Jogar o jogo. Costuma ser assim quando se está obstinado por alguma coisa. E com a música não seria diferente. Afinal, quem quer entrar para o negócio da música tem que dar seus pulos. Com um número cada vez menor de empresários e gravadoras, o ingresso no Red Bull Music Academy pode credenciar um músico a negociar a própria música — gravar disco com suporte de terceiros e integrar o lineup de importantes festivais são algumas possibilidades.
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Em 2015, foram mais de 4.500 inscritos de 37 países disputando uma das 61 vagas para o RBMA. Foram selecionados quatro brasileiros — o melhor resultado registrado pelo país em 17 edições de RBMA. Os Estados Unidos é o país melhor representado na seleção do RBMA com oito selecionados, seguido pelo Brasil e Austrália. Isso sem contar a crescente ala feminina na Academia — dos 61 participantes, 18 são mulheres.
Você pode ouvir a música dos selecionados na playlist abaixo:
Érica Alves, Thingamajicks, DESAMPA e Luisa Puterman irão participar de oficinas, palestras e do circuito de shows durante o RBMA que acontece entre os dias 25 de outubro e 27 de novembro na Gaité Lyrique, em Paris. Enviamos algumas perguntas para os produtores por e-mail e eles contam o que esperam da experiência:
ÉRICA ALVES
Quem me falou do RBMA foi o Pedro Zopelar, que foi no RBMA ano passado em Tóquio. Ele que me incentivou a tentar esse ano para Paris. Disse que eu tinha chances de conseguir, já que uma das suas produções que tinham chamado a atenção do RBMA foi o nosso trabalho em conjunto: meu primeiro álbum To Believe, o qual ele produziu e lançou pelo seu selo, MAWW Records, em 2013. Fui apresentada a Chico Dub e ele apoiou meu trabalho, e me incentivou mais ainda a mandar a inscrição. Mandei e super rolou. Felizmente, não sou a primeira mulher brasileira a ser chamada pra Academia. A Ana Flavia foi para RBMA Roma em 2004. Mesmo assim, somos muito poucas até agora. E achei muito legal que vão bastante mulheres esse ano, inclusive mais uma brasileira, a Luisa Puterman. Temos que incentivar que mais mulheres se inscrevam!
A inscrição foi tranquila. Não achei difícil justamente porque é uma espécie anti-questionário, na verdade. Acho que a atitude que eles buscam é justamente de quem está procurando aprender, trocar experiências e compartilhar conhecimento. Fui respondendo de acordo com minha intuição. Só tem uma etapa mesmo, uma única postagem no correio. Acho que o mais “chato” é o tempo de espera pelo resultado (risos).
Eu espero uma vivência gostosa e muitas colaborações com os participantes. Depois, espero tocar, gravar e compor cada vez mais. Só a indicação para o RBMA Paris já abriu um mundo pra mim. Que venham futuros trabalhos e novo desafios!
THINGAMAJICKS
Ano passado tentei pela primeira vez e tinha ficado ansioso pela resposta. No entanto, nesse ano, estava bem mais sossegado e tinha até me esquecido da data do anúncio. O Chico Dub veio falar comigo, assim como no anterior, e resolvi tentar novamente. Não acho [a inscrição] difícil, acho, em sua maior parte, até que legal. São várias perguntas que não possuem respostas corretas, mas que, de certa maneira, demonstram a criatividade de pensamento e interesses de cada um. Fiz tudo bem em cima da hora, tentando ser espontâneo mesmo.
Acho que o mais interessante será conhecer pessoas novas de vários lugares distintos. Espero desenvolver contatos e beber muito vinho (risos). Realmente não me preocupo muito com o futuro no sentido de “carreira”. Tento fazer as coisas bem no meu tempo (ou no tempo das coisas), e desta maneira tudo vai se desenrolando sem maiores pretensões. Mas espero poder conhecer um pessoal foda nessa linguagem avançada que é a música.
DESAMPA
Neste último ano fiquei assistindo a várias lectures que tem no YouTube do RBMA e isso me motivou muito a estar fisicamente em um. E também acompanhando a edição passada em Tóquio, que me pareceu incrível, com vários músicos que eu admiro. Achei [o processo de inscrição] uma das coisas mais divertidas que fiz pra me inscrever para algo. Passei um bom tempo lendo e formulando minhas respostas. Tudo do jeito mais natural e honesto.
Espero aprender muito [no RBMA], não vejo a hora de saber quem vai dar as palestras. Espero conhecer os outros músicos incríveis, colaborar muito e me deixar levar para outros territórios que jamais iria sozinho. Depois é manter esse espírito de abertura e criatividade para o que vier pela frente. Acho que o selo do RBMA pode abrir sim portas para futuros trabalhos, depende de cada um.
LUISA PUTERMAN
É um pouco delicado [dizer que é significativo terem selecionado 18 mulheres pro RBMA], sinto que qualquer resposta pode soar meio estranha. Inclusive também porque não tenho muita informação sobre as outras edições da Academia. Mas talvez no final isso não importe, pois, ao meu ver, é o som e nossa relação com ele que constituem o centro desse processo seletivo.
A vontade de poder estar imersa em um ambiente novo e diverso, cheio de trocas e encontros sonoros [foi o que me motivou a me inscrever]. Achei a inscrição divertida! E muito bem pensada pelo RBMA. Isso não quer dizer que foi fácil, mas foi prazeroso. Retomar ideias e repensar a trajetória musical é um exercício interessante de se fazer de vez em quando. Acho que a gente sempre espera coisas boas de oportunidades como essa. E quanto ao futuro, é sempre incerto… prefiro pensar no presente! Que já é bastante coisa.
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*Colaborou Jacqueline Elise