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Música

11 discos que não cumpriram o que prometeram

É como diz aquela música do Titãs: nem sempre se pode ser Deus.

Se há uma coisa em que nós fãs de música somos bons é em ter expectativas. A sede de novas músicas feitas pelos nossos favoritos nos mantém num estado de perpétuo entusiasmo. Quem vai lançar um novo single? Qual banda vai voltar da aposentadoria? Quem vai relançar qual clássico adorado? Quando nosso desejo é realizado, rola uma sensação foda e uma gratificante validação do tempo e da energia emocional investidos na adoração de nossos artistas prediletos. Mas há também aquelas vezes em que um artista não consegue alcançar o nível de qualidade que, com o decorrer dos anos, passamos a esperar dele, quando o desejo de ser fiel a (ou, nos casos extremos, modificar dramaticamente) uma fórmula resulta num disco abaixo do padrão. Aqui vão alguns casos em que nossos artistas prediletos soltaram discos ansiosamente esperados que nós não adoramos, exemplos em que a excitação antecipada que sentimos enquanto fãs não foi correspondida por um disco merecedor de nosso tempo e atenção.

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Daft Punk – Random Access Memories

Se tivéssemos que chutar, diríamos que as horas de planejamento e execução dedicadas à criação de uma campanha publicitária para Random Access Memories, lançado em 2013 pelo Daft Punk, superam as horas dedicadas à produção do disco em um fator de mil. O lançamento global e de grande escala foi tão meticuloso que há uma timeline de seis páginas do build up do disco na Billboard, incluindo teasers no Saturday Night Live, outdoors, um documentário em várias partes, remixes, e uma aparentemente infinita fúria midiática. E o que acabamos recebendo? Um disco de 74 minutos que essencialmente rendeu uma única música popular. Que, especificamente, se resumia a um único gancho de sete palavras. Isso não parece muito uma recompensa decente, em se tratando de um disco que custou à dupla francesa oito anos de trabalho. O disco no geral teve uma boa recepção crítica e vendeu bem, então o Daft Punk e seus fãs conseguiram o que queriam, mas Jesus, para o resto do mundo valeu a pena ficar um ano inteiro vendo aqueles malditos capacetes em nossos sonhos? Dan Ozzi

Jay Z – Kingdom Come

Se você conseguiu enxergar os sinais, já sabia que Kingdom Come não seria bom. Foi o disco que seguiu Collision Course, que se esforçou ao máximo para tornar cool o rap-rock, com diferentes níveis de sucesso. Kingdom Come foi anunciado como o próximo disco de Jay Z depois de The Black Album, apesar de ter saído dois discos e três anos após seu projeto de "aposentadoria". Com esse tempo todo em mãos, seria de imaginar que Jay Z conseguiria criar alguma coisa que parecesse ter um pouco mais de sustância, mas Kingdom Come deu a impressão de ser composto das sobras da sala de edição das sessões de seu outro disco, American Gangster. Jay Z pode ser muito, muito bom no rap, mas não é excelente quando faz experimentos. Alguns anos depois desse disco, Kanye diria em "Big Brother" que Jay roubara sua ideia para uma música com o Coldplay, fazendo referência a "Beach Chair", de Kingdom Come. A verdadeira história sobre o que aconteceu é desconhecida, mas o que se sabe é que "Beach Chair" continua sendo uma das piores músicas criadas por um dos melhores músicos do mundo de hoje. Acho que deve haver uma placa comemorativa para isso em algum lugar.

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Kingdom Come não só não saiu à altura das expectativas de ser um disco do Jay Z, como também não saiu à altura das expectativas de que seria um bom disco. Não estava demasiado à frente de seu tempo para ser apreciado no lançamento, mas também não era não-progressivo. Habitava uma nebulosa área crepuscular, na qual Jay Z se esforçava ao máximo mas ainda assim não conseguia grandes resultados, um fato que ele mesmo reconheceu quando fez um ranking de todos os seus discos anos depois, e colocou Kingdom Come em último lugar. Os melhores trabalhos de Jay Z acontecem quando ele se dedica seriamente ao projeto, e Kingdom Come deu a sensação de ser algo em que ele trabalhava quando tinha tempo de fazer algumas visitas ao estúdio de gravação de sua casa. Slava Pastuk

Morbid Angel – Illud Divinum Insanus

Antes desse disco sair, as notícias de um lançamento do Morbid Angel costumavam ser boas novas, uma perspectiva empolgante, ou, no mínimo, um fato mais ou menos interessante em qualquer ano da música. As lendas do death metal da Flórida não estavam exatamente no auge em 2001, mas certamente estavam se saindo melhor do que muitas outras bandas criadas no final dos anos 80. Quando anunciaram a criação de um novo selo e um novo disco – o disco "I", que seguiria Heretic, de 2003 – os blogs entraram em polvorosa e os fãs em estado de alerta. Heretic fora um disco decente, ainda que não extraordinário, e quase uma década se passara desde seu lançamento. Estávamos com fome. Estávamos prontos. E fomos DEIXADOS NA MÃO, CARALHO.

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Quando Illud Divinum Insanus saiu, tudo mudou. Agora, a ideia de um novo disco do Morbid Angel causa um frio na espinha de qualquer um que tenha crescido ouvindo aqueles quatro primeiros discos mágicos. Agora, pensar nos remanescentes dessa outrora orgulhosa instituição do death metal entrando num estúdio e apertando o rec gera medo nos corações de qualquer um que tema vê-los manchar ainda mais a reputação surrada que ainda lhes resta. Aquele monte de bosta musical que chamam de disco não arruinou por completo o Morbid Angel – nada seria capaz disso – mas arruinou o suficiente para nos fazer sentir dor. Kim Kelly

Lil Wayne – Tha Carter IV

Sim, eu sei que vendeu um milhão de cópias na primeira semana, mas calem a boca um instantinho. A fase de Lil Wayne pós-Tha Carter III cimentou seu legado na história da música como um dos rappers mais fortes e inventivos daquela geração, e Tha Carter IV seria em tese a cereja que arremataria o bolo. Infelizmente, Wayne foi usurpado por seu próprio sucesso: além de estar em mais ou menos 80% de todas as músicas lançadas depois de Tha Carter III, Wayne também colecionou artistas para o seu selo Young Money num ritmo veloz, e, o mais importante, trazendo Nicki Minaj e Drake. A contratação de Drake marcou o final metafórico para Wayne, já que ele foi Shang Tsungado de seu mais vital conjunto de habilidades. Wayne deu origem a muitas das músicas que ouvimos hoje em dia, mas o mais importante de todos é Drake. Quando Wayne lançou "How to Love" como o segundo single de Tha Carter IV, dava a sensação de que alguma coisa estava fora do lugar. Wayne não mais criava tendências – ele as seguia.

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O single principal "6 Foot 7 Foot" foi essencialmente uma xerox de "A Milli", o sucesso que fez Wayne estourar em todas as conversas, com seu último segmento de Carter. Copiar a si mesmo talvez não seja uma atitude vanguardista, mas com certeza não é uma involução, que foi o que "How To Love" pareceu quando comparada com um artista como Drake. O resto do disco sofria do mesmo umbigocentrismo que caracterizou os últimos poucos anos, e Wayne nunca conseguiu de fato voltar a ser vanguarda desde aquele disco. Sem Wayne, não haveria Future, Young Thug ou Fetty Wap. E embora ainda permaneça a sensação de que é blasfêmia falar sobre a grandeza de Lil Wayne usando o pretérito, acabou que Tha Carter IV foi o prego que fechou o caixão. Slava Pastuk

Justin Bieber – Believe

Antigamente, antes da atual tentativa de Bieber de se firmar como um pop star adulto, houve sua outra tentativa de se firmar como um pop star adulto, em 2012. No build up de Believe vimos Bieber se ensanguentando e polindo suas credenciais de sujeito crescido em entrevistas para publicações como Complex e GQ, e o single principal, "Boyfriend" contou com o ardiloso autoelogio que dizia: "um dia, muito em breve, eu serei o novo Justin Timberlake". Bugatti Biebz estava aparentemente a apenas alguns ternos e pares de tênis de luxo de distância de arrecadar aquele dinheiro da música adulta contemporânea estilo Bruno Mars. E aí o disco propriamente dito, bem, não fez Bieber crescer nem um pouco. Não é que ele não tenha evoluído o próprio som – ele abraçou forte a ideia do momento de um crossover escandaloso entre dubstep e pop – e tampouco foi o caso de não conseguir nenhum grande sucesso, e o disco nem mesmo era uniformemente ruim ("Thought of You" foi uma música foda em que não prestaram muita atenção, embora quanto menos falarmos da colaboração EDM de Ludacris, "All Around the World", melhor). Mas Believe não conseguiu de modo algum modificar significativamente a imagem de Bieber, e nos anos seguintes o vimos dobrar seu status como piada da cultura pop. Se o disco tivesse realmente conseguido forjar uma estética diferenciada para Bieber, em vez de ir atrás da tendência EDM do momento, Bieber poderia ter se poupado de anos de estresse. Mas aí talvez nunca víssemos uma fase de retorno tão forte esse ano, então, vai saber. De qualquer forma, Believe basicamente não conseguiu fazer ninguém acreditar, e provavelmente envelhecerá como uma nota de rodapé na carreira de Bieber. Kyle Kramer

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The Strokes – Angles

Angles, que foi lançado em 2011, foi o primeiro disco do The Strokes depois que a banda declarou um hiato indefinido em 2007. Quatro anos não é tanto tempo assim, mas depois que essa banda meio que dominara o início dos anos 2000, havia uma ansiedade para que eles retornassem o mais cedo possível. Infelizmente, devido a um drama que rolou dentro da banda e ao fato de Julian Casablancas talvez ter gravado, talvez não, a parte do vocal separadamente, ouvir esse disco meio que dava a sensação de ver o Michael Jordan jogando no Washington Wizards. Tem alguns vislumbres de grandeza mas… uhm… pois é. Esse disco na verdade teve uma recepção crítica majoritariamente positiva, mas isso é porque a maioria dos críticos de música da época não conseguiam esquecer o quanto adoravam usar roupas de couro na Nova York do início dos anos 2000. Dito tudo isso, "Gratisfaction" ainda destrói. Eric Sundermann

Drake – Thank Me Later

Sejamos sincerossss, os anos de 2009 e 2010 foram a cerimônia de coroação do homem que conhecemos como Drake. De versos que roubaram a cena nas músicas "Every Girl" e "Forever" até conseguir o segundo lugar na Billboard com o single de mixtape "Best I Ever Had", o frenesi em torno de Drake chegou a níveis febris, e as expectativas por sua estreia Thank Me Later não poderiam ser maiores. Mas, como já nos demonstrou a história, raramente as coisas cumprem o que prometem, e a primeira investida do sr. Graham foi bem… nhé.

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Faixas como "Over" soam risivelmente ruins, ainda mais quando você se dá conta de como é dolorosamente constrangedor cantar “What am I doing? Oh yeah that’s right I’m doing me” em voz alta, e o resto não é muito superior. "Karaoke". Esquecível. "The Resistance". Atroz. "Fancy"… certo, aquela semi mudança de batida no final até hoje é uma das melhores coisas que ele já fez, mas o resto todo fracassa de primeira. Não obstante, o disco venderia mais de um milhão de cópias, e garantiria o lugar de Drake ao sol por mais algum tempo. Mas, passados uns seis anos, a maioria das músicas de TML passaram à obscuridade sem muita resistência, enquanto Drake desde então seguiu em frente e fez coisas melhores, inclusive o disco seguinte, superior ao primeiro, Take Care. O que demonstra que a chave da longevidade e do sucesso na música é ter uma estreia bem medíocre que faça tudo o que vem depois soar melhor. Jabbari Weekes

The Smashing Pumpkins – Zeitgeist

O início dos anos 2000 foi uma época estranha para o The Smashing Pumpkins. Depois de lançar seu disco de techno-deprê em duas partes, Machina I e II, a banda se separou. Billy Corgan então formou o supergrupo Zwan, e lançou também um disco solo chamado TheFutureEmbrace. Ambos os discos geraram opiniões muito misturadas nas pessoas (Zwan é um clássico secreto), causando muitas questões sobre qual seria a sua próxima jogada. Então, em 2005, Billy "ressuscitou" o Pumpkins (com apenas Jimmy Chamberlin, o baterista, fazendo um breve retorno) através daquela grande página de jornal que ele publicou. Então, em 2007, Zeitgeist, o primeiro disco depois da reformação da banda, foi lançado, e puta merda. Os ex-alt-roqueiros da década de noventa engasgaram coletivamente.

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O problema mais evidente do disco é o quanto a produção foi um lixo completo. O resto da maior pretensão à fama do disco é que sua música "Doomsday Clock" foi usada como trilha sonora de uma cena do primeiro filme dos Transformers. Um monte de robozões com cara de bocó lutando em uma batalha gigantesca e sendo super agressivos e ruidosos é uma metáfora adequada para a abordagem usada no disco. A ele faltam toda a sutileza e emoção que haviam em todos os outros discos do Pumpkins, parecendo, em vez disso, estar determinado a recriar "Zero", e fracassando. Em discos posteriores veríamos Billy ascendendo novamente, mas esse aqui continua a ser um que ninguém deveria ser obrigado a ouvir. John Hill

Arcade Fire – Reflektor

Em 2013, o Arcade Fire curtia a glória de ser talvez a maior banda do mundo. O terceiro disco deles, The Suburbs, foi aclamado de modo quase unânime por crítica e público, abrindo caminho para um ano de liderança nos rankings, vendas robustas, e louros que culminaram numa vitória de azarão no Grammy, como Disco do Ano de 2011. Tendo conquistado efetivamente o indie rock, e na crista da ascensão da EDM no mainstream, encarar a dance music parecia uma escolha natural para o disco seguinte.

Logo começou a circular a notícia de que gente como James Murphy e David Bowie participariam do projeto, inspirando os poptimistas e os aficcionados do indie a fazerem um créu coletivo diante da perspectiva desse Voltron branco do barulho produzir uma resposta do calibre de Suburbs tanto à vida na era digital quanto à infiltração do oontz na música pop. A antecipação só fez crescer, graças a uma campanha de marketing de guerrilha e a shows secretos em pequenas casas de espetáculo (chamados de "The Reflektors") nos meses que antecederam o lançamento.

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Em vez disso, Reflektor gerou um "hum…" coletivo em quem ouvia. O disco não era ruim em si, e foi elogiado por muitos críticos, mas em última análise soava oco após tanto frenesi e tanta pompa – estava mais para uma fase do que para uma evolução. Os ritmos de afrobeat pareciam transplantados; a banda não conseguia swingar; faixas como "Normal Person" e "We Exist" pareciam um tantinho afetadas, com suas Grandes Mensagens (para não falar nada da inclusão digna de facepalm de Andrew Garfield como uma pessoa trans no clipe da segunda). Se uma sinceridade total foi o que levou o Arcade Fire tão longe, a apropriação estilística de Reflektor nunca conseguiu evitar a sensação de vestir um terno que não cai perfeitamente bem, e não da maneira David Byrne que eles muito claramente ambicionavam. Andrea Domanick

Pixies – Indie Cindy

Os Pixies são tão amados e icônicos que praticamente qualquer notícia vinda deles basta para gerar uma quantidade natural de empolgação. Mas um novo disco? O primeiro deles desde Trompe le Monde, de 1991? Isso é algo com que ficar verdadeiramente entusiasmado. Teria de ser um otimismo cauteloso, porém. Afinal, Kim Deal, o baixista de longa data, estaria ausente do processo, e o disco acabou sendo só uma coleção de EPs de pouco brilho lançados entre 2013 e 2014. Claro, é preciso tempo para que um disco atinja o status de "clássico", mas é bastante seguro supor que em momento nenhum no futuro alguém olhará para Indie Cindy com a mesma reverência votada a discos canônicos dos Pixies como Surfer Rosa ou Doolittle. Este não é um disco dos Pixies que deixaremos para nossos filhos, e tivemos razão em questionar o hype. Dan Ozzi

Guns N' Roses – Chinese Democracy

Dez anos e 13 milhões de dólares pra isso. Eita.

Tradução: Marcio Stockler

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