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Música

O Passado Nazista Secreto do Ace of Base

Ulf Ekberg, membro fundador do Ace of Base, começou sua carreira como skinhead neo-nazi.

A internet criou um ceticismo sem precedentes quanto à inocência das pessoas. Na era de Eliot Spitzer e Anthony Weiner, parece literalmente impossível para qualquer figura pública existir sem ter pelo menos um esqueleto arranhando para sair do armário. Então a gente até que já esperava que a banda de reggae-pop sueco Ace of Base também tivesse alguns segredos enterrados por aí.

E eles tinham mesmo.

Ulf Ekberg, membro fundador do Ace of Base, começou sua carreira como skinhead neo-nazi.

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E não só isso, ele até criou uma plataforma para seus ideais através da banda nazi punk Commit Suiside, que tinha músicas com “letras explicitamente racistas”. Quão explicitamente, você pergunta? Veja aqui um pequeno exemplo:

"Män i vita kåporna på vägen tågar. Vi njuter när vi huvudena av niggrerna sågar/ Svartskalle, vi hatar dig! Ut, ut, ut, ut! Nordens folk, vakna nu! Skjut, skjut, skjut, skjut!"

Tradução?

“Homens de gorro branco marcham pela estrada, nos divertimos quando serramos as cabeças dos crioulos / Imigrantes, nós te odiamos! Fora, fora, fora, fora! Povo nórdico, acorde agora! Atire, atire, atire, atire!”

Além de se apresentar com o Commit Suiside, Ekberg também era membro dos Democratas Suecos, um partido político que tem “rejeitado” publicamente qualquer ligação com o neo-nazismo. O que é bem interessante, considerando o fato de que o grupo foi fundado por nazistas, e que membros ativos ainda mantêm conexões com grupos de ódio contemporâneos. Por exemplo, Anders Klarström, ex-chefe dos Democratas Suecos. Mais engraçado ainda, Klarström também foi membro do Commit Suiside com Ekberg. Por volta da época em que a banda se desfez, em 1986, Klarström foi condenado por porte ilegal de arma de fogo, bem como por fazer ameaças de morte a um diretor de teatro e entertainer judeu chamado Hagge Geigert, que tinha se declarado publicamente contra o racismo e o neo-nazismo. Naquela época, Klarström se referiu a Geigert como um “porco judeu” e ameaçou queimá-lo.

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A resposta de Ekberg foi pra lá de evasiva. Num documentário de 1997 ele é citado dizendo: “Eu disse para todo mundo que realmente me arrependo do que fiz. Já fechei esse livro.”

Em 1998 um pequeno selo sueco chamado Flashback Records lançou Uffe Was a Nazi!, uma coleção de edição limitada da produção de Ekberg com o Commit Suiside. A capa era uma foto de Ekberg fazendo a saudação nazista. Apesar de só mil CDs terem sido prensados, foi um ataque extremamente prejudicial para Ekberg e o disco logo se tornou um item de colecionador. Uffe Was a Nazi! inclui cinco músicas, como “Rör inte vårt land”, que pode ser traduzida como “Não Encoste em Nosso País” e “Vit makt, svartskalleslakt!”, algo como “Poder Branco, Chacina de Caveiras Negras!”. No álbum você também pode achar uma versão da banda para a música “Smash the IRA”, da banda skinhead white power Skrewdriver, traduzida para o alemão e rebatizada de “Smash the VPK”. O VPK, ou “Partido de Esquerda”, é um partido socialista e feminista sueco:

E como o Ekberg foi parar no Ace of Base? Em agosto de 1990, um músico de Gothenburg chamado Jonas Berggren faria um show dentro de poucas horas com sua banda, que já tocava há anos com diferentes nomes, incluindo CAD, Tech-Noir e Kalinin Prospect. No último minuto, o baixista resolveu largar a banda e ir ver um show dos Rolling Stones do outro lado da cidade, então Berggren pediu ao amigo Ekberg para o substituir. Algumas semanas depois eles batizaram sua nova formação de Ace of Base e o resto é história: “All That She Wants” explodiu nas paradas, Happy Nation / The Sign vendeu 23 milhões de cópias e o grupo se tornou uma das bandas de pop mais queridas da década.

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Não se sabe com certeza se Berggren e o resto do Ace of Base sabiam sobre o flerte anterior do Ekberg com o nazismo quando pediram para ele entrar na banda. Por alguma razão, isso não é muito comentado hoje em dia, então alguns amigos seus podem ficar de cara quando você contar isso no bar. Num documentário realizado em 1997, ele é citado dizendo o seguinte: “Não quero falar sobre isso, aquela época não existe mais em mim. Fechei esse livro e o joguei fora em 1987. Tirei uma experiência disso, aprendi com isso. Mas essa vida não é minha. É de outra pessoa.”

Hoje, segundo o seu site, Ekberg é “um líder visionário e um empresário eminente.” Ele continua no Ace of Base, mas também trabalha para uma empresa de marketing estratégico chamada Result, que tem parceiros como BMW, Fiat, IBM e LinkedIn. Em 2002, Ekberg fundou outra empresa de marketing de entretenimento chamada Legion Network (hoje extinta), e trabalhou com Canon, Motorola e Nokia. De 2002 a 2005, ele foi consultor da Nokia e de sua estratégia global para música e moda.

Mas aqui as coisas ficam ainda mais enigmáticas. Ekberg também é um membro ativo da usina de ideias do programa asiático do German Marshall Fund. Tenham em mente que o GMF foi batizado em homenagem ao Plano Marshall, um programa de incentivo econômico pós-Segunda Guerra Mundial liderado pelos Estados Unidos, que visava a prevenção da propagação do comunismo soviético e a abertura das nações em recuperação para a democracia.

O que tudo isso significa? É incrível que essas coisas não tenham vazado, especialmente porque estão escondidas bem à vista. Enquanto eu pesquisava para esse artigo, falei com muitos outros jornalistas que nunca tinham ouvido essa história. Na verdade, eu também nunca tinha ouvido ninguém mencionar isso antes. Sem querer partir para teorias da conspiração aqui, mas não consigo imaginar como alguém consegue se recuperar totalmente desse tipo de ódio. O que também é assustador é que Ekberg conseguiu chegar a uma posição de alta autoridade e influência. Por muitos anos, ele foi diretamente responsável pela maneira como marcas e consumidores se conectavam, e está atualmente envolvido num programa de subsídios específico de uma ideologia geopolítica.

Teria Ekberg usado o sucesso do Ace of Base como oportunidade para limpar seu nome e apagar seu passado neo-nazi? Não tenho certeza, mas posso garantir que nunca mais vou ouvir “The Sign”, “Don't Turn Around” ou “All That She Wants” do mesmo jeito.

O Ben é o Editor Musical da VICE e Editor-Chefe do Noisey. Siga o cara no Twitter: @b_shap

Agradecimentos a Ezra Marcus, por me ajudar com a pesquisa, e a Maggie Mustard, por me dar um milhão de ideias.