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Música

O Watain Tocou Num Mercado de Pulgas Sob o Fedor de Fluidos da Morte

O Watain quer mijar na cara dos tabus da sociedade, por isso faz um show escatológico que invoca o Belzebu.

[Nota do Editor: Sou um idiota e não tirei fotos do show. Por sorte,Fred Pessaro, editor-chefe do Noisey , tirou fotos do Watain quando a banda tocou em Nova York quatro anos atrás. Vocês vão entender o espírito da coisa, prometo.]

Esses dias eu decidi ver o Watain – uma banda de black metal sueca sobre Satã – no Brooklyn Night Bazaar, uma casa de shows que também funciona como um mercado de pulgas esquisitão. Para aqueles que não sabem, os shows do Watain são famosos por algumas coisas. Bem, na verdade, por uma coisa - são nojentos pra caralho, o mais humanamente possível, mas de diversas formas. O Watain é famoso por tocar com carcaças podres de cabras sobre o palco, jogar sangue de porco na plateia, encharcar a própria roupa com sangue e enterrá-la em cemitérios entre um show e outro, e praticar um negócio chamado “Satanismo Teísta”, que é basicamente um jeito bonzinho de dizer que são adoradores ativos do demônio. Parece que a banda foi criada para urinar na cara dos tabus culturais restantes da sociedade, fator que os elevou da categoria de banda de metal mediana a um dos grupos mais extremos do rolê. Por conta disso, é raro trazerem o “show completo” (i.e. sangue animal, carcaças, etc.) a Nova York. Mas dessa vez rolou – pela primeira vez em quatro anos. Em outras palavras, a decisão de serem efetivamente doidos pra caralho é a razão número 1 por que não-metaleiros sabem que a banda existe, e, de quebra, a razão por que me senti tentado a vê-los.

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Até onde eu sabia, a música do Watain era um pano de fundo para a “experiência Watain”. Antes da banda, subiu uma névoa no palco, e a multidão - composta de metaleiros, motoqueiros, uma quantidade desconfortável de punks xixi, e, errr, comigo no meio – ficou em silêncio. Tochas foram acesas, preenchendo a casa com um cheiro rústico agradável, e me perguntei como acertaram isso com os bombeiros. A banda tomou o palco em meio a essa pantonímia entoada, uma procissão, uma versão druida e bem séria do Spinal Tap. Por mais ou menos vinte minutos, tocaram um black metal objetivo, batendo cabeça em uníssono de forma que certamente me esfaquiariam se eu os comparasse com o Kiss, mas, olha, com aquele corpsepaint e bate-cabeça uníssono, meio que pareciam mesmo o Kiss.

O negócio começou a ficar esquisito quando o líder da banda, Erik Danielsson, trouxe uma espécie de talismã (imagino que) satânico – que, do meu campo de visão, parecia uma caveira humana com chifres de carneiro encravados – e o levantou, acenando para a plateia como se estivesse jogando um feitiço nela.

Foi nessa hora que as pessoas começaram a sair do mosh ensanguentadas. Logo depois, o show passou a ter um cheiro ímpio, de carne humana putrefata. Foi quando começaram a vomitar ao meu redor.

Provavelmente, não é coincidência ter sido bem nessa hora que a plateia se empolgou mesmo. As pessoas – principalmente, os motoqueiros (que já eram assustadores por conta própria) e os punk xixi – começaram a tombar como se estivessem enfeitiçadas, possuídas por algo profano, ou pela sinfonia cacofônica e devastadora daquele show esmagador. Até mesmo um olhar superficial sobre o Watain revela que são satanistas ativos, e, em entrevistas, eles frequentemente se referem aos shows como “rituais”, como “uma igreja para pessoas que idolatram o demônio”. O que suscita a pergunta – o Watain conseguiu mesmo hipnotizar parte da plateia?

A resposta, por incrível que pareça, é “sim”. Embora eu acredite que 95% das pessoas estavam ali pelo espetáculo – assistir a uma banda bem barulhenta, visualmente estimulante, jogar sange nas pessoas é ridiculamente divertido, devo admitir –, havia uma minoria de fãs, muito clara e muito entusiasmada, que estava acreditando naquilo. Tinham um olhar morto, como se os grunhidos e gemidos guturais do Danielsson os forçassem a sucumbir a poderes maiores, como se os apelos por um “HOLOCAUSTO… DE DEUS!!!” fossem mais do que uma paródia absurda de algo maldoso para se dizer; em vez disso, era um verdadeiro chamado. Esses caras não saíram do show e queimaram igrejas por aí, ou algo assim – para eles, acho, a possibilidade de ser enfeitiçado pelo Watain e é uma recompensa por si só.

Drew Millard é o editor não-particularmente-cultista da Noisey. Ele está no Twitter - @drewmillard

Tradução: Stephanie Fernandes