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Música

"Não Encosta nos Roqueiros": Cantei com o Weezer no Palco

A Emma Lee Moss, do Noisey EUA, é fã do Weezer desde que tinha 16 aninhos. Ela teve a sorte de participar de um show íntimo deles, e esse foi o melhor dia da vida dela.

Já fui ver o Weezer um monte de vezes. Adoro eles desde que era uma garotinha recém-saída do avião chegando da Ásia na Inglaterra. Ouvi a música "Across the Sea" e decidi que o tema dela era eu. Já fui vê-los em suas turnês dos discos Green Album e Make Believe, e no Reading Festival, no Reino Unido, quando tinha 16 anos. Alguns anos atrás, quando me foi oferecida a chance de viajar com uma banda que tocaria junto com o Weezer no Japão, durante a turnê Memories, vi o Weezer quatro vezes, incluindo um show em que Pat abriu para a banda com um slideshow de seus primeiros tempos na estrada, e eles tocaram Pinkerton de cabo a rabo.

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Não sei se você está ciente disso, mas ver o Weezer no Japão é como ver Liberace em Las Vegas. É a mais extrema e surreal encarnação da experiência Weezer. Ou assim achava eu até noite passada, quando uma das editoras do Noisey, Kim Taylor Bennett, perguntou se eu não queria ir a um show íntimo do Weezer no Bowery Ballroom, na cidade de Nova York, onde eles fariam um show acústico com os maiores sucessos, seguidos por todas as músicas do novo disco, Everything Will Be All Right In the End. Ah, e se eu quisesse, poderia subir no palco com eles e participar do coro da banda, financiado por crowd-sourcing.

Mark Twain certa vez disse o seguinte: "Os dois dias mais importantes da sua vida são o dia em que você nasce e o dia em que descobre o porquê."

Então eu disse sim.

***

Cheguei ao Bowery Ballroom às sete da noite, como mandavam as minhas instruções, e conheci algumas pessoas que, como eu, haviam passado pela fila que se formava do lado de fora da casa de espetáculos com o andar arrogante e esperançoso de um fã do Weezer que provavelmente está prestes a fazer contato visual com Rivers Cuomo. Fomos recebidos na porta pelo diretor musical, Daniel Brummel, da banda Ozma, que nos levou a um lugar no qual apenas poucos escolhidos (e alguns funcionários da casa) já estiveram: a passagem de som do Weezer.

Depois de nos explicar que receberíamos nossos mantos exclusivos do coro do Weezer durante o show, Daniel repassou "Foolish Father" conosco, a canção com a qual entraríamos para a história da música ao cantar cinco vezes: "Everything will be all right in the end" [Tudo vai dar certo no final]. Ele nos contou que cantaríamos no tom "dó Weezer", que na verdade é dó bemol.

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Depois de nos mostrar nossos papéis, Daniel instruiu: "Não encostem nos roqueiros. Não deem presentes para os roqueiros".

"Haha", pensei, "esse Daniel é um piadista."

Mais tarde um dos meus colegas de coro disse: "Ele não está brincando".

Depois do ensaio, nos pediram que ficássemos para cantar parabéns para Sarah, assistente de Rivers, que estava a caminho da mesa de merchandising e esperou pacientemente o fim da canção antes de seguir em sua jornada. Mas foi legal para os fãs, porque Rivers e Brian vieram se juntar a nós. Consegui encurralar o Brian, para perguntar se ele lembrava de ter me conhecido na sala de refeições de uma casa de espetáculos no Japão – um encontro que nunca deixou de ser para mim uma fonte de grande alegria, porque acho que consegui explicar para ele o que é o Spotify.

"Acho que naquele dia fiz você entrar numa jornada", digo a ele.

Das duas uma: ou Brian não deu início a uma paixão de vida inteira pelo streaming gratuito de músicas naquela tarde de verão no Yokohama Stadium, ou ele não quer me dar o crédito, mas consegui tirar uma foto com ele antes que desaparecesse e o coro fosse expulso do lugar.

Brian Bell e Emma no Bowery Ballroom.

De volta ao público para assistir ao show acústico, reconheci um sentimento de ansiedade nos companheiros fãs de Weezer: a gente sabia que estava esperando por uma banda que é mestra na arte de estruturar os shows. Como já disse, fui vê-los inúmeras vezes, e toda santa vez sou levada embora por uma tempestade perfeita de sucessos e raridades, as doces pontadas da nostalgia e o alívio de ouvir sua música predileta temperados pelo controle exímio que eles exercem sobre as emoções do público. Um show do Weezer é, imagino eu, como quando um michê muito experiente, sensível e eficiente faz amor com você, mas no final tem aquele lance de pagar. Tendo isso em mente, foi apropriado que a noite começasse com "You Gave Your Love to Me Softly", executada solo por Rivers. Brian, Scott e Pat se juntaram a ele gradualmente, música por música.

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Os agrados para a plateia tiveram forte presença de Pinkerton – "Why Bother", "The Good Life", "El Scorcho" – mas incluíram também algumas raridades (como "King", uma faixa bônus na edição deluxe do disco Red). Mais para o fim nos foi dada a chance de escolher entre "Suzanne" e "No One Else". Quando esta última venceu, o potencial das coisas encresparem entre as duas facções foi evitado com um bom e velho "quero ouvir vocês cantando", no qual foi emendada a música final, "Buddy Holly".

Nesse momento, o Weezer acústico saiu do palco, e nos preparamos para o Weezer elétrico, a grande atração. A maioria do público, pelo menos: já eu me preparei para literalmente participar do Weezer. Nego que o grupo tenha fases ruins, portanto não posso descrever o novo disco como um retorno à velha forma. Mas vou dizer que não ouvi Hurley mais que duas vezes, mas posso lamber os beiços com um setlist inteiro só de músicas do Everything… Da mesma maneira que o Red continha vislumbres do mundo particular de Rivers e de como ele lida com seus fãs e com a música como um todo, Everything Will Be All Right In the End é um disco generoso e brincalhão, com o DNA do Weezer inseparavelmente enrodilhado em cada powercorde, e momentos de sinceridade lírica que são recebidos como presentes por aqueles que os reconhecem. Rivers deve estar se referindo a isso quando, em "Back to the Shack", ele canta: "Sorry guys I didn't realize that I needed you so much / I thought I'd get a new audience / I forgot that disco sucks / I ended up with nobody and I started feeling dumb / Maybe I should play the lead guitar and Pat should play the drums." [Foi mal, galera, não tinha sacado que preciso muito de vocês / Achei que conseguiria um público novo / Esqueci que a música disco é uma merda / Acabei ficando sem ninguém e comecei a me sentir idiota / Talvez eu devesse tocar a guitarra principal, e Pat a bateria.]

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Tive de sair do meio do público na marca de 20 minutos para me preparar para o grande momento; mas eu sou uma crítica profissional de música, então não desliguei meus olhos de crítica. Aqui está minha resenha do tempo em Nova York naquela noite: fresco. Aqui está a minha resenha dos mantos do coro do Weezer: dignos de seita.

Depois de "Cleopatra", o coro se amontoou atrás do palco, esperando pelos primeiros acordes de "Foolish Father".

"Não é para a gente sorrir", alguém relembrou a outro alguém.

"Hã?", pensei eu. De repente, comecei a me desesperar, pensando que tinha perdido alguma instrução essencial e estava prestes a arruinar tudo com a minha cara de feliz. Mas não havia tempo para pensar. Estávamos no palco, estávamos cantando, houve confete, e daí estava todo mundo gritando com a gente: "SAIAM! SAIAM!"

Enquanto tentávamos sair dali, algum cara latiu ordenando que devolvêssemos os mantos, e consegui olhar ele nos olhos para dizer um "obrigada" antes que ele desaparecesse, e nos víssemos mais uma vez expulsos, descobrindo que, enquanto nos paramentávamos, tínhamos perdido a Lizzy do MSMR fazendo um dueto com Rivers em "Go Away".

Lizzy do MSMR e Weezer.

Voltei para o salão principal a tempo de ver o bis – "Tired of Sex" – me sentindo meio esquisita e não-extasiada. Encontrei a Kim e perguntei a ela se tinha conseguido tirar a foto que eu precisava para esse artigo. Ela conseguiu:

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Sempre teremos Nova York, Weezer. Brian – da próxima vez vou te contar sobre a Beats.

Emma Lee-Moss não roubou o manto do Weezer, mas se arrepende muito disso. Ela também faz música como Emmy the Great. Siga-a no Twitter.

Tradução: Marcio Stockler