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Música

Um Rolê em Belém com os Três Melhores B-Boys do Brasil

A gente deu uma volta na capital do Pará com os brasileiros que representaram o país num dos maiores concursos de B-Boy do mundo.

Pelo nome, Luan, Ratin e Iguin fariam a crew dos Sobrinhos do tio Patinhas. Todas as fotos por William Alencar

“O Brasil é foda!”. E vai dizer o contrário pro dono da frase, o Luan San, B-Boy brasileiro que vai representar a América Latina no BC One — um dos maiores campeonatos mundiais de breakdance. Não bastasse ele ter sido vitorioso na etapa continental da competição, ele chegou às cabeças acompanhado de Iguin e Ratin, também da terra. Se os três formassem uma crew, ia ser foda.

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Ainda não é o caso, mas, olhando de longe, dá pra imaginar. Juntamos os três num rolê em Belém, cidade que sediou o campeonato, entre uma pausa para água e fotos de alguns fãs recém-feitos. O trio chamou atenção. Todos tem menos de 1,70m, andam com roupas maiores que o necessário e falam somente o necessário. Lembram jóqueis de corrida de cavalo que não levantam suspeita fora da pista, mas tacam fogo nela quando chega a hora.

Saca a banca do Luan San.

“Chão é chão em qualquer lugar”, me disse Luan. Quando perguntei a ele sobre as dificuldades que o clima poderia trazer na hora da prova, o bafo úmido de caldeirada paraense assolava o Ver-o-peso, o célebre mercado de Belém. Como deu pra perceber, ele não deu muita importância pra isso. Natural de Bauru, no interior de São Paulo, Luan já tinha uma ideia de como é dançar sobre um piso fritando.

Ele tem 23 anos e vem de uma leva de B-Boys crescida às margens das capitais do hip hop brasileiro. Em vez do paviflex na São Bento, os passos rolavam em cima do papelão nas quebradas interioranas. Seus dois camaradas também carregam essa semelhança: Ratin é de Sertãozinho, também no interior paulista, e Iguin é de Anápolis, do estado de Goiás. “São Paulo nem tem tantos B-Boys, os caras do interior que vão estralar por lá”, me disse Luan.

Iguin.

No caso dele, estralar também significa pixar. Ele me mostrou o logo da sua crew, a Funk Fockers, feito no riscado do spray. O Iguin, que tem 19 anos, faz parte da Rock Niggaz. Ainda é uma das poucas crews de Anápolis, mas a situação é melhor do que na década passada. “Hoje tem muita informação. Antes, eu não conseguia ver B-Boys dançando. Era alguma coisa só na TV. A dança evoluiu também, tem horas que parece que é de mentira”.

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O Ratin, da Killa Rockers, estava bem ligado nisso. Ele foi campeão nacional do BC One com um repertório pesado de freezes e floats, mas ali, à paisana, trocamos uma ideia sobre música — a tatuagem no pescoço indica que ele curte ouvir um som. “Tem que ter sorte pro DJ tocar algo que você curte na hora da prova”, me falou ele. A camiseta dos Beastie Boys revelou uma de suas preferências, mas tem outras nessa lista feita pelos três B-Boys.

Pelézinho e Ratin.

É como disse o Pelézinho: “Você tem que impor uma identidade e uma musicalidade”. O premiado B-Boy brasileiro apareceu pra fechar o rolê no Ver-o-peso. Ele estava na cidade para fazer parte do júri do campeonato, mas parecia estar mais preocupado que os moleques. “Eu fico na tensão”, falou ele. Mesmo assim, deu moral pros novos B-Boys. “Nosso país tem muita cultura, como a capoeira. Eu posso utilizar a cultura a meu favor. Essa geração é muito boa”.

Pelézinho estava tão certo que sua afirmação valia por duas. No domingo após o BC One, a Praça da República, no centro de Belém, sediou a seletiva internacional do Movimento Hip Hop Organizado do Pará. Iguin colou por lá como jurado. Cercados por muita gente perto de um coreto e de uma feirinha típica, uma B-Girl batalhava contra um B-Boy pelo primeiro lugar da disputa. No Brasil, o breakdance não se cansa nem no calor.