Qualquer novo festival brasileiro cujo foco principal é o hip hop é visto com um mínimo de desconfiança pelos locais. Nomes consistentes como o Sons na Rua (em SP) e o Batuque (de Santo André) são a exceção que confirma a regra: em geral o que se espera é um alto grau de desorganização e, claro, uma boa rodada de cancelamentos. Por isso que não foi estranho uma galera ficar com a pulga atrás da orelha quando o Cena anunciou a substituição de última hora de Young Thug pelo Migo Quavo (com a desculpa de que aquele tinha um casamento da irmã para comparecer – era um casamento de emergência!?) – mas qualquer dúvida se dissipou ao vivo.
O Cena mostrou-se quase a antítese dos festivais: limpeza top, horários certos sem atrasos, tranquilidade em relação ao tratamento do público (ao menos não presenciamos nenhuma treta, mas vai saber), e, acima de tudo, um esmero grande na qualidade de som e imagem, com direito a efeitos especiais e a sacada de usar telões verticais nas laterais do palco, fazendo dos MCs maiores que a vida. E o público não decepcionou, mesmo com a troca do artista principal do line-up (de João Gilberto pra Jorge Vercilo do trap): montou-se sem parcimônia, usando os melhores subterfúgios à mão para garantir a selfie mais cobiçada. Eram e-girls, trap boys, playboys, uma ou outra loira odonto, toda a timeline do Instagram do Afropunk – a única coisa que não tinha na platéia era gente com mais de 40 anos (tirando o Ice Blue que parecia bem à vontade flanando entre a juventude).
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Quavo fechou a noite no palco CENA2k19. Foto: Victor Hugo Augusto / VICE
No palco, gerações bem pouco mais velhas abriam espaço para os novos nomes do trap nacional. Djonga, BK e Negra Li brindaram quem teve a coragem de chegar cedo com seu alento musical para um sol inclemente. Depois que Black Alien fez a transição da luz para o breu (uma pena o fim do horário de verão do qual o festival se beneficiaria muito), os gatos chegaram pardos. Dos jovens no palco principal do festival, Sidoka impressionou pelo domínio absoluto do gigantesco palco, que intimidaria qualquer artista menos espevitado, enquanto a Recayd Mob montou uma apresentação bem hip hop, chamando diversos convidados, com direito a uma mini-apresentação do mini-trapper e sensação paulistana MC Caverinha (portando bag da Gucci e tudo).
Pai dela flertando com a flecha na performance da faixa “Pétalaz”. Doka! Foto: Vinicius Trigo / VICE
Quavo, o único a atrasar no fim, fez talvez o show mais burocrático da noite, estilo clube, cantando 30 segundos de cada música, vestindo a camisa do Neymar, soltando faixas alheias e interagindo no sapatinho – saiu do palco sem se despedir, quase uma ofensa para o público brasileiro. Mas àquela altura, às 3h da matina, ninguém também tava com muita vontade de reclamar, a preocupação era voltar pra casa, em paz e feliz. A organização informou que o público foi cerca de 15.000 pessoas.
Saque mais fotos e GIFs abaixo:
Bem real slime, Yunk Vino lotou o show no Palco Orloff. Foto e gif: Vinicius Trigo / VICE
Mesmo sendo “retirado” do palco antes de acabar sua apresentação, Djonga promoveu o famoso bate-cabeça de “Olho de Tigre”. Foto: Victor Hugo Augusto
Dfideliz (Recayd Mob). Foto: Vinicius Trigo / VICE