- Este artigo foi originalmente publicado na VICE Brasil.
“Aqui é onde nos reunimos para nos divertirmos e nos encontrarmos com os amigos”, explica Cabelo, 40 anos, à entrada de uma das principais zonas de skate do centro de São Bernardo, em São Paulo, numa noite recente. O barulho da fricção dava o recado: a “session” já tinha começado.
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Ao lado dele, entre obstáculos e capacetes, havia uma série de pais, tios e avôs que integram o grupo “Old School”, reservado a skaters veteranos, acima de 35 anos. “Andar de skate perto destes tipos é perigoso”, continua Cabelo, em tom de provocação. E acrescenta: “Quando sobem para cima do skate voltam a ter 15 anos. O corpo é de 50, mas a cabeça é de 15”.
O encontro, dizem eles, é de lei: todas as segundas, às 18h00, no Parque Cidade Escola da Juventude Città Di Marostica, a velha guarda do skate marca presença. A iniciativa surgiu da necessidade de fazer sessões separadas dos mais novos. É de se imaginar que seria pelo facto de apreciarem algo mais tranquilo, mas não é o que acontece. Parece que, quanto maior a idade, mais intensos são. Descem rampas, percorrem bowls e deslizam em alta velocidade pelo túnel, um atrás do outro, sem parar.
Segundo Cabelo, os skaters conhecem-se só pelos apelidos. Muitos convivem durante anos sem saberem o nome de cada um. Entre eles, o que mais chama a atenção, pela autenticidade, é Orelha, de 56 anos. Amante do desporto há 42 anos, mantém a forma com as suas manobras. A sua cena preferida é andar em alta velocidade nos “piscinões”. “Vou andar até morrer, só vou parar se me cortarem as pernas”, afirma. Orelha, porém, não gosta da banalização do nome “Old School”. “Velha Guarda é para quem é velho, um gajo que tem 35 anos não é ‘Old School’”, diz. E conclui: “Tem é que ter, pelo menos, 35 anos de skate”.
No entanto, nem todos pensam assim. Giba Cossía, de 53 anos – 40 de skate – vê o grupo como uma forma de respeito para com aqueles que ajudaram a manter a chama do skate acesa e, hoje, desfrutam da contribuição. Segundo Giba, o termo “Old School” já não tem a mesma definição. “Já não é a mesma coisa, caso contrário acabaria por excluir outros companheiros”, diz.
Para ele, então, ser “Old School” pode ser resumido numa palavra: “Eu”. “Vou sempre andar de skate, pico o ponto aqui, ajudo os amigos, sinto-me feliz quando um camarada finalmente acerta numa manobra que não estava a conseguir fazer”, afirma, ao mesmo tempo que pede licença para voltar à pista, o seu lugar de origem.
Abaixo podes ver mais imagens dos skaters.
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