Música

O Sentidor transpôs a depressão de ‘Memoro Fantomo_Rio Preto’ em três míni curta-metragens

João Carvalho, o produtor por trás do projeto de eletrônico experimental Sentidor — e também o guitarrista da banda de new emo/rock triste mineira El Toro Fuerte —, resolveu começar 2017 revisitando (e fechando) o disco-duplo Memoro Fantomo_Rio Preto, lançado em julho do ano passado. Pra isso, o  belo-horizontino lança uma série de três míni curta-metragens, que resumem a narrativa da depressão que ele abordou no seu último trabalho, nesta terça-feira(23) com exclusividade pelo Noisey.

A série trazem clipes para as faixas “Rio Preto IV”, “Nascer do Sol, Janeiro” e “Os Momentos Plenos da Minha Vida São Verdes”, três músicas escolhidas para representarem o Começo, o Meio e o Fim de um quadro de depressão (e recuperação disso) que João enfrentou enquanto estava gravando o disco (entre o final de 2015 até a metade de 2016). “Eu costumo usar imagens específicas pra tocar as músicas nos shows , então eu preparei esses três vídeos pra serem tipo um resumo da parada”, explicou Sentidor. 

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Então, “Rio Preto IV”, o Começo, ganhou um vídeo com umas filmagens mais sujas e obscuras, representando os aspectos mais pesados da doença. “Eu filmei o primeiro vídeo no fim de 2015, quando viajei pra Alemanha sozinho na época em que a crise tava começando a me pegar, por isso o vídeo é a crise em si mesmo”, falou João. Já o de “Nascer do Sol, Janeiro” foi filmado realmente em janeiro durante o amanhecer numa estrada do Paraná. “Apesar de ser uma música tensa, sinto que funciona como uma transição para o terceiro clipe, o de ‘Os Momentos…’, que é uma música meio de resolução das questões e de calmaria mesmo, de quando eu já estava melhorando, e que foi gravado na estrada de São Paulo pro Guarujá na turnê do Jonathan Tadeu do ano passado.” 

Os três vídeos foram gravados meio que “toscamente” pelo João e todos têm a intenção de representar uma pessoa olhando pela janela. “Gostei de fazer por conta própria os clipes porque caba sendo um processo de criação parecido com o da música. Tem os meus mesmos tiques, essa coisa de ser tudo muito explorativo e acho que o Sentidor tem um pouco dessa vibe no som também, daí eu sinto que ficou um trabalho de documentação coeso”.

Outro motivo que fez João gravar esses vídeos pro Sentidor foi porque na época ele tava fissurado em cineasta lituano radicalizado estadunidense Jonas Mekas, que fazia tipo uns diários em vídeo da vida dele e dos amigos dele. “É um negócio muito despretensioso (pelo menos era a intenção) e muito bonito, de gravar o cotidiano e foi meio que isso que eu tentei fazer aí”, disse João. “E ele montava os filmes dele meio aleatoriamente, porque sentia que  não conseguia entender a ordem das coisas na vida dele e achava que assim conseguiria descobrir sentido nas coisas. Acho que eu passei um pouco por esse processo na produção (musical e visual) do Memoro Fantomo_Rio Preto“.

Apesar de ter gravado esses vídeos há algum tempo, João conta que demorou para resolver editá-los e lançá-los justamente porque demorou conseguir colocar o todo seu trabalho em ordem — o que só se tornou mais possível depois que ele se recuperou quase que totalmente da depressão. “Quando resolvi voltar a mexer neles, no final do ano passado, percebi que a narrativa já era uma coisa bem menos confusa pra mim, que eu já entendia o que tinha acontecido, olhar pras músicas e pros textos de uma forma diferente e que eu precisava finalizar essa experiência”.

E, depois de dizer adeus ao Memoro, João já está se preparando pra lançar o terceiro disco do Sentidor, que deve sair em março pelo selo inglês Sounds and Colours (que inclusive colocou o Memoro Fantomo_Rio Preto na sua lista de melhores discos latino-americanos de 2016). 

Assista aos três míni curtas abaixo: