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Música

Heranças Milionárias e Post-Punk de Facul no EP de Estreia do Trio Carioca Crusader de Deus

Três músicas compõem 'Relações Públicas', debut da mais nova banda do Gabriel Guerra (ex-Dorgas e atual Séculos Apaixonados). E, apesar dessa foto aí, esse não é um post patrocinado (infelizmente).

Sabe o Séculos Apaixonados, aquela banda carioca que o Noisey apresentou aqui? Então, o Crusades de Deus é o novo projeto do vocalista/guitarrista deles, Gabriel Guerra (ex-Dorgas). E ele se juntou ao Thiago Rebello (baixo), com quem já tinha trampado no Repetentes 2008, e à Clara Zettel (bateria) para tocar um post-punk nervoso e falar de grana de uma maneira bonita.

E se você acha que "post-punk" tem a ver só com Sonic Youth e com o está escrito na Wikipédia, esqueça. O Crusaders tem a ver com o Sonic Youth, sim. Mas também tem a ver com Marisa Monte e Cyndi Lauper. Na real, eles tomaram um baque quando perceberam que pós-punk não tinha nada a ver com memes bobos sobre góticos no Tumblr. Enfim, o que você tem que entender é que esses meninos de 20 e poucos anos estão tocando sobre política e economia de um jeito massa e zero prepotente.

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E dá para sacar muito essa pegada no primeiro EP deles, Relações Públicas, que, segundo o Guerra, foi gravado ao vivo em um dia na casa de uma amiga. O disco foi lançado nesta segunda-feira (28) pelo selo e produtora Balaclava Records e você pode ouvir as três faixas aqui:

Continua…

Aproveitando o lançamento, nós conversamos com o Guerra sobre seu novo projeto, política, relação dos jovens com bancos, o futuro do Séculos Apaixonados (que vai tocar em São Paulo no próximo dia 10, na Casa do Mancha) e, claro, post-punk. Leia abaixo:

Noisey: Como surgiu o Crusader de Deus?
Gabriel Guerra: Entrei na faculdade de Informática em 2011, junto com um amigo de escola chamado João Bentes. Lá, havia um centro de atividade/casinha chamado CAFIL. Em muito pouco tempo, o Bentes se tornou o rei do pedaço. Como já tínhamos influência pelo recinto, tivemos a ideia de fazer a festa "Quinta do Pós-Punk".

No princípio, era uma festa pra tocar obviamente só o que nós considerávamos pós-punk. Tinha tudo para dar errado, porque todo mundo do CAFIL costumava ouvir Nightwish, Pearl Jam, Iron Maiden e Gentle Giant. Por algum acaso, no entanto, a QdPP virou um sucesso e rolava de tudo… rodinha, drogas, videogame. Um treco absurdo. Nesse meio tempo, o Rebello (que era do Cinema, mas também frequentava o centro da Informática) se tornou o maior entusiasta da festa e começou a ajudar a organizá-la. A Zettel não ia muito porque ela era do CRAA (que era a casinha do Design) e o CRAA e o CAFIL nunca se deram muito bem.

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Hoje em dia, a festa não rola mais e o Bentes foi para Nova York, mas a ideia inicial do Crusader de Deus foi manter vivo o espírito das Quintas Pós-Punk.

Mas o que vocês tocavam lá nas festas?
Então, eu me lembro que eram unanimidades na Quinta do Pós-Punk coisas como as Mercenárias, Minutemen, Cyndi Lauper, Black Future, Bush Tetras, Sonic Youth, e o que desse na telha. Teve um dia que a sequência foi: Korzus, AC/DC, Marisa Monte, Surgeon, Capitalist Casualties e Eiffel 65. Acho que essa foi a úlltima QdPP.

A verdade é que o conceito de "pós-punk" para o pessoal do CAFIL é totalmente desviado. Eles botariam um disco da Cyndi Lauper e falariam "isso é pós-punk". O fato, no entanto, é que o pessoal só curtia o som sem fazer a menor ideia do que estava acontecendo.
Então, quando a gente fala que alguma coisa é "pós-punk", na verdade, é que ela é sinônimo de "opa, dava pra tocar isso no CAFIL". Ou seja, é "maneiro".

Agora me explica essas fotos na frente dos bancos e o que elas têm a ver com a música de vocês.
A verdade é que ninguém da banda veio de uma família humilde. Todos nós estamos nos formando na faculdade e uma das nossas grandes preocupações (o que não necessariamente é o que a gente segue ou realmente quer fazer) é: "como eu faço pra manter a renda da minha família?". E a resposta pra essa pergunta é muito fácil: "Não sei".

Então, nossa relação com o banco é imbecil: você não pode cobrar de alguém com menos de 22 anos de ter um relacionamento importantíssimo com o banco ou com a economia de um país inteiro. Mas também é importante, uma vez que vamos ter de arcar com heranças imobiliárias de nossos pais.

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Também porque eu ainda não entendo como as bandas têm tanto medo de falar suas relações com dinheiro, no sentido de que é muito óbvio que, se você tem uma banda, você está perdendo o dinheiro.

Mas por que você acha que as bandas têm medo?
Boa pergunta, porque, de fato, é muito escroto isso. Dá pra falar bonito de dinheiro sem necessariamente ter que ficar sendo explícito sobre a coisa. No fundo, toda a banda fala sobre dinheiro. E não que não seja importante falar de outras coisas. Eu, porém, realmente gosto de falar de dinheiro. O ponto das letras do álbum é poder mostrar que existe uma forma de se relacionar com a política/economia do dia a dia, sem ter que "problematizar", soar utilitário ou ser resolucionista com ela. E a gente fez isso porque sinto que sempre perco grana com bandas, mas curto muito tocar nelas.

Falando em bandas que você toca, você também é vocal do Séculos Apaixonados, né.
Sim. O Séculos está começando a fazer o segundo disco. Estamos com uns shows pra fazer agora. Inclusive, vamos tocar no dia 10 de outubro aí na Casa do Mancha. Enfim, estamos desenvolvendo. Fizemos algumas sessões, mas ainda não estamos naquele trabalho brutal.

Daora. Tem previsão pra quando vai sair o disco ou tá longe ainda?
Wowww. Antes de julho, do ano que vem.

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