Esta matéria foi originalmente publicada na VICE US.
Para Daenerys Stormborn, nenhum lugar parece realmente um lar. Nem as praias distantes de Pentos, Qarth ou Meereen, nem Dragonstone, mesmo sendo o trono do poder ancestral de sua família. Em vez disso, ela está numa busca pelo Trono de Ferro em King’s Landing. No segundo episódio da sétima temporada, “Stormborn”, ela se vê muito perto desse objetivo. A vemos primeiro com sua corte de mocinhos, enquanto eles se atualizam sobre o que aconteceu na série. E, cara, isso levou um bom tempo.
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Daenerys se pergunta se pode confiar em Varys ( você pode confiar no Varys!) Melisandre aparece e diz para Tyrion e Daenerys que tem um novo Rei no Norte ( o Jon Snow!) Tyrion conta pra todo mundo quem é o Jon Snow. Isso faz a Daenerys olhar diretamente para a câmera e dizer “Ele parece um homem e tanto” ( e é mesmo, espera só pra ver o look de verão dele!) Aí ela se pergunta se pode confiar nele ( você pode confiar no Jon, Dany!) Também ficamos sabendo, através da tradutora da Daenerys, Missandei, que o “príncipe” na tal profecia “o príncipe que foi prometido” é de gênero neutro e pode ser lido como “o príncipe ou princesa”. Boa herstory, Missandei.
Agora que já falamos disso, vamos em frente — mas não, é hora de mais retrospectivas. A próxima é cortesia de Jon Snow, que recebe um corvo de Tyrion contando que Daenerys chegou a Westeros ( sim, a gente sabe, levou seis anos da nossa vida!) Snow pergunta a Sansa se pode confiar em Tyrion ( você pode confiar no Tyrion!), e depois Davos observa que Daenerys tem uma horda de Dothrakis, uma legião de Imaculados e três dragões. Claro, dragões cospem fogo e zumbis de gelo detestam fogo ( é uma ideia maluca, mas pode funcionar!)
Enquanto isso, em King’s Landing, temos outro conselho de guerra. Dessa vez a rainha Cersei exige que os lordes das grandes casas do continente — onde as coisas claramente não estavam sendo uma grande orgia de peitos e vinho — fiquem do lado dela contra Daenerys. Cersei enquadra Stormborn como filha de um rei louco que casou com um pagão e tem uma tendência a crucificar quem discorda dela. Mas Randyll Tarly, pai do Samwell, do Dickon e dono de uma voz realmente épica, não se sente muito influenciado. Ele precisa que o James elogie sua masculinidade antes de aceitar uma promoção de ator de fundo para personagem regular de Game of Thrones. Afinal de contas, o nome Tarly significa alguma coisa! (Sério, fui procurar. Segundo o Urban Dictionary, Tarly significa superar “o limite aceito gnarly“.) Finalmente, Qyburn leva Cersei para as entranhas de Red Keep para mostrar uma maneira secreta de matar dragões: disparando uma flecha gigante na cabeça deles, um negócio que mata qualquer coisa no mundo, acho.
Rainha das Cinzas
Ei, alguém aí falou em “conselho de guerra”? Porque é isso que temos de novo em Dragonstone, onde Daenerys recebe suas aliadas Ellaria Sand, Olenna Tyrell e Yara Greyjoy (o Theon estava lá também, mas no mesmo sentido que o Ringo Starr estava “com” os Beatles) na frente daquele tabuleiro de War do Stannis. As facções propõem várias manobras que não vão funcionar porque, se funcionassem, a série acabava rápido demais. Então Daenerys rejeita a estratégia de ataque por terra da Yara, dizendo que ela não quer ser a “Rainha das Cinzas”. Olenna, lacradora como sempre, fica para um tête-à-tête com Daenerys e diz uma frase que seria muito engraçada fora do contexto “Ele é um homem inteligente, sua mão”. Daí ela pergunta a Khaleesi: “Você é uma ovelha?” Honestamente, ela pode até ser a Rainha dos Espinhos, mas Diana Rigg daria uma apresentadora de programa infantil muito foda, e ela está até no canal certo pra isso.
Game of Thrones já teve muitas cenas de sexo, mas “Stormborn” nos deu uma bela cena de amor à beira da guerra. Sobre a fofo rendezvous à luz de tochas entre Missandei e Verme Cinza, o destaque do episódio, só tenho duas observações: Primeiro, é muito tocante que o arco do personagem do Verme tenha avançado até uma cunilíngua. E segundo: não vi nem ouvi Missandei fechar a porta. Gente, que tal um pouco de privacidade?
E lá na biblioteca central, o Arquimeistre Ebrose (Jim Broadbent) pergunta se Samwell consegue pensar num título mais poético para seu futuro épico de fantasia, “Uma Crônica da Guerra Depois da Morte do Rei Robert I”. Que tal “Troca de Cadeiras” ou “Almoço Nu”? E se a gente prometer que, se a série acabar com o Samwell velho refletindo sobre o trabalho da sua vida e dizendo “Ou, como você sabe, Um Jogo de…”, vamos negar para sempre que assistimos essa série, igual aconteceu com Lost? Fora toda a metafísica, Sam entra escondido na cela onde Jorah Mormoth está lentamente sendo devorado por escamagris e faz um peeling doloroso e melequento, que é outro ponto alto do episódio porque não envolve um conselho de guerra, e é tipo um momento dramático e visceral de alguém fazendo uma tatuagem. Só que ao contrário. Eca.
Vamos da cena de Verme e Missandei para uma tomada de uma mão enfiando um livro na prateleira, depois vamos do Sam cutucando uma ferida cheia de pus para um camponês aleatório enfiando sua colher numa cremosa torta de cordeiro. E se a série inteira tivesse sido assim? Um cadáver esquisito a lá Mr. Show ou Monty Python? Talvez a gente fosse poupado de assistir sequências explicativas como a da Arya descobrindo pelo Hot Pie que seu irmão Jon é (suspiro) Rei do Norte. Então Arya sai galopando para onde o enredo a chama, topando com um lobão de CG no caminho. Beleza que eles estão economizando orçamento para as grandes cenas de batalha, mas tenho certeza que Andy Serkis podia ter investido um pouco mais aqui.
Das cinzas às cinzas, do pó ao pó, das serpentes à areia
Depois de duas cenas sem um conselho de guerra, que tal… um conselho de guerra? Qual é a desses conselhos de guerra todos? Nesse conselho, Jon Snow descobre por um corvograma do Sam que tem um monte de vidro de dragão embaixo de Dragonstone — que acho que já devia ser óbvio pelo nome do lugar, mas essa é uma série onde “eu li num livro” é cada vez mais tratado como reviravolta de roteiro. Jon decide, contra o conselho do gabinete inteiro, mesmo da futura Melhor Atriz (e atual Pior Bruxa) Lyanna Mormont, aceitar o convite de Tyrion, deixando a Sansa no comando de Winterfell.
É meio desconfortável ver as rusgas da pequena família Stark se desenrolarem na frente de todos os vassalos. É como quando a mãe do seu amigo briga com ele na sua frente. Não é assim que você fala umas verdades respeitosamente na frente dos seus tenentes. É assim que você fala umas verdades respeitosamente na frente dos seus tenentes. Antes de partir, Jon Snow visita a cripta da família, onde faz uma coisa que infelizmente pouquíssimas pessoas fizeram nessas seis temporadas de maquinações bizarras, escrotas e óbvias do Littlefinger — dá um safanão nele. Dizem por aí que o Jon Snow não sabe de nada, mas parece que ele sabe uma coisa: quando alguém fala tudo com uma voz afetada que às vezes descamba para um inexplicável sotaque irlandês, ele está mentindo.
Falando em sotaques inexplicáveis, passamos para as Serpentes de Areia tendo uma discussão pentelha sobre mães e matricídio enquanto navegam com Ellaria e os irmãos Greyjoy. Mas não se preocupe. Como somos um público muito comportado, o conselho de guerra foi cancelado. No lugar a gente tem uma batalha marítima sem precedentes, cheia de efeitos especiais e um número de mortos de um episódio da segunda temporada. E foi assustador também, com Euron (que, como já foi apontado, parece ter sido reescalado como o mesmo ator) interrompe um encontro quente entre Yara e Ellaria com um ataque surpresa fálico.
As cenas de batalha de Game of Thrones geralmente mostram o caos puro e desorientador da guerra. Enquanto o avanço dos homens de Euron contra a armada foi meio difícil de acompanhar, a zona não linear foi bem convincente. Theon foge a nado (Alfie Allen é feito de madeira por acaso?) enquanto sua irmã é feita prisioneira com Tyene e Ellaria Sand. As outras duas Serpentes de Areia morrem violentamente, com Nymeria finalmente aprendendo por que você não traz um chicote para uma briga de facas. As Serpentes de Areia não eram as personagens mais populares da série, mas a gente também não queria isso. E o que é pior, Ellaria e Yara estão em posição de dar informação valiosa sobre os planos de Daenerys de atacar Casterly Rock.
Tudo parece perdido — mas a prévia do próximo episódio prometeu que aquele momento inevitável, 63 episódios depois, chegou. Jon Snow deve compartilhar suas informações com Daenerys. O conselho de guerra dá, mas o conselho de guerra também tira. Louvado seja o conselho de guerra, porque o conselho de guerra é eterno.
Trabalhos recentes de J.W. McCormack apareceram no Conjunctions , Culture Trip , New York Times e New Republic .
Tradução: Marina Schnoor