​Retratos dos skatistas quando velhos

Orelha, de 60 anos, mandando seu Ollie gigante: “Muito moleque novo não aguenta um rolê comigo.”Foto: Rafael Moura

“Aqui a gente se reúne pra se divertir e encontrar os amigos”, explicou Cabelo, de 40 anos, na entrada de uma das principais pistas de skate do centro de São Bernardo, em São Paulo, numa noite recente. Os barulhos de fricção davam recado: a session já haviam começado.

Ao lado dele, entre obstáculos e capacetes, havia uma série de pais, tios e avôs que integram a bateria Old School, reservada a skatistas veteranos de acima de 35 anos. “Andar de skate perto desses caras é perigoso”, continuou Cabelo, provocando os demais. “Os cara quando sobe em cima do skate volta ter quinze anos. O corpo é de 50, mas a cabeça é de 15.”

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Cabelo, o cara mais engraçado da bateria. Foto: Rafael Moura

O encontro, dizem eles, é de lei: toda segunda, às 18 horas, no Parque Cidade Escola da Juventude Città Di Marostica, a velha guarda do skate cola por lá. A iniciativa surgiu da necessidade de dar rolês em separado dos mais novos. É de se imaginar que seria pelo fato de apreciarem algo mais tranquilo, mas não é o que acontece. Parece que, quanto maior a idade, mais intenso são os caras: eles descem rampas, percorrem bowls e correm em alta velocidade pelo túnel, um atrás do outro, sem parar.

Segundo Cabelo, os skatistas se conhecem só por apelidos. Muitos convivem por anos sem saber o nome de cada um. Entre eles, o que mais chama atenção pela autenticidade é Orelha, de 56 anos. Amante do esporte há 42 anos, mantém a forma com suas manobras. Sua pegada é andar em alta velocidade nos piscinões. “Vou andar até morrer, só paro se cortarem minhas pernas”, afirma. Orelha, porém, não gosta da banalização do nome Old School. “Velha Escola é pra quem é velho, o cara que tem 35 anos não é Old School”, diz. “Tem que ter é 35 anos de skate, pelo menos.”

Giba, o “Dr. House”, no Back Side Air. Foto: Rafael Moura

Nem todos pensam assim. Giba Cossía, de 53 anos – 40 de skate – vê a bateria como forma de respeito aos caras que ajudaram a manter a chama do skate acesa e hoje desfrutam da contribuição. Segundo Giba, o termo Old School não tem mais uma definição. “Não é mais a mesma coisa, do contrário acabaria excluindo outros companheiros”, diz.

Para ele, então, ser Old School pode ser resumido em uma palavra: “Eu”. “Vou sempre andar de skate, bato cartão aqui, ajudo os amigos, me sinto feliz quando um camarada acerta uma manobra que estava errando”, diz, pedindo licença para voltar à pista, o seu lugar de origem.

Veja, abaixo, mais retratos dos skatistas quando velhos:


Orelha com a mão próxima ao coração. Foto: Rafael Moura


Bob Modesto no Front Side Ollie. Foto: Rafael Moura


Tio Liba, 53 anos, e esse Invert, quase no fim da sessão. Foto: Rafael Moura

Catalan, de passagem pelo túnel Full Pipa and self. Foto: Rafael Moura