FYI.

This story is over 5 years old.

Música

A Madonna precisa mais da Katy Perry do que a Katy Perry precisa da Madonna?

Você olha a capa da V Magazine com a Katy Perry e a Madonna com caras de 25 aninhos e pensa "quem precisa mais de quem pra se promover?"

Se você fosse um alienígena de outro planeta, ou digamos, alguém que estivesse muito ocupado tentando fazer do mundo um lugar melhor ao invés de seguir um feed de Twitter ou mesmo se importar vagamente com os falatórios sem sentido da Internet, você provavelmente olharia pra foto de Katy Perry e Madonna na V Magazine e pensaria em algo seguindo a linha “essas moças de 25 anos estão bem sexy”. É uma imagem que confunde, e o conceito de uma Perry de 29 anos e uma Madonna de 55 parecendo ter a mesma idade enquanto desenvolvem uma fantasia S&M me faz perguntar: quem precisa mais de quem pra ser relevante?

Publicidade

Katy Perry – embora tenha alcançado o recorde de Michael Jackson de 5 hits número um do mesmo álbum e seja a única mulher a ter feito isso – é algo novata no pop. Particularmente em comparação com Madonna, veterana que alterou radicalmente a maneira como vemos o sexo e as mulheres na música pop. Destarte, ser fotografada para uma revista de moda em alto nível com Madge a legitima como uma popstar/mulher/símbolo sexual “séria”. Por outro lado, Madonna, ainda que com seu status de ícone, tendo lançado álbuns medíocres e não tendo adicionado qualquer coisa de pertinência particular à conversa da cultura pop recentemente, precisa ser fotografada com a gostosinha Katy Perry pra se manter relevante na instável consciência pública. Pode ser que ambas as mulheres precisem igualmente uma da outra, mas Madonna, ainda que seja uma lenda, parece cada vez mais desigual à medida que seus flertes com a nova guarda pareçam ser a única coisa evitando que ela suma na irrelevância contemporânea. E não é do feitio de Madonna sumir.

Madonna tem sido Madonna por 35 anos, e no apogeu de sua carreira revolucionou o pop, a feminidade, o sexo e a moda. Concordamos com isso. Também devemos concordar que Madonna é obcecada com juventude e em manter a ilusão de sua própria. Essencialmente, tudo o que Madonna tem feito na última década é tentar nos convencer que ela ainda tem 20 anos, com níveis variáveis de sucesso. Na minha opinião, o último álbum bom que Madonna lançou foi Ray of Light em 1998 (tudo antes disso foi – e nem precisaria dizer – Incrível). Music, lançado em 2000, foi aceitável, e dependendo do seu humor, até mesmo apreciável. “What It Feels Like For A Girl” até segura melhor do que eu acho que deveria. Depois veio o mediano This American Life in 2003 e o momento muito especial que abriu o MTV Music Awards: o beijo sanduíche de Britney-Madonna-Xtina, do qual ainda não paramos de falar.

Publicidade

Desconsiderando sua produção musical balbuciante, em 2003 Madonna ainda teve a pachorra de pegar duas jovens no topo das paradas, no ápice de suas carreiras, e transformá-las em ícones. Madonna não será lembrada por ser a mulher que beijou Britney Spears e Christina Aguilera, mas elas serão lembradas por serem as garotas que deram uma bitoca na Madonna. Se, em 2003, alguém tivesse alguma dúvida que Brit e Xtina eram as princesas reinantes do pop, tal dúvida foi dirimida quando Deus em pessoa desceu e as conferiu beijos. E perto daqueles corpos jovens, Madonna conduziu a farsa com a qual está obcecada desde então – ela nos fez esquecer que seu corpo estava velho.

Desde então, Madonna tem sido amplamente acusada de “desespero”. Ela certamente não está sendo acusada de fazer um grande álbum. Com Confessions on the Dancefloor e aquele collant púrpura em “Hung Up”, Madonna bateu as botas, e foi aquele momento no qual nos tornamos coletivamente cientes de sua cruzada pela juventude. E agora, Madonna – ícone, rompedora de fronteiras, agente da história – depende do apelo de estrelas novas em folha para legitimar sua participação contínua na música pop. De Nicki Minaj e M.I.A. a ladeando no Superbowl a sua aparição com Miley Cyrus no especial MTV Unplugged da jovem (e aquela mímica dolorida da língua, marca registrada da Miley), Madonna poderia ser acusada de estar pegando rabeira em infantes. Não tendo trazido nada de interessante para a música ou para as apresentações em cerca de uma década, Madonna parece aquele gatinho num barbante, pendurado ali, ansiando que o brilho da juventude se reflita nela e que não percebamos que ela é uma figurinha repetida.

A aparição de Madonna com Katy Perry na V Magazine vai, no fim das contas, fazer mais por ela do que por Perry, que, no meio de uma turnê mundial, iria provavelmente angariar a mesma atenção se posasse sozinha. Ironicamente, Madonna como a submissa nas fotos S&M diz bastante sobre a voz autoral no pop – ainda pertence à mulher mais jovem. Algo que é triste para as mulheres, uma vez que com a idade vem a experiência, e com a experiência vem um diálogo mais interessante. Dói em mim que homens, os Rolling Stones por exemplo, se escoram em palcos como sacos flácidos que mal seguram o que há dentro, rotos com os anos e rugas e drogas e histórias, e mulheres como Madonna, que realizaram tanto quanto, se mantenham presas às suas sombras.

As pessoas ouvem Keith Richards contando histórias sobre beber mijo do carpete ou qualquer outra merda que homens fazem quando convulsionam em drogas como quem ouve um sermão de igreja. Quero o mesmo pra esta mulher, pra esta Madonna, que foi até o inferno e voltou, que mudou tudo para as mulheres no pop, que foi desafiadora e diferente e corajosa, que foi nocauteada e levantou novamente. Quero mais pra ela do que essa máscara esticada feita de sua própria pele que está tesa em seu rosto, enquanto ela emula uma Katy Perry quase tão realizada por comparação. Quero vê-la como quase sempre vemos ícones masculinos, literalmente caindo aos pedaços depois de anos mudando a cara de nossa cultura, e absolutamente sem se arrepender do crime básico que diz respeito às mulheres e às mulheres apenas: o crime de envelhecer.

Kat George arrisca sua vida e membros ao declarar suas opiniões bem pensadas, algo pelo que agradecemos. Ela está no Twitter - @Kat_George.