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Música

O Tourist Quer que Você Tenha Transas Significativas ao Som da Música Dele

A música eletrônica do Tourist é a antítese do cool e do clínico, tem muitas nuances e é surpreendentemente comovente, como aquela transa tão boa que faz você chorar

Quando me sentei com o Tourist, não esperava cobrir nenhum dos seguintes tópicos:

1. Deus

2. “O que os humanos podem fazer de mais supremo”

3. Sexo de término de relacionamento

4. Hugh Grant

Mas o Tourist– ou Will Phillips, artista residente em Londres – tem um bom senso de humor e não se importa com perguntas ridículas e pessoais. Acho que isso não deveria me surpreender, dado o tipo de música que ele faz. A música eletrônica do Tourist, de 26 anos, é a antítese do cool e do clínico, tem muitas nuances e é surpreendentemente comovente. Em seu EP mais recente (o terceiro, Patterns, um lançamento conjunto entre o Disclosure, a Method e sua própria gravadora, a Monday), o som eletrônico com um quê de garage e outro de balearic, ganha sentimento graças aos vocalistas convidados (Will Heard, Lianne La Havas). Mesmo assim, quando as faixas contam apenas com texturas sintéticas suaves e ganchos instrumentais – assim como nas músicas mais antigas “Your Girl” and “Heartbeats"–, ainda há uma veia emocional. Nada mais tocante que a beleza submersa-pronta-para-reemergir contida em “Together” (seus remixes de Haim, Chvrches, e London Grammar também são dignos de repeat).

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Depois de estudar música na Universidade de Thames Valley, e trabalhar em estúdios no Soho e em Londres, Tourist decidiu se mudar para Brighton e voltar a morar com a mãe, pois como ele mesmo disse, estava “se metendo em coisas erradas”. A gota d’água? “Simplesmente acordei sem saber onde estava ou como havia chegado lá ou o que havia feito na noite anterior.”

Noisey: Então, mudar-se para Brighton foi o ponto de partida para encontrar o groove da música que você estava fazendo?
Tourist: Sim, eu era um verdadeiro vagabundo – não tinha um emprego.

Poucas pessoas em Brighton têm – dá pra ficar sentado na praia, tocando bongô.
Verdade. Tive uma experiência muito importante em Brighton – eu me separei por completo de mim mesmo, de tudo que eu sabia até então, e tomei um caminho diferente. Faz quatro anos já.

Você mergulhou na cena de Brighton?
Não muito, nunca fui de fazer isso. Sempre me vejo como o excluído, é isso que penso de mim.

Ouvi dizer.
É sério. A partir do momento em que você se define pela cena, você se limita, só dá pra criar até certo ponto. Gosto da ideia de poder escolher o que fazer. Então você é um solitário?
Sim, gosto disso. Ser um turista. Mas você meio que encontrou uma turma agora, trabalhando e lançando com o Disclosure, compondo com Jimmy Napes [ele coescreveu “Latch”]…
É, mas isso nunca fez parte do plano, foi obra do acaso. O Jimmy é uma espécie de quinto Beatle, e ele anda se sobressaindo. Compus grande parte do meu novo EP com ele.

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Você tem trabalhado cada vez mais com vocalistas. Você se envolve com o processo de escrever as letras?
Sim, bastante. Vejo vozes como um instrumento – não são diferentes de um sintetizador. Acho que muitas pessoas se assustam, ficam pensando: “Meu Deus, o que é que vou falar? Como vou falar? Devo ser um Bob Dylan?”. Mas amo poesia, livros, leitura, linguagem, e acho que isso aparece em algumas das canções que escrevi. Algumas são bem diretas, outras ficam mais no meio termo. Abracei o processo – é um próximo passo honesto. Sinto que eu deveria tomar esse caminho, porque amo tanto música pop quanto música eletrônica, e não precisa haver uma barreira. Acho que o Disclosure traça a linha muito bem e consegue agradar a nata das pessoas interessantes, enquanto também agrada garotas de 14 anos. Vi eles ao vivo recentemente, e acho que nunca vi tantas garotas numa plateia.

Claro, é uma atração pop.
Sim. Acho que eles nunca se propuseram a fazer música para jovens garotas com camisetas do Disclosure, eles apenas fazem o que querem e isso é admirável. É um efeito colateral engraçado de escrever músicas muito boas, significa que, às vezes, quem acaba escutando são pessoas que você nunca espera que sejam seu público-alvo. É engraçado quando surgem centenas e centenas de adolescentes. É tão legal que esses anos de suas vidas sejam marcados por essa música.

Nossa, concordo totalmente. Adolescentes sentem a música com tanta paixão. É como se fosse parte deles. Claro que gosto muito de música hoje, mas é diferente.
É, nessa época, o mundo é definido por seu gosto musical. Que tipo de música definiu seu mundo quando você era adolescente?
Muito garage britânico, eu escutava isso bastante. Tipo M.J. Cole, Wookie, mas também Roni Size quando eu era criança, o bom e velho drum ‘n’ bass. Era sempre música eletrônica – dos dez anos em diante.

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Isso foi quando você morava em Cornwall, ainda criança, certo?
Isso. Todo mundo lá é um bando de surfistas sequelados, ou skatistas, ou algo assim. Eu sentava no meu quarto e tentava fazer música. Eu tinha mesas de som, então discotecava para mim mesmo, e era horrível, mas também era a coisa mais legal do mundo. Acho que meus pais ficavam felizes por eu ficar longe das drogas – mal sabiam eles! Era ótimo, mas era esquisito porque eu não tinha com quem compartilhar, porque ninguém se interessava por isso.

Sério? Você não tinha ninguém com quem se identificar por lá?
Não. Não quanto ao gosto musical. Acho que talvez seja por isso que não me associo muito a cenas, porque eu nunca tive um irmão musical como um irmão de sangue, ou uma família. Sempre foi muito pessoal. Eu também nem tinha como fazer parte da cena, bebendo, me drogando e ouvindo garage britânico em Brixton: aos 13 anos, eu estava em Cornwall, então significou algo completamente diferente. Eu ouvia as melodias, e elas me emocionavam muito. Música era um mundo próprio meu – e ainda é. É a coisa mais egoísta do mundo.

Que instrumentos você toca?
Em minhas lembranças mais antigas, estou sentado no joelho do meu pai tocando piano. Uma parte crucial do meu show ao vivo é quando quebro as camadas do que está gravado no álbum e eu mesmo toco. Amo bugigangas, sintetizadores e tecnologia, mas minhas raízes são harmonia, notas, piano. Fazer um show não é fazer o álbum soar exatamente igual, mas contextualizá-lo para as pessoas, é criar uma ambientação. O foco não sou eu. Não é o Avicii. Não sou um cara bonito.

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Bem, acho que o Avicii também não é bonito.
É sim, ele meio que se parece com a Taylor Swift, não parece? [Risos] Sério! É difícil ver quem é quem. Mas enfim, não sou o foco, o mais importante é a comunhão de seres humanos num espaço, escutando uma música que os faz sentir algo.

Você acha que as pessoas transam ouvindo sua música?
Espero que sim. Acho que isso seria bem… Creio que depende do tipo de sexo.

Que tipo de sexo seria, você acha?
Espero que com amor, significativo, gentil, sabe? Talvez sexo de reconciliação.

E se for sexo de término? Seria tão devastador.
O que é sexo de término? É quando, tipo, terminou, mas vamos transar mais uma vez. É sexo com angústia.
Quer saber, desde que seja uma ideia sincera, tudo bem. Se são duas pessoas juntas por uma só noite, não sei se é a interação mais significativa entre humanos. Mas se há algo profundo por trás, sabe, se forem duas pessoas copulando para tentar se revigorar, ou tentar colocar um ponto final em algo, até que é legal. É muito estranho pensar que alguém possa transar ouvindo minha música.

Mas provavelmente transam. Embora eu acredite que as pessoas transem mais com trilha sonora quando são adolescentes, depois nem tanto.
Acho que as pessoas veem isso nos filmes, não? Veem o Hugh Grant colocar um disco da Aretha Franklin e usar seu charme inglês.

Então você é fã de Hugh Grant?

Nem um pouco! Foi só uma referência que me veio à mente.

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Qual é sua maior influência não-musical?
É esquisito, mas acho que uma das maiores ideias que me influenciou, que mudou muito a maneira como penso, é perceber que Deus não existe.

Sério?
Sim. É estranho dizer isso, né? Pelo que me lembro, nunca acreditei em Deus, mas houve um dia, de repente, em que me dei conta: “Caralho, isto é tão arbitrário. A vida é completamente… é um erro.” Não há nada antes ou depois dela, e é preciso seguir em frente nessa merda. Amo filosofia, e amo questionar as coisas – sempre fui assim – mas acho que quando percebi mesmo que tudo isso é completamente arbitrário, que não há um verdadeiro significado ou razão, afetou bastante minha maneira de ver o mundo. E também o propósito da arte na sociedade, e coisas assim. Parece besta mesmo, e odeio trazer a questão de Deus à tona. Não acho que parece besta.
Eu acho que parece. Algumas pessoas diriam: “Minha mãe é uma influência”, ou algum artista aleatório, mas explorar a criatividade é um negócio muito importante para mim. Aliás, o ponto mais alto do ser humano é expressar ideias de uma forma que não magoe ninguém, mas comova muitas pessoas. Pense em como você se sente quando escuta uma música. Em três minutos, as pessoas conseguem dizer mais do que em qualquer conversa possível. Você pode conversar com alguém por três horas e não sentir muita coisa. Ouço um álbum do Talking Heads e, em três minutos, meu cérebro já está em um lugar completamente diferente de onde estava antes. O que os humanos podem fazer de mais supremo é se dedicar à arte. Não sei como Deus apareceu nessa história, mas foi algo real que me veio à tona quando eu tinha uns 21 anos.

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Qual foi a última vez que você pediu perdão? Ou você não foi uma pessoa ruim recentemente?
Não, não, eu acho que peço perdão tantas vezes, que agora perdeu o sentido. Não sei. Céus. Cometo erros com bastante frequência. Não em relacionamentos, mas na vida. Não acredito em Deus, mas carrego uma noção de culpa católica romana comigo o tempo todo. Sempre sinto que estou errando. Você sabe que é católico romano quando se sente culpado desde que nasceu, sente pecados.

É, esse é um dos motivos pelo qual não sou religiosa, e eu me pergunto: “Por que você sempre se sente tão mal com tudo?”
Exatamente. É como me sinto na maior parte do tempo. Não sei muito bem. Não costumo implorar por perdão porque estou bem ciente dos meus defeitos. Mas tento ficar longe disso. É, faço muitas cagadas.

Pergunta final. Qual é a gravação de campo mais estranha que há emPatterns?
Gosto de gravar partes bem esquisitas do meu dia. Sentei no metrô outro dia, e um trem estava quebrado, estava com um freio quebrado, ou algo assim, e fazia um barulho lindo, quase como um instrumento de corda. Aliás, gosto de contextualizar [gravações de campo]. Um dos meus álbuns favoritos é o LP Burial, que soa como Londres para mim, e amo isso. Há algo tão poético nisso. Acho que meu último EP soa como os últimos meses da minha vida em Londres.

Que música você coloca para dançar em casa? Você costuma dançar pela casa?
Sinceramente, não costumo dançar pela casa. Acho que a última vez que dancei foi quando ouvi a Annie Mac tocar uma música minha na rádio. Dancei minha própria música sem um pingo de vergonha, em frente à minha namorada.

Parece que a Kim está sempre falando de sexo com as bandas, e ela está no Twitter - @theKTB