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Música

Um Maluco Encontrou a Trilha de ‘Star Wars’ e ‘Game of Thrones’ nas Páginas de ‘Finnegans Wake’

Finnegans Wake é o limiar entre a loucura e a genialidade de James Joyce, e mais maluco (ou gênio) ainda, é o cara que encontrou essas trilhas sonoras nos textos do livro.

Muitos artistas chegam a um momento de suas vidas em que se colocam no fino limiar entre loucura e genialidade, um desses casos é o do escritor James Joyce, que poucos anos antes de morrer completou seu mais complexo livro, o Finnegans Wake.

Escrito numa linguagem deliberadamente críptica e labirintesca, o Finnegans Wake sempre atraiu análises com os mais diversos tipos de abordagem. Como diria um desses tantos analisadores, o livro acaba servindo como um Teste de Rorschach, tamanha é a desorganização das ideias apresentadas. Analisá-lo é como encaixar eventos recentes nas descrições das quadras proféticas de Nostradamus, ou pelo menos algo divertido como quando Pantagruel e Panúrgio tentam interpretar suas sortes através dos mais diversos meios de adivinhação, como por exemplo ouvir o louco Triboulet.

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Muitos são os que tentaram buscar padrões musicais na obra de Joyce. Geralmente no que diz respeito à forma, um sugere que um livro seja como uma sinfonia, outro livro é uma sonata e assim por diante, mas a análise que mais me chamou atenção foi a do polonês Krzysztof Bartnicki, que após traduzir o Finnegans Wake p’ra seu idioma nativo, teve a idéia de extrair do texto apenas as letras que simbolizam notas musicais do sistema alemão: A (lá), B (si bemol), C (dó), D (ré), E (mi), F (Fá), G (sol), H (si natural).

O conceito não é novo, Johann Sebastian Bach já se utilizava desse método p’ra colocar seu nome em suas músicas, e inclusive o compositor finlandês Einojuhani Rautavaara tomou as iniciais de “Howth Castle and Environs” (lugar citado no primeiro parágrafo do Finnegans Wake) para criar o motivo melódico de sua peça Anadyomene, Adoration of Aphrodith. Segundo Rautavaara naquele tempo todo bom artista esnobe tinha que criar uma obra que estivesse relacionada, em algum nível ao menos, aos dois primeiros parágrafos do livro de Joyce.

Voltando à proposta de Bartnicki, após separar as notas musicais do restante, ele brincou arbitrariamente com os tempos das notas, já que nesse caso textual o ritmo não é simbolizado, e afirmou ter encontrado alguns trechos de composições de Haydn, Paganini, os Hinos Nacionais do Japão, EUA, Inglaterra, e algumas outras coisas. Até ai “tudo bem”, com um ar de espanto e desconfiança, mas a desconfiança cresce mesmo é quando ele diz ter encontrado no livro trechos de trilhas sonoras de Star Wars e agora também de Game of Thrones, obras que vieram a ser concebidas após a morte de James Joyce. O que nos resta fazer agora é ouvir isso, saca só:

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Ouvindo assim esses midis horríveis, e fazendo o sacrifício de ouvir o restante deles, fica claro que ele tenta se ater à algumas das notas e, quando outras atrapalham o que seria seu grande achado, ele as coloca como rápidas inflexões, geralmente num registro bem agudo, deixando as que ele considera mais importante p’ro tema num registro médio e no ritmo que ele consegue aproximar das obras citadas.

O caso todo nos faz lembrar de Gigamesh, livro fictício resenhado por Stanisław Lem (aquele cara que escreveu Solaris, que foi adaptado p’ro cinema pelo Tarkovski). O livro seria um passo além do Finnegans Wake, em que o autor faz também um livro de comentários explicando todas as referências e códigos do livro principal: um capítulo que contém uma composição musical, outro possui o diagrama de uma catedral, um padrão de vírgulas numa das páginas forma um mapa de Roma, ou seja, uma obra de arte completa.

O que nos resta agora é procurar o código de DNA de Clark Kent nas páginas do Assim Falou Zaratustra de Nietzsche, ou pelo menos procurar a planta arquitetônica do Itaquerão em algum capítulo do Ágape do Padre Marcelo.