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Música

Aquele dia que o Lemmy Kilmister desmaiou depois de receber três boquetes consecutivos

O editor espanhol da autobiografia do Lemmy conta essas e outras histórias da vida de uma das maiores lendas do metal.

Esta matéria foi originalmente publicada em março de 2015 no Noisey Espanha.

Um sexagenário acena e fuma um cigarro sossegadamente enquanto dirige um tanque alemão pelo campo. É o Lemmy Kilmister, líder do Motörhead e um adorável idiota que faz o Julio Iglesias parecer um pajem e o Keith Richards um atleta olímpico. Sua coleção de parafernálias nazistas, sua temporada como roadie do Hendrix, o dia que foi expulso do Hawkwind, a vez que ele tomou uma porrada de tranquilizantes e anfetamina para não ser pego com aquilo e acharam que ele tinha morrido… todos esses excessos e muitos outros estão presentes na sua autobiografia — com uma pitada de humor britânico e más intenções, é claro. Oscar Palmer é homem responsável pela edição do livro que, em 2015, saiu numa versão em espanhol pela editora independente Es Pop agora esperamos pela edição em português. Leia a entrevista com o editor abaixo:

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Noisey: Quando foi que você leu a autobiografia do Lemmy pela primeira vez?
Oscar Palmer: A edição original é de 2003 e eu provavelmente tive contato com ela pouco depois disso, quando a edição de bolso foi lançada na Inglaterra. Foi um dos primeiros títulos que queríamos traduzir para o espanhol, mas não conseguimos fazer isso logo de cara. Tentamos conseguir os direitos diversas vezes, mas nunca chegamos a fechar um acordo. Ano passado tentamos de novo e daquela vez demos sorte.

O que deu errado nas outras vezes?
Da primeira vez, eles só não estavam interessados na nossa proposta, não sei se porque não tínhamos publicado livros o suficiente para confiarem em nós ou algo do tipo. Da segunda vez, a agente nos disse que, se dependesse dela, teria aceitado a proposta, mas o Lemmy achou que o adiantamento não era satisfatório. Isso coincidiu com o lançamento do documentário dele, então talvez achasse que isso agregaria valor ao livro ou que deveríamos tratá-lo como os oportunistas geralmente fazem… vai saber.

Que bom que você não desistiu.
Eles pediram mais dinheiro do que poderíamos pagar, mas três anos depois fizemos a mesma proposta e eles toparam. Acho que o truque foi a nossa insistência, nosso catálogo na época ser mais extenso e o fato de que ninguém mais demonstrou interesse. De forma geral, as editoras espanholas não estão nem aí para rock e metal. É inacreditável que livros como The Dirt: Confessions of the World's Most Notorious Rock Band e Lords of Chaos tiveram que esperar uma década para ganhar sua primeira tradução para o espanhol.

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A ilustração do Ian Jepson tem tudo a ver.
Estou cansado dessas biografias que seguem o mesmo padrão com a mesma foto típica do autor olhando diretamente para a câmera. O Ian é um brilhante ilustrador da África do Sul especializado em pôsteres de shows de rock e parece ser um cara muito massa, totalmente capaz de condensar a personalidade de um artista em uma única imagem. Pensei em jogar essa ideia para ele e ver no que dava e acabei descobrindo que ele é um grande fã de Motörhead, o que fez com que topasse logo de cara.

E você, também é um grande fã de Motörhead?
A primeira vez que ouvi a banda foi numa fita cassete que um amigo me deu. De um lado era Ace of Spade e do outro Ride the Lightning, do Metallica. Então de tempos em tempos sigo o que os caras estão fazendo. Não sou fã de carteirinha, mas tenho muitos discos. Quando o The World is Yours foi lançado uns anos atrás, fazia tempo que não ouvia nada deles, mas então me conquistaram novamente. Aquele disco me fez, mais uma vez, querer tentar lançar o livro.

Ele é repleto de histórias inesquecíveis, tipo aquela que ele ficou desacordado depois de receber três boquetes consecutivos.
Foi nesse dia que o Bomber ganhou disco de platina. O Lemmy perdeu a consciência nos bastidores logo depois de tocar e tiveram que acordá-lo para ele voltar ao palco e tocar o bis. Segundo ele mesmo, não se lembra por que aquilo aconteceu, mas disse aos jornalistas que ficou desacordado porque recebeu três boquetes consecutivos naquela tarde.

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Ou aquela sobre a lenda de que o sangue dele é tão poluído que ele não pode doá-lo.
Acho que nenhuma das anedotas míticas ficou de fora: sua temporada como roadie do Hendrix, o dia que foi expulso do Hawkwind, a vez que ele tomou uma porrada de tranquilizantes e anfetamina para não ser pego com aquilo, entrou numa espécie de coma e acharam que ele tinha morrido… Toda a carnificina que o leitor espera está presente no livro. Ele é narrado com humor (britânico) e desmistificação. O Lemmy está ciente de que parte do apelo do Mötorhead é o seu personagem. Ele reconhece que o rock requer um pouco de pose, que isso faz parte do jogo. Suas palavras exatas são: “Que porra você está fazendo nesse ramo se não é um pouquinho poser?”.

Ele conseguiu ser um cliché do rock‘n’roll sem se tornar uma paródia.
Concordo. E o segredo para conseguir isso foi ser consciente do seu próprio personagem e lidar com isso com humor, não se levar a sério demais. Os vejo como os verdadeiros operários do rock. Lemmy disse que a falta de sucesso de “Iron First” e “Another Perfect Day” fez bem no fim das contas. Se continuassem tendo o mesmo sucesso que tiveram com Ace of Spades e No Sleep Til Hammersmith, a banda teria implodido.

Teriam se tornado uns imbecis, assim como todos os astros do rock.
Sim, teriam perdido a cabeça. As vendas da banda são relativamente modestas, o que os força a fazer turnês constantemente. Uma das coisas que o Lemmy confessa no livro é que ele ganha mais royalties com quatro músicas que escreveu para o Ozzy do que com o resto do catálogo do Motörhead. Ele não esbanja um estilo de vida milionário. Mora num apartamento relativamente pequeno e seu passatempo favorito são máquinas caça-níqueis. Não tem uma mansão ou coleciona obras de arte como outros astros do rock que são mais nariz empinado do que ele. O que fez com que ele não desaparecesse foi persistir e estar em contato direto com seus fãs.

Ele pode não ser um colecionador de obras de arte, mas sem dúvida coleciona muita parafernália militar e nazista.
Curiosamente, ele atribui a parafernália militar à sua idade. Bem, ele nasceu em 1945 e diz que se lembra de como era comum as pessoas que lutaram na Segunda Guerra Mundial guardarem lembranças e troféus da Alemanha nazista.

Tradução: Stefania Cannone

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