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Música

O Dâm-Funk Só Está Tentando Manter o Funk Vivo

Prestes a lançar o seu segundo álbum, o "funkeiro" só quer que, um dia, o seu gênero seja tão respeitado quanto o jazz ou a música clássica.

Se existe alguém que está tentando manter o funk vivo hoje em dia, esse cara é o Dâm-Funk. Nascido em Pasaderna, na Califórnia, o produtor e músico é, sobretudo, um homem super comprometido com o gênero que toca. Funk é funk. É sério e merece respeito. Não fique achando que é só aquilo que o James Brown tocou nos anos 60 ou apenas um "incremento" que o Red Hot Chili Peppers usou para fazer um rock californiano mais "descolado". E não pense que isso faz dele alguém fechado para outros estilos musicais. Muito pelo contrário. Desde 2008, quando lançou seu primeiro álbum, Toeachizown, Dâm tem se dedicado bastante a projetos paralelos com outros artistas, como o Snoop Dogg e o Tyler, the Creator. Uma mistura bastante interessante, ele acha. No entanto, a gente vai poder voltar a escutar seus synths e a sua drum machine bem g-funk em breve. Na verdade, ele até já deu uma pequena amostra do seu próximo álbum, Invite the Light, com o single "We Continue".

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A gente conversou com o Dâm, que também é DJ e está vindo tocar em São Paulo nesta sexta-feira (14) no Superloft, sobre Kendrick Lamar, Snopp Dogg, Soundcloud e, claro, funk. Leia a entrevista abaixo:

Noisey: Para você, quem é Dâm-Funk?

Dâm-Funk: Um 'funkeiro modernista', saca?

E como você define o seu estilo hoje?

Defino o meu estilo como uma forma moderna da black music americana, que tem uma tradição muito forte de hip-hop, mas agora o funk está de volta. E o som que eu estou preparando é lindo, os acordes são alegres. Apesar de ele também ser da Costa Oeste, ele é feliz ao mesmo tempo e com várias mensagens positivas.

Qual foi o seu primeiro contato com o funk?

O meu primeiro contato foi provavelmente com o P-Funk (Parliament-Funkadelic), esse tipo de grupo. Mas foi o Prince que fez o meu mundo mudar completamente quando ele começou a desenvolver o seu tipo particular de funk nas suas músicas.É muito envolvente. Foi quando eu ouvi Prince que descobri que o funk era o meu tipo de música.

O que a gente pode esperar do seu novo álbum?

O novo álbum vai ser uma mistura de coisas pelas quais eu já passei e estive em contato desde 2009 até agora, 2015. Então, tudo com o que eu me envolvi, desde emoções, experiências desse tempo, mesmo que instrumentalmente, os tons, os sons vão refletir o que me aconteceu até agora como músico e como ser humano também.

Como foi trabalhar com o Snoop Dogg?

Ele é ótimo.

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A gente se deu muito bem juntos. É sempre bom trabalhar com músicos sérios e esforçados. Foi um grande prazer.

Você acha que o influenciou no álbum novo dele?

Talvez. Muitas pessoas com as quais eu tenho conversado nesse último ano, alguns produtores, me falaram que talvez eu tenha o feito olhar para o funk de novo, com um olhar mais atento. E achei isso bom. Torço que isso ajude outros artistas mais mainstream a descobrirem o funk como um gênero que merece seu devido valor. Um dia, espero que o funk seja tão respeitado quanto o jazz ou a música clássica.

Você falou que o seu som é da Costa Oeste, mas alegre. Falando nisso, o que você achou do To Pimp a Butterfly, álbum novo do Kendrick Lamar?

É muito bom. O Kendrick Lamar é um ótimo artista. Ele mixa muito jazz com hip-hop, então ficou uma mistura muito legal. E tem um pouco de funk ali. Mas espero que com o tempo a gente consiga também ouvir funk sem que ele esteja colocado ali só para incrementar gêneros diferentes e se tornar audível para o público.

Por que você demorou tanto para lançar um álbum solo novo?

Eu só estava relaxando, vivendo a minha vida, tendo experiências, conhecendo diferentes tipos de pessoas, trabalhando em vários projetos. Na verdade, só queria fazer esse álbum no meu tempo. Levar o tempo que precisasse para gravá-lo. Infelizmente, quando faço música, demora um pouco para as pessoas pegarem o meu espírito. Acho que eu sou meio almadiçoado pelo tempo, porque fico sempre pensando no futuro. Não é um tipo de funk contemporâneo. É um tipo de música do futuro, e não vou usar isso como uma piada. Não é paa ser engraçada. Tenho quase certeza que ninguém vai entender muito o meu disco agora, logo depois do lançamento, mas espero que, depois de, sei lá, uns dois anos, as pessoas percebam o que estava fazendo e querendo dizer com o meu trabalho.

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Você falou sobre trabalhar em projetos com outros artistas. Como que o Soundcloud te ajudou nisso?
O bom do Soundcloud é que ele te permite fazer músicas, postar e deixar as pessoas ouvirem e se acostumarem com aquele som, como se fosse um experimento, mais ou menos. Percebi também que eu conseguia influenciar as pessoas assim. Foi meio que um truque meu para fazer com que a mente das pessoas esteja pronta para os meus trabalhos futuros. Você já teve problemas com o Soundcloud?
O único problema com o Souncloud é que a partir do momento que as pessoas começam a te ouvir, elas começam também a copiar o seu som. Anos atrás, não se tinha isso. Você não conseguia ouvir um material antes de ele ser de fato lançado. Hoje, vários produtores ficam pesquisando, ouvindo as suas faixas no Soundcloud e tentando fazer algo parecido, seja a mesma batida, o mesmo sintetizador. Daí, você fica pensando: "Puta merda, eu praticamente dei de graça o meu trabalho". É legal poder estar inspirando alguns caras por aí, mas alguns músicos parecem que não têm autoconfiança o suficiente para criar o seu próprio som e começam, conscientemente ou não, a copiar. Sou de uma época que a sua batida te definia. Hoje em dia, todo mundo ouve alguma coisa legal e ele tenta fazer o mesmo tipo de som, seja por causa de dinheiro, seja para ser popular pelas próximas duas semanas. Esse é o lado ruim: você pode botar um trampo seu hoje no Souncloud e ouvir algo parecido na rádio daqui uns seis meses. Podem alegar que estão só fazendo uma mixtape, mas o que acontece é que tem muita gente preguiçosa por aí e a gente tem que lidar com isso.

Você veio para o Brasil em 2011. Como foi? O que você mais curtiu?
Foi muito bom. Em São Paulo, tem muitos lugares bacanas. As pessoas são simpáticas e a comida é gostosa. A energia das festas no Brasil são do caralho. Eu gostei muito. Gostei muito do clima e estou ansioso para voltar.

E que comida você experimentou?
Esqueci o nome, mas me lembro de uma carne que vinha espetada num negócio gigante e que o garçom cortava e servia em pedaços no prato. Churrasco?
Sim. É isso. Muito bom. O que você conhece e gosta da música brasileira?
Eu gosto muito dos acordes meio afro-jazz, o mix que vocês conseguem fazer. Também gosto de como o funk foi tratado aí. É um tipo diferente de funk e eu respeito isso. Como se vocês tivessem transformado ele e algo genuinamente brasileiro. Curto muito o Marcos Valle. Sou muito aberto a qualquer tipo de novidade musical. Sempre vou às lojas, escolho discos aleatórios, fecho os olhos e fico ouvindo, tentando quebrar qualquer preconceito. Da última vez que eu estive aí, entrei em contato com muito som bacana. Ouviu funk carioca?
Não, desculpa, não conheço. Prometo que vou ouvir quando estiver aí. Por que e como você acha que o funk é importante hoje em dia?
O funk é mais livre que o R&B, então, você tem um pouco mais de liberdade criativa. Você pode colocar um solo de guitarra, cantar sobre vários assuntos, não só sobre relacionamentos, essas coisas. Também você pode ser arriscar mais no instrumental. E é curioso como é um ritmo amado por todos. Querendo ou não, em qualquer lugar onde se ponha o funk para tocar, todo mundo vai sentir uma vibe positiva no ar. Por isso que eu sempre digo para os fãs do funk permanecerem com o pensamento positivo para tempos ruins não nos abalarem. Fiquem fortes.

Dâm-Funk em São Paulo
14/08 - 23h
Superloft - Rua Cardeal Arcoverde, 2926
R$ 30,00/R$ 55,00