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Música

Ouça “Vida É Canção”, Música Inédita do Rapper Mineiro Matéria Prima

Faixa é exclusividade do Noisey e faz parte do próximo EP do ex-Quinto Andar, "Expressão Poética", que deve sair no primeiro semestre.

Fotos por Diogo Andrade/Divulgação.

No home studio da banda Constantina, Matéria Prima ensaia a música “Cubo Mágico”, composta para Pacífico (2012), disco de parcerias do grupo de rock instrumental belo-horizontino. A letra poética é cantada em um flow cadenciado, que se mistura à instrumentalização poderosa do grupo. Em dado momento, surge um rap sagaz, de rimas rápidas, amparado por uma base eletrônica. A música é um dos exemplos da versatilidade do MC e cantor mineiro, construída nos últimos anos em experiências que vão além do rap. Outra prova disso é seu segundo EP, Expressão Poética, que deve sair ainda no primeiro semestre desse ano.

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Ouça com exclusividade "Vida É Canção" ou baixe aqui.

Um dia antes do ensaio, ouvi em primeira mão as canções do álbum enquanto trocávamos ideias sobre o seu trabalho, a carreira e a vida. “A música tem sido mais coadjuvante que protagonista no cotidiano. Ela tá ali quando você varre a casa, faz um rango. Aqui, de pano de fundo para a entrevista. Mas você raramente para e só escuta música. Ela te ajuda no trabalho, te leva de um lugar a outro, te põe pra dormir. Mas você nem presta tanta atenção. Não tenta ir além da sensação. E tem muito mais que o sensorial, que a audição”, observa.

Espontaneamente, o trabalho de Matéria Prima – nascido Thiago Augusto e criado no bairro de Santo André, em Belo Horizonte – vai na contramão dessa sequela da correria contemporânea. Seja pelo conteúdo das letras, pela métrica das rimas, pelos flows dinâmicos ou pelos beats chapados, o som requere atenção do ouvinte. “Vida é Canção”, que você pode ouvir no player acima, mostra isso muito bem. É difícil não esticar as antenas para captar a mensagem da letra ou deixar de se mexer com as batidas de Coyote Beatz, que assina a produção do disco.

Matéria conta que o capricho do novo trabalho aconteceu de forma orgânica, despretensiosa. “Precisamos viver outras experiências, o que atrasou o EP, mas amadureceu as músicas. Acrescentou a água que faltava ao miojo. O tempo dita muito o processo das coisas”, conta. Entre o debut Material de Estúdio (2012) e hoje, Matéria pôde lapidar rimas e linhas melódicas no Zimun e em parcerias com Constantina, Lise, Sérgio Pererê e Bruno Kayapy. Com o Zimun – banda de sete integrantes que mistura jazz, rock, rap e experimentalismo –, lançou o elogiado EP Surreal (2012). “Por não ter restrição de gênero, a banda transita muito bem em diferentes circuitos”.

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Matéria também já tem seu nome cravado no universo do rap. Fez parte, no começo dos anos 2000, do Quinto Andar, banda formada em Niterói (RJ), que contava com MCs como Shawlin, Marechal e De Leve. O coletivo ficou conhecido pela criatividade e bom humor das rimas, que fugiam da temática do protesto, que davam o tom do rap brasileiro da época. “A Trip tinha uns discos com coleções regionais e um deles era de rap carioca. Lembro que tomei um tapa quando ouvi. Os caras acabavam com aquele lance de ter que ser seco, sério. Brincavam com as rimas, com o flow, com a composição. Até então eu achava que, para fazer rap, não dava para compor tipo o Arnaldo Antunes, o Jorge DuPeixe, a Marisa Monte”, relembra.

O convite para formar o Quinto Andar veio depois que Marechal e Matéria se conheceram, por acaso, em Belo Horizonte. “Uma amiga gringa me deu uma fita da banda Non-Phixion, que tinha a música ‘Black Helicopters’. O Marechal usava esse som no ‘Melô da Zueira’, que estava no álbum da Trip. Quando rolou o show de lançamento desse disco em BH, levei a fita e mostrei para ele. Descobrimos afinidades e começamos a trocar ideias. A gente se falava por telefone, e eu mostrava minhas rimas. Depois, ele me convidou para ir ao Rio e tomei um susto quando vi o tanto que a galera já rimava. E foi lá que eles me convidaram para fazer parte do Quinto Andar”. Com o grupo, Matéria gravou as músicas “Temidos”, “Tá Feito” e “Madruga”.

Quando o Quinto Andar acabou, alguns ex-integrantes resolveram montar um novo projeto, chamado Subsolo, que contava com Matéria Prima, os MCs Gato Congelado, Kamau, Lumbriga, Pai Lua, Shawlin e Xará, e o DJ Mako. O grupo lançou um disco, Ordem de Despejo, em 2009, bem recebido pela crítica de rap. “Fizemos três shows com o Subsolo, dois em Curitiba e um em São Paulo. Foi uma época bem legal, de muito aprendizado”.

Hoje, aos 35 anos, Matéria Prima segue adquirindo conhecimento, se descobrindo como artista e desvencilhando-se de amarras de estilo. “O que podemos esperar do Matéria em 2014? Mais cantor e menos rapper?”, pergunto enquanto ele me aplica o disco Missa dos Quilombos, de Milton Nascimento. “Ah, cara, acho que vocês vão ver mais desses dois ‘Matérias’. Passei o ano novo com alguns amigos, numa casa em Mariana (MG), um dos convidados era o pianista húngaro Ian Guest. Nem sabia quem era o cara, e tive a chance de cantar duas músicas com ele. Foi lindo! Acho que é um sinal, saca. De que esse ano vai ter mais instrumento, mais melodia. Vai ser um ano musical, na essência”.