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Música

Pharrell Fala Sobre Como É Ser o Dono da Maior Música do Mundo

Podemos dizer que "o universo conspirou" e ele está muito feliz com isso

Pharrell vem fazendo música há 20 anos e é uma estrela há mais de 10, mas por uma estranha ironia do destino, só agora aos 41, ele está tendo o melhor ano da sua carreira.

Pharrell Williams é muito conhecido por produzir todo mundo do pop, de Jay-Z a Madonna, e ele nunca foi o tipo de produtor de ficar escondido nos bastidores. Suas participações em músicas tipo “Drop It Like It’s Hot” do Snoop Dog e “Blurred Lines” do Robin Thicke, são, em grande parte, responsáveis por essas canções terem chegado ao topo, e o público ainda parece ter dificuldades em aceitar Pharrell enquanto artista solo. Até agora.

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“Happy”, o principal single do seu novo disco, G I R L, é um atestado fenômeno, e finalmente deu a Pharrell seu próprio hit nº. 1, chegando ao topo da Hot 100 -- tabela padrão norte-americana da Billboard -- por sete semanas seguidas, não dando nenhum sinal de que vai sair dali. Ter uma música no primeiro lugar da lista da Billboard por si só já é uma conquista, mas estar nessa posição há já dois meses vai além de ser “popular”. E é assim que um disco se torna uma lenda, e poucos na história tiveram uma onda assim tão boa ou melhor.

Conversamos com Pharrell sobre como é ter a maior música do mundo, sobre este disco é mais importante que o primeiro, e sobre ele dever tudo ao povo.

Noisey: “Happy” é muito mais do que uma música nº 1. É um momento na cultura pop. Como é que você se sente?

Pharrell: Tem sido incrível, porque eu sei que não fiz isso sozinho. Sim, sou o autor da música, mas as pessoas são as autoras do sucesso. Quando você diz “grande”, “enorme” e “bem sucedido”, você está, na verdade, se referindo a como o público reagiu a algo. Cada vez que uma pessoa vota, ou pede, ou baixa, ela está contribuindo para o movimento que “Happy” se tornou. Foram elas que levaram a canção ao primeiro lugar. A única coisa que eu pude fazer foi criar a música. Mas quantas boas músicas são escritas todos os dias? Nem todas elas recebem esse tipo de reação. Quando você é novo e você está fazendo isso, você pensa que é você, mas quando você está fazendo isso pelo tempo que eu estou, você percebe que pode ser ótimo, mas há fatores que se movem como placas tectônicas. Você vai vê-los constantemente por aí quando você pensa que algo vai estourar, mas por qualquer motivo, nada acontece. Só estou muito feliz que o universo conspirou pra nos dar esse tipo de momento e eu quero continuar leal a isso. Assim como “Happy” não tem um tom de pregação, é só que a informação está lá caso você queira; é assim que tenciono fazer minha música.

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É gratificante que tudo isso esteja acontecendo com uma música tão positiva? Adorei O Lobo de Wall Street por causa de todas as coisas péssimas que eles faziam. Sabemos o apelo que o obscuro tem. Mas “Happy” me faz pensar que há uma mudança no humor da população. Minha mãe me mandou um sms do nada dizendo “Adoro aquela música do Pharrell”. Acho que esse não é um lugar que você atinge quando o conteúdo é negativo. É preciso um certo tipo de mensagem e um determinado ponto de vista.

Quem espera que isso aconteça? É surreal. Estou muito grato a todas as pessoas que sentiram que a canção fez sentido pra elas. E G I R L, inclusive. Tudo tem sido tão acolhedor e gentil. Mesmo que meu trabalho não seja perfeito, acho que todo mundo entende que o denominador comum é ter certeza de que isso pode, esteticamente, ter um valor. Sim, eu ouço os sons, mas o que eu estou sentindo? É assim que as coisas estão rolando. A definição e o significado por trás da palavra “qualidade” vai mudar este ano. Você vai ver essa mudança acontecer muito rapidamente. Costumava significar “aquela Ferrari”, “aquele cheque”. Mas agora vai ser “Como eu me senti quando entrei naquele prédio? Como eu me senti quando cantei aquela música? Como foi a minha experiência quando visitei aquele site?”. Sentimentos vão reinar novamente, e costumava ser assim antes. Quando eu era criança, você ouvia uma música e a sentia. Ao ouvir um som dos O’Jays, tipo “Cry Together”, eu não fazia ideia do que eles estavam falando. Eu era muito novo, mas eu conseguia sentir aquilo. Acho que ao longo de todas as sub-modalidades e sensações, você vai poder perceber que aquilo que vai reinar soberano este ano será o sentimento.

Estou fascinado pelas suas ideias sobre o seu primeiro disco solo, In My Mind. Há uma citação sua em que você diz “Aquilo não era alegria. Era só exibicionismo”. Mas aquele exibicionismo nos deu alguma alegria. Algumas pessoas acreditam que In My Mind seja um clássico. Você disse “Cara, do que eu estava falando?” em referência à letra “they see me on TV, the cuties they wanna fuck” (elas me veem na TV, as gatinhas querem me comer), mas frases como essa inspiraram muitos de nós. Aquele carro dos Transformers no vídeo de “Can I Have It Like That”. Percebi que há valor nas coisas fora os objetos materiais, mas quando você é jovem, vendo TV, havia algum sentimento ali. Estou intrigado pelo fato de que você parece estar num novo espaço e talvez um pouco arrependido do tipo de música que você fez naquele disco.

OK, vou ser bem claro. Eu estava muito passional naquela altura. Havia algum sentimento naquela música e eu estava muito emotivo, mas isso tem muito a ver com aquela energia pra mim naquele momento. É tipo quando seu computador começa entrar em modo de hibernar, ele vai escurecendo antes de apagar de vez. O motivo daquilo estar escurecendo pra mim é porque aquele era um momento tumultuado da minha vida. Eu estava passando por coisas. Absorvendo tudo aquilo, dando uma pirada. Me vi fazendo música pra competir com meus pares. E é por isso que eu acho que todos os discos do N.E.R.D. foram mil vezes mais holisticamente medicinais do que o In My Mind. O In My Mind foi tipo, “Sou aquele cara, sou aquele cara, sou aquele cara, sou aquele cara”. Quando você olha pra esse corpo de trabalho, você vê que a abnegação te dá uma leveza, uma experiência completamente extraordinária. Sim, o outro era mais emocional, e emoções são como montanhas-russas, mas esse disco é tipo um avião. Ele não tem rastros. Só essa leveza, porque não estou pensando sobre mim e, quando muito, estou apenas demonstrando meu apreço pelas mulheres. O disco é uma história de amor que as pessoas podem apreciar por conta própria.

Ernest Baker ainda está esperando a noite inteira pra “get lucky”. Ele tá no Twitter — @ernestbaker