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Música

Lars Friedricksen, ex-Rancid, Fala Sobre a Expansão do Oi! e a Morte Trágica de Collin McQuillan, do Runnin’ Riot

Lars Frederiksen tem 43 anos e é um músico punk talentoso, além de fanático por luta e pelo rolê skinhead. O que você não espera, entretanto, é que ele é também uma ótima pessoa.

Foto por Jake Davis

Lars Frederiksen tem 43 anos e é um músico punk talentoso, além de fanático por luta e pelo rolê skinhead. O que você não espera, entretanto, é que ele é também uma ótima pessoa. Morando na área da baía na California e sendo um fã de luta, hardcore e Oi!, eu encontrei com o Lars em vários eventos diferentes. A música dele é uma das principais razões pelas quais me envolvi tanto com a cena punk; grupos como o Rancid serviram como passaporte para que moleques como eu explorassem algumas das bandas mais obscuras do gênero e, na sexta série, eu coloquei um bottom do Lars Frederiksen and The Bastards na minha jaqueta de rebites para que todos os outros moleques ficassem cientes de que eu era um punk de verdade.

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Sua mais nova banda de Oi!, a The Old Firm Casuals, está mostrando ao que veio com seu último LP, This Means War. Alguns dos trabalhos mais antigos da banda parecem ter caído nas armadilhas clássicas de uma banda Oi! genérica, já os mais recentes soam mais naturais e livres de quaisquer limitações. É quase como se fosse o sucessor espiritual do Lars Frederiksen and The Bastards, só que com o infame "elemento skinhead" um pouco mais presente.

Vesti minha jaqueta punk do ensino médio, amarrei minhas botas e liguei pro Lars para falar sobre ser zuado na escola, The Old Firm Casuals e a pior turnê de sua vida.

Noisey: Eu estava assistindo a alguns vídeos do Old Firm Casuals no YouTube e me deparei com esse comentário feito por um cara que diz ter crescido em Campbell e frequentado a mesma escola que você. Ele disse que implicavam com você no ensino médio por curtir música Oi!. É verdade mesmo?
Lars Frederiksen: Sim! Bom, eu era um jovem skinhead quando ninguém sabia o que eram skinheads. Digo, a maioria das crianças de 11 anos não sabem o que é um skinhead, mas meu irmão trazia alguns discos para casa e eu sempre me interessei pelo gosto dele. Toda a música que eu tive contato foi por causa dele, então quando eu estava na sétima série eu já era um skinhead zanzando por aí e gritando "Oi!" para as pessoas enquanto usava meus jeans descoloridos, botas e suspensórios para ir a escola. Eles me chamavam de "Tom Fazendeiro" e coisas do gênero; e eu revidava com "Não, eu curto música Oi!", e eles diziam, "Que porra é essa?".

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A molecada curtia qualquer coisa que fosse popular no momento. Acho que a única coisa que eu gostava em comum com eles eram os Stray Cats -- eles eram irados. Tudo o que eles sabiam sobre skinheads e punk rockers (e a maioria só sobre punk rockers) era o que eles viam no Donahue e nos "after school specials" -- sabe, todos os sitcom estúpidos tinham um episódio punk. Eu sempre achei Oi! e punk foda.

Cortesia do autor. Ele não é uma gracinha?

Uma das composições no seu novo disco, This Means War, que chamaram minha atenção foi "Off with Their Heads". Pode me dizer o que te inspirou a escrevê-la?
Foi pura raiva. Você pensa que uma vez que você tem filhos você se acalma, ou algo assim; e até aconteceu em alguns aspectos da minha vida, mas em outros só me deixou mais lúcido. Tipo, como estamos em um país que permite certas coisas acontecerem? Então nessa música eu falo de estupro, vários tipos de terrorismo religioso e grandes corporações. Qualquer pessoa que é arrogante o suficiente pra achar que os Estados Unidos é a nação número 1, claramente não pesquisou direito. Grandes corporações e políticos como Mitt Romney, Bill Clinton e George Bush estão terceirizando empregos, as nossas escolas são um lixo, e nós mandamos tudo ser feito na China ou no México. Nós somos em algum nível uma nação mimada e preguiçosa. Não estou falando que todos que fazem parte dela são, mas, como um todo, somos em algum nível.

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Você acha que ter se tornado pai te fez ficar mais preocupado com esse tipo de coisa?
Sim. Não posso dizer que tem um elemento de medo nisso, mas eu estou mais raivoso. Eu escrevo sobre qualquer coisa que eu vejo. Essas são apenas minhas opiniões. Mas eu não sou como a FOX News, eu baseio minhas opiniões em fatos. Eu sou um garoto da classe operária. Eu cresci em uma família de classe baixa. A minha família e os Baileys eram as únicas pessoas brancas da rua -- apesar de que os Baileys eram tipo 35 pessoas, porque eles eram católicos irlandeses, haha! Muitos de nós andávamos com as crianças latinas ou negras, porque elas eram tão extraordinárias quanto nós. Não odiávamos uns aos outros por causa da cor da nossa pele, nos odiávamos – talvez -- por causa do bairro que fomos criados. A única coisa que tínhamos em comum é que éramos pobres pra caralho.

Corporações são malígnas. Elas não estão aqui para nos proteger, eles estão aqui para tirar coisas de nós. Elas destroem o meio ambiente, destroem nossa cidade, e destroem nossa família. Elas só se importam em fazer dinheiro. O Wal-Mart, por exemplo. Pega a lista dos dez CEOs mais ricos dos Estados Unidos e vê quantos deles são do Wal-Mart, sendo que eles nem sequer tratam bem os funcionários. Eles contratam todos para jornadas de meio período de trabalho para não precisarem pagar benefícios. Se essa é a América que você acha tão incrível, então eu acho que você tem um buraco na porra da sua cabeça.

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Essa música também é sobre como se alguém é pego em flagrante molestando uma criança, eu acho que ela deve levar um tiro na cabeça imediatamente. As pessoas devem achar que é errado eu falar isso mas eu estou pouco me fodendo -- não há espaço para isso, uma vez que as crianças não sabem se defender sozinhas. Não estou falando sobre adolescentes ou pessoas que tem consciência. Estou falando sobre crianças pequenas, padres pedófilos e a igreja. Eu acho que se você é fanático por sua religião e quer matar alguém por causa dela, então você merece morrer! Aqui está o dilema: eu acredito em um sistema de justiça criminal que funciona, mas não acho que é o nosso. As pessoas me perguntam "Você acredita em pena de morte?". Bom, sim, eu acredito em pena de morte em um sistema de justiça que funciona.

Por que você decidiu colocar um piano neste LP?
Todas as bandas que eu participo têm uma formação de guitarra, baixo e bateria, mas eu sempre trago algum elemento extra. No The Bastards eu escolhi uma slide guitar porque eu amo Rose Tattoo e eles foram uma grande influência para nós -- assim como o Anti-Nowhere League, Motörhead, o The Blasters ou o Billy Bragg. Então com o Old Firm Casuals eu quis introduzir o uso que o Sham 69 faz do piano, que eu amo. Eu também sempre amei como o Stomper 98 introduzia o sax na sua música. Algumas outras bandas Oi! também usaram sax no passado.

Pra mim é sempre algo como Franky Flame e coisas do tipo. Oi é rock'n'roll, cara. Sim, claro, um certo segmento da população ouve isso, mas desde que eu venho produzindo esse tipo de música eu percebi que você não realmente muda muito o processo criativo. Eu quero que o The Casuals continue sendo uma banda Oi! austera, e sempre será, mas também quero trazer ângulos diferentes o tempo todo. Os Ramones, por exemplo, fizeram o mesmo álbum 30 vezes -- mas eles são os Ramones!

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Parece ter uma grande diferença entre as antigas gravações do Old Firm Casuals e as mais recentes. Você pode falar um pouco sobre isso?
Bom, eu acho que começamos a entender quem nós somos, de alguma forma. Por exemplo, o Paul é um baterista tão bom que você pode escrever qualquer coisa e ele estará lá pronto para executar, então não tínhamos limitações. Queríamos criar nossa própria identidade sonora e crescer. Fico feliz que estamos conseguindo. Digo, isso demora um pouco para qualquer banda. Se você compara Honor is All We Know com a primeira música do Rancid, é noite e dia. Pra mim a questão sempre foi levar o que tempo que for preciso para escrever canções das quais vamos ficar orgulhosos. Não quero fazer a mesma música várias vezes. Eu quero fazer coisas diferentes e ver o que posso fazer com elas. Então eu acho sim que estamos construindo nossa identidade.

A última turnê europeia do Old Firm Casuals foi repleta de bandas incríveis, mas vocês enfrentaram alguns obstáculos cruciais. Pode falar um pouco sobre isso?
É, foi provavelmente a pior turnê, emocionalmente falando, que eu tive na minha vida inteira.

Uau. De quantas turnês você já participou?
Turnês? Porra, muitas. Talvez mil? Eu sei que eu fiz pelo menos quatro ou cinco mil shows. Eu toco desde que eu tenho 15 anos, e faço turnês ininterruptamente desde os 18 ou 19.

E essa foi a pior de todas?
Certamente. Estávamos lá há cinco ou seis dias, entrando em sintonia com o novo guitarrista da banda, Gabe, que toca no Sydney Ducks. E então, depois do sexto show da turnê, o Paul, nosso baterista, foi a um estacionamento de caminhões na beira da estrada às seis da manhã e voltou com uma fratura exposta no braço.

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E como ele fez isso?
Na Alemanha e em alguns outros lugares da Europa, esses estacionamentos de caminhões cobram para você fazer xixi – você tem que colocar moedas para liberar a roleta. Eram tipo seis da manhã, e estávamos indo para um festival na Eslovênia quando paramos para fazer xixi.

Eu sempre pulo a roleta porque não vou pagar para fazer uma merda de um xixi. Casey também pulou. Paul tentou pular, mas seu pé ficou preso e foi direto para embaixo do seu braço. Ele teve uma fratura exposta e deslocou o ombro. Foi horroroso. O osso estava saindo da pele.

Fratura exposta é uma das piores fissuras que você pode ter. A única coisa pior é uma fatura duplamente exposta! O osso nem começou a sarar ainda, e isso aconteceu em agosto. Graças a isso, acabamos tendo três bateristas diferentes: Gens Kaiser, Ray Dust e Robin Guy. Eles nos salvaram e somos muito gratos por isso.

Raio X da fratura do Paul, cortesia da Old Firm Casuals. Ouch.

Então, chegamos em Rockford, onde tivemos nosso primeiro dia de folga em três semanas, e eu recebi uma ligação do Watford Jon, o vocalista do Argy Bargy. Ele me ligou às dez da manhã, e esses caras geralmente dormem até meio-dia, então eu olhei pro telefone e pensei "bom, talvez ele só queira tomar café da manhã ou algo assim", e então o Steve Whale me ligou, e comecei a me perguntar o que estava acontecendo, mas eu estava meio desacordado. Steve Whale ligou de novo logo depois, eu atendi o telefone e ele disse: "Você tem que ligar pro Watford Jon". E eu "O que houve?", mas ele só dizia "Você tem que ligar pro Watford Jon agora".

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A turnê era Old Firm Casuals, Control e Runnin' Riot. Eu sabia que todos os caras do Runnin' Riot e os da minha banda tinham saído na noite passada para ver o Agnostic Front em Londres, então eu pensei que talvez alguém da minha equipe tinha se machucado. Eu só disse "o que aconteceu? O que caralho aconteceu?".

E então ele disse, "O Colin morreu". E eu desabei.

Eu liguei pro Jon e ele estava claramente fora de si. A esposa de Colin, Nikki, veio de Belfast aquele dia. Foi provavelmente um dos momentos mais tristes da minha vida.

Além de vocalista do Runnin' Riot, Colin era meu principal parceiro naquela turnê; eu e ele nos falávamos todos os dias e lidávamos juntos com as coisas. Eu tinha escrito essa canção para ele, e eu lhe disse, "Colin, eu só consigo ouvir a sua voz nela", então nós íamos gravar no final da turnê. Tudo iria se concluir e terminar em dez dias em Dublin, e o Runnin' Riot é da Irlanda do Norte. Runnin' Riot era uma das melhores bandas do momento. Eles escreviam canções fodas, e o Colin era um dos melhores vocalistas que eu já conheci. Colin era meu amigo. Não é fácil perder um amigo. Runnin' Riot abriu para o Rancid da primeira vez que fomos para Belfast. Eu sempre vou me lembrar dessa época. Eu e Colin costumávamos ir ver o Linfield jogar, porque era o time dele. É muito difícil falar sobre isso. Tem um buraco grande, enorme, gigantesco na nossa cena agora, e ele jamais será preenchido. Ele era tão importante para nossa música, cena e cultura. Eu simplesmente não tenho palavras para descrevê-lo. A personalidade dele iluminava o lugar, e ele levava isso com ele para o palco.

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Eu lembro que estávamos em um show uma vez, e a primeira banda estava atrasada. O Colin tava tipo, "Bom, a gente toca antes então". E eu, "Não, Colin, nós somos a segunda banda. Assim que foi combinado. Isso é respeito". E ele, "Não, não, Lars, nós vamos tocar primeiro. Não temos problema com isso. A gente só quer tocar". Essa sempre foi a atitude dele. Ele era esse tipo de cara. Era uma influência para minha banda, mas também para mim como ser humano. Ele era uma pessoa desse calibre.

Collin McQuillan, por Nick Henderson / Cortesia do Runnin' Riot

Nossa, eu não consigo nem imaginar perder um membro da turnê dessa forma.
Nunca aconteceu comigo antes. Eu não tenho falado muito sobre isso. Ele tinha só 45 anos quando partiu. É um grande vazio pra mim, por isso nunca falei sobre isso em entrevistas nem nada. É minha vida pessoal. Estou ansioso para ver a esposa dele na minha próxima viagem para tatuar em Londres. Ela está vai vir de Belfast, será bom encontrá-la, porque somos muito próximos.

Quando o Colin morreu eu quis dar fim à turnê. Tinha muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Era simplesmente abominável. Nós normalmente temos um cara que viaja com a gente, Chris Powerhouse, e toma conta das coisas supérfluas. Ele gerencia nossas turnês. Ele não conseguiu dar conta, então o Paul assumiu suas responsabilidades. E então o Paul nos deixa com uma fratura exposta e um ombro deslocado, e agora estava tudo nas minhas costas. Um monte de gente vindo até mim atrás de respostas, e tudo que eu queria era tocar uma porra de uma música bem idiota e ir para o próximo show. E aí Nikki, a esposa do Colin, que eu amo muito, fala pra mim, "Lars, você pode fazer o que quiser, mas o Colin ia querer que você continuasse. Eu estarei com você o tempo todo". Sabendo que eu tinha o apoio dela, e o quê o resto do Runnin' Riot queria que eu fizesse, eu aceitei continuar. Sério, nós fizemos todo o resto daquela turnê só para ele. Foi tudo em memória dele. Eu vou tocar em todos os próximos shows para ele.

Eu penso nele todos os dias, e eu nunca vou esquecê-lo.

Matt Saincome é runnin' riot no Twitter.