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A MPB É Foda: Entrevistamos o Rael Sobre um Monte de Coisa que Não É Rap


Todas as fotos por Guilherme Santana.

Você já deve estar ligado no EP novo do Rael. Ele foi disponibilizado num esquema hacker nos muros de São Paulo e do Rio, e nós lançamos o Diversoficando com exclusividade aqui no Noisey em novembro do ano passado. Já sabe também que o clipe de “Envolvidão” já passou de um milhão de views e já deve ter decorado altos versos de “O Hip Hop É Foda Parte 2” e “Hoje É Dia De Ver”.

Nesta quinta (12) e sexta (13) o Rael lança o EP em dois shows no Sesc Vila Mariana. No repertório tem os seis sons do novo álbum, as mais ouvidas do disco Ainda Bem Que Eu Segui As Batidas Do Meu Coração e alguns sons do seu primeiro solo, o MP3 – Música Popular do Terceiro Mundo. Ainda tem um som novo chamado “Diversoficando”, que nasceu para ser só uma vinheta de abertura, mas ganhou força, rimas, melodia e deve sair num single em breve.

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Noisey: Quais são suas primeiras memórias musicais?
Rael: Muita coisa eu não sabia o nome. O meu pai toca chorinho e ele ficava com o bandolim e eu ficava só com as melodias na cabeça das coisas que ele tocava. Depois que fiquei velho é que fui sacar umas coisas que ele tocava. Puta, aquela ali é Paulo Diniz, aquilo ali é “Brasileirinho”. Mas o que eu ouvia em casa de vinil mesmo era Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Alcione, Agepê. Por parte da minha mãe é mais Alcione e Agepê e da parte do meu pai era música nordestina e chorinho. Ele pegava um Demônios da Garoa e fazia uma versão em chorinho.

E seu pai tocava altos instrumentos, né?
Meu pai toca acordeom, bandolim, violão, cavaquinho, teclado, tudo. Joga na mão que ele vai. Ele me ensinou a tocar zabumba quando eu era pequeno. Às vezes ele ia tocar forró e eu ia com ele. Meu pai é um cara meio maluco. Boêmio. Agora que ele deu uma sossegada.

Seu irmão foi um cara importante na sua formação?
Sim, meu irmão se influenciava pelas coisas que ele via na rua sem ser as coisas que meu pai e minha mãe mostravam. Ele me trouxe o reggae, Chico Science & Nação Zumbi, Racionais. Comecei dançando break com oito anos. Eu tinha oito e ele 12. Meu apelido era Faísca e ele era o Fumaça. Aí vinha os caras mais velhos e chamavam a gente pra dançar break, levavam a gente pra São Bento. A música que a gente ouvia na época era o rap. Racionais, Ataliba e a Firma, Duck Jam, Thaíde, essas paradas.

No seu som fica muito claro que suas referências vão muito além do rap.
Pois é, meu pai me apresentou o Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga e os caras na rua me apresentaram o 2Pac e o Big, mas nem por isso que eu vou deixar falando os outros irmãos lá. Quando eu comecei a compôr essas coisas vieram naturalmente: esse lance de misturar rima com melodia sempre rolou.

E o que você tá ouvindo hoje?
Eu ouço Femi Kuti, Jamiroquai, Logic, Pharoahe Monch, que saiu um disco dele daora agora. Ouço Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Seu Jorge. Jackson do Pandeiro eu gosto de ouvir até hoje. É muita coisa, sem falar nos amigos que mandam uns sons que eu não conheço ainda e isso vai somando.

Você já pensou em gravar um disco que fuja completamente do rap?
Comigo é muito esclarecido isso. Na hora que eu quiser gravar um bagulho de qualquer ritmo que eu já misturei, acho que rola. É uma coisa que tem que vir naturalmente. Eu consegui criar um caminho de liberdade pra mim sem muita gente ficar enchendo o saco. Tem gente que fala, mas já sabiam que eu tinha esse apelo nas minhas músicas.

E como a paternidade mudou sua carreira?
Mudou o modo de encarar o trampo. Eu era um cara meio doidão, deixei de ser um pouco doidão. Fiquei um pouco mais responsável eu acho. O fato de ter um filho me deu esse gás de fazer o bagulho. Não posso ficar errando mais. É preciso mudar certos hábitos, mas acho que foi pra melhor.

E mudou a caneta também?
A gente já tá mais velho, a gente já não pode falar qualquer coisa. A minha oratória também mudou. Não dá mais pra ficar falando coisa de moleque, rola essa preocupação, mas é pro bem também.

Você fez um som novo pro show?
Fiz sim. Eu quis fazer pensando no show e vai acabar virando um single. Vamos ver se a gente solta logo menos. Mas acho que pro show a galera vai ficar surpresa, porque ninguém tá esperando.

Show Rael – Sesc Vila Mariana
12/3 e 13/3, 21h
Sesc Vila Mariana (Rua Pelotas, 141, Vila Mariana)
Ingressos esgotados
Mais informações no site