assuntos são tão diversos quanto seu leque de flows: do amor ao amor à estrada, que carinhosamente reconhece como professora em “Estrada”, passando por outra ode ao rap em “Minha Lei “, que conta com os talentosos MCs Ogi, Apolo e Massao, ao perigo do abuso de drogas em “Papo Reto” co autoria com seu irmão Daniel Yorubá e esse que vos escreve, preconceito e juízes de internet em “Falacioso”, à importância de se ter fé em “Quem Tem Fé “, que com a participação do monolito Chico César fecha o disco com chave de ouro.
“Melodias, frases, poesias”. Informação, pop culture, flows livres de padrões e um papo tão natural que a identificação com as situações narradas é rápida e prazerosa, aliada à instrumentação precisa executada com coração e muito feeling. “Coisas do Meu Imaginário” veio para consolidar Rael não só como um grande rapper, mas também como um grande cantor, compositor e homem de ideias. E prepare-se: esse petardo não sai do meu repeat há dias! Viciante, calmante, revigorante, instigador, Rael veio para ficar, e o melhor: as coisas do seu imaginário agora fazem parte do nosso também!
E saiu uma batelada de conteúdo audiovisual junto com o disco, lógico. Primeiramente, um documentário sobre a produção do Coisas do Meu Imaginário dirigido pelo Filipe Borba:
E segundamente, um clipe incrível pra faixa “Minha Lei”, com participação especial do RAP BR INTEIRO (incluindo Criolo, Mano Brown, Ogi, e grandissíssimo elenco), e até freestyle do Emicida: