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Música

Philip Seymour Hoffman: O Lester Bangs que Inspirou a Todos Nós

Um fim trágico para a vida de um dos maiores atores da nossa geração.

Cameron Crowe, Philip Seymour Hoffman, e Patrick Fugit no set do filme Quase Famosos. Foto por Neal Preston via.

Para a nossa geração, Philip Seymour Hoffman se reconstruiu e se tornou nosso Lester Bangs pessoal. E não é porque somos idiotas. É porque quando ele assumiu o papel de Lester no filme autobiográfico Quase Famosos do Cameron Crowe, Hoffman fez o que o Hoffman faria. E ele fez por nós.

Nenhum ator honrava a arte de interpretação do jeito que ele fazia. Meu antigo colega, Alan Scherstuhl, escreveu um artigo no Village Voice falando que Hoffman era “discreto, divertido e assustadoramente carismático, possuído de um esplendor que só está presente em grandes atores.” Em 2008, o diretor Mike Nichols, que dirigiu Philip no cinema e nos palcos, falou para a New York Times Magazine sobre o talento de Philip: “De novo e de novo, ele consegue se tornar alguém que nunca vi antes, mas que consigo imediatamente reconhecer. Ele pode parecer com o Phil, mas há algo diferente em seus olhos. E isso significa que ele se reconstituiu por dentro, rearranjando suas moléculas para se tornar outro ser humano.”

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Assisti Quase Famosos tantas vezes que perdi as contas. Não é o meu filme favorito – nem é o meu filme favorito com o Philip – mas quando ele foi lançado lá pelos anos 00, introduziu a geração de jovens para os dias de ouro da critica do rock e criou uma versão completamente romantizada de um estilo de vida, fazendo-o ser incrivelmente foda. Sendo um garoto de uma cidade pequena em Iowa, o filme me mostrou um mundo o qual eu nem imaginava que existia. Meu pai escutava muita música, mas assistir o Lester Bangs (interpretado pelo Philip) vociferar sobre o Jim Morrison ter a coragem de ser um poeta bêbado e o que ser um poeta bêbado significa me fez acreditar que eu realmente poderia ganhar a vida escutando música. Cada palavra que ele disse era verdade. Até hoje, quando penso sobre o Lester Bangs, penso também no Hoffman e lembro da cena que em que o Charlie liga para ele procurando por um conselho sobre como contar a verdade e porque isso é importante. Seja honesto, seja impiedoso, Hoffman disse. “A única moeda verdadeira nesse mundo falido é o que nós dividimos com outra pessoa quando não somos legais.”

O que fazia Hoffamn ser tão incrível é que ele conseguia se transformar em qualquer pessoa ou coisa que ele precisasse para cumprir a arte e provavelmente sacrificando sua sanidade no processo. Dizem que durante as filmagens de Capote, um papel que garantiu a ele uma estatueta do Oscar como melhor ator, ele não deixou de ser a pessoa quieta e pensativa que ele era durante o processo. Ele costumava andar pelo set, murmurando na pequena voz que ele criou para seu personagem, fazendo sem dúvida o simples ato de pegar café ou uma rosquinha ser algo um pouco desconfortável para quem estava do lado dele. Mas ele fez isso, porque era o que precisava ser feito para dar certo. Em todos os sentidos, os sujeitos de Hoffman o consumiam. E, enquanto faziam isso, acontecia algo mais do que cativar o espectador. Ele nos persuadia a pegar o pedaço de humanidade que ele estava colocando na tela e fazer algo com isso ou pensar sobre.

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Essas qualidade fizeram esse homem ser o meu ator favorito. Eu nunca o conheci pessoalmente, mas o papeis que ele interpretou moldaram a pessoa que sou hoje. Quando fiquei sabendo de sua morte, fiquei inconsolável. E quando soube que ele foi encontrado em seu banheiro com uma agulha cheia de heroína em seu braço, fui direto para meu quarto, fechei a porta e deitei na minha cama em silêncio. Não queria conversar com ninguém porque não queria acreditar nisso. Meu coração estava partido. Ele tinha apenas 46 anos e tinha três filhos. Agora ele se foi.

A morte é uma coisa estranha. A Joan Didion escreveu uma vez que “é fácil ver o começo das coisas e difícil ver o final delas.” Sempre me esforcei para viver de acordo com esse conceito, porque faz sentido aplicar esse modo de ver o mundo nas nossas rotinas. Nós conhecemos novas pessoas. Nós fazemos novos amigos. Nós se apaixonamos. E sempre nos lembraremos do começo das coisas – as histórias que contamos para nossos amigos, como aquela vez que ela sentou sem querer do seu lado e você se apaixonou e conheceu a mãe dela um mês depois enquanto andava em um carrossel no Central Park; ou aquela vez que você e o seu amigo cantaram cada parte de um rap juntos e sabiam que seriam amigos pra sempre. O começo é fácil. O começo é limpo. O fim é que é difícil e confuso. E quando uma amizade ou um relacionamento chega ao fim, é quase sempre uma bagunça.

Mas a morte é diferente. Vivemos uma vida cheia de inconsistências e desafios e estamos constantemente tentando esticar mais do que deveríamos algumas coisas que não queremos que terminem. Mas quando alguém morre, não existe outra opção além de ter que lidar com isso. Você pode perguntar porque. Mas você não terá uma resposta. Você pode passar as memórias várias e várias vezes pela sua cabeça, mas não haverá nenhuma nova. A morte significa que alguém se foi. Se foi. E isso te força a lidar com esse fato. E ninguém quer fazer isso.

Eric Sundermann está no Twitter. @ericsundy